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Análise do Mercado – 29/07/2011

O cenário do mercado financeiro global mantém o ambiente fortemente incerto e com movimentos contraditórios, num desordenamento profundo e com riscos para todos os ativos…

O cenário do mercado financeiro global mantém o ambiente fortemente incerto e com movimentos contraditórios, num desordenamento profundo e com riscos para todos os ativos.

Europa, que havia imaginado ter arrefecido as pressões sob os países periféricos com relevantes problemas de desequilíbrio fiscal a partir de um questionável arranjo do endividamento da Grécia, e, “salvo” o Euro dos questionamentos em torno de sua resistência ao quadro de deterioração, retoma a convivência com as incertezas antecedentes, com as agências de rating até entendendo que o risco grego aumentou, e, generalizando-se, outra vez, o risco de contágio para as demais economias do bloco.

Hoje a agência Moody´s colocou em revisão a nota da Espanha, para possível rebaixamento, e há pouca possibilidade de evitar que Portugal e Irlanda não sejam recorrentes a maior ajuda.

Enfim, nada melhorou no Velho Continente, aliás, há grande risco de piorar.

Nos Estados Unidos, o impasse presente no Congresso parece não encontrar uma saída. A Câmara iria votar proposta republicana, maioria, na noite de ontem, mas a votação foi retirada por falta de consenso, embora, fosse tida como certa a recusa pelo Senado, onde os democratas tem maioria, e por ultimo, era sabido que na forma posta sofreria veto do próprio Presidente Obama.

O Congresso americano dá uma demonstração ao mundo de sua incompetência e absoluta perda da sensatez que pode colocar o seu país, Estados Unidos, numa situação extremamente desgastante no cenário mundial, onde é considerado o mais elevado conceito de risco.

O final de semana continuará tendo intensa atividade dos políticos americanos, mas já predomina uma percepção de que o imponderável poderá efetivamente ocorrer, porém não se consegue vislumbrar com clareza as consequências imediatas, visto que o mundo parece que nunca esteve preparado para uma ocorrência desta magnitude.

Para acentuar ainda mais o humor negativo, o governo americano informou que o PIB do 2º semestre alcançou pífios 1,3% anualizados, absolutamente desapontador ante as projeções de 1,8%.

As bolsas mundiais operam em baixa, e as bolsas americanas devem registrar “sell-off” e volatilidade, já que investidores devem fortalecer a migração para ativos de segurança, menor risco, e, também reforço do caixa, preservando liquidez.

Pois mais contraditório que pareça, dada a situação de possível e imediato “default” americano por falta de aprovação do novo teto de endividamento, acentua-se a demanda pelos títulos do Tesouro americano, os T-Bills, que se valorizam e vão fechando suas curvas de juros “yeld” como consequência equivalente, exceto os de curto prazo (3 meses), cuja remuneração é irrisória revelam discreta alta.

Este fato decorre da percepção de que o problema americano é de curto prazo, não se questionando suas perspectivas futuras.

Hoje os títulos americanos de 10 anos já fecharam a curva de juro “yeld” de 2,95% para 2,85% logo na abertura dos negócios.

Como consequência deste movimento em direção aos T-Bills americanos, o dólar sustentou valorização frente ao Euro nos últimos 2 dias, o que se repetia hoje mais uma vez na abertura, porém agora passou a revelar volatilidade, alternando comportamento, provavelmente repercutindo o anuncio do decepcionante crescimento do PIB americano no 2º trimestre.

A CNN colocou em sua matéria um questionamento:

Where to put your money in case of default ?

O mundo e os próprios americanos estão respondendo, em títulos do Tesouro americano, pois, nada ainda é melhor do que eles para refúgio em tempos de incertezas, salvo para alguns investidores mais argutos, que buscam salvaguarda no ouro.

Nos parece certo que, ainda que se alcance um acordo antes de 2 de agosto, as agências de rating deverão ter uma atitude negativa em relação a nota dos Estados Unidos, pois ficou bastante evidente que o Congresso americano e o próprio governo tem grande dificuldade de “administrar” o expressivo endividamento do país, que só ocorre sem disputas políticas, quando o Presidente tem maioria na Câmara e no Senado. Este é um fato que não poderá deixar de ser sinalizado pelas agências.

Como as reservas cambiais mundiais estão acentuadamente aplicadas em títulos do Tesouro americano, bem como parte substantiva dos recursos dos fundos de investimentos, mesmo que a nota de rating dos Estados Unidos venha a ser rebaixada não se espera que ocorra pressão desvalorizando os mesmos, já que não interessaria aos detentores.

Contudo, os investidores dos fundos poderão fazer opção momentânea pela liquidez, havendo então alguma pressão de resgates e este fato pode provocar perturbações.

No Brasil, continuam as dificuldades operacionais, tanto no mercado físico a vista quanto nos mercados futuros, onde estão os derivativos, foco das mais recentes medidas do governo e que estão provocando difusos entendimentos e busca de entendimento para a aplicabilidade do tributo, a partir do qual poder-se-á aferir os custos e o encarecimento das operações.

Todos os mercados operam com dúvidas e portanto, quando estas estão presentes os preços e indicativos podem sofrer distorções nem sempre sustentadas por fundamentos, mas sim no natural processo de auto-defesa ante o ainda não totalmente conhecido.

Hoje é dia do PTax e como o mercado de derivativos ainda tem os “hedge funds” detendo expressivas posições vendidas especulativas liquidas totalizadas em US$ 21,0 Bi, deverá ocorrer um movimento procurando impor apreciação ao real, que lhes interessa muito, já que as altas dos últimos 2 dois dias foram contra os seus interesses. Operações de balcão ainda não tem transparência.

Este movimento indutor à apreciação do real, a despeito da baixa liquidez e o desconforto operacional presente nos mercados, tende a ocorrer pela manhã, período das 9hs às 13hs, quando são obtidas as taxas junto aos “dealers” pelo BC para apurar, por média aritmética, a Ptax do dia, que prevalecerá nas liquidações ou ajustes das posições de derivativos.

Não se deve descartar que a taxa cambial praticada até às 13hs não se sustente após este horário, pelas razões pontuais que apontamos.

Há uma “massa crítica negativa” muito presente no mercado às medidas recentes do governo, até com uma “ponta de maldade” provocativa querendo confrontar os “poderios” do Ministro Mantega com o Presidente do BC, Tombini, mas o fato é que decisões desta natureza saem de comum acordo e com a prévia aprovação da Presidenta.

A rigor, o CMN, desde a Lei 4.595 de 1964 que é a “espinha dorsal” dos recursos externos no país, já detinha poderes intervencionistas e regulatórios nos mercados, sendo que a MP 539 de 26 ultimo só os ratifica e inclui objetivamente os “derivativos”, que eram o foco principal da medida.

Ocorre que, o governo permitiu que os mercados futuros evoluíssem com um mínimo de regulatório e muito de auto-regulatório, porém, ao observar que ao se auto-regular poderia estar ocorrendo alguma fragilização no rigor quanto a dimensão de posicionamentos com fortes exposições a riscos, face ao presente cenário mundial, e, além disto, artificializando os preços da moeda americana no nosso mercado, decidiu “reavivar” os poderes que o CMN já detinha e incluir os derivativos, trazendo para si o comando regulatório.

A experiência vivida naquele ambiente de derivativos na crise de 2008, justifica plenamente as medidas adotadas como prudenciais face aos riscos, e, técnicas-operacionais indiretas pois com o tributo busca-se a inviabilização dos movimentos especulativos exacerbados que apreciam o real além do que seria natural como decorrência da macro-economia global.

Manifestação do Presidente do BC reproduzida no jornal O Estado de SP de hoje, deixa bem evidente a visão preventiva da medida, evitando mencionar a contenção da especulação que aprecia o real, mas que esta subjetivamente envolvida na precaução:

“O banco central tem agido no sentido de conter os possíveis desdobramentos, possíveis riscos que uma entrada seja de fluxos ou de posições na moeda brasileira pode representar (grifo nosso), então tem agido no sentido de conter esses fluxos, atuando sobre as posições vendidas dos bancos, agora essa medida sobre a exposição nocional em derivativos”, expôs Tombini

É incontestável que a medida impactará na formação do preço da moeda americana, “descontaminando-a” em grande parte das pressões especulativas oriundas do mercado de derivativos, que a tornaram, nos últimos anos, no mercado físico a vista praticamente refém dos seus indicativos.

O foco da medida é a alavancagem que ocorre naquele mercado, que acaba por negociar de 4 a 5 vezes, no curto prazo, o volume do mercado físico a vista, situação contrária aos cenários mundiais, o que deixa claro que predomina a especulação demasiadamente acentuada e não o “hedge”, que acaba sendo mínimo.

É previdente não menosprezar os efeitos da medida, não que vá supervalorizar o preço da moeda americana, mas tende a permitir uma melhor formação do preço aumentando a influência do mercado físico a vista.

No nosso entender o preço da moeda americana equilibrada face aos fatores reais que a influenciam deve se situar no entorno de R$ 1,60.

E é previdente também não se equivocar e considerar como natural a queda do dólar ante uma moratória, visto que o que estamos assistindo é uma intensificação de demanda de T-Bills americanos como “fuga para a qualidade”, por mais paradoxal que pareça, e, num cenário de agravamento de crise combinada Estados Unidos e Europa, a opção pela segurança supera os atrativos da rentabilidade, e, ainda, nestas situações grande parte dos investidores podem optar também por elevar a liquidez em caixa.

Esta, nos parece também é a percepção do governo, pois pode haver um movimento de saída de recursos do país, a exemplo de 2008, impactando no preço da moeda americana e provocando agravamento rápido dos riscos até a consumação de perdas relevantes.

 

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