Ufa! Que final de mês no mercado de câmbio aglutinando inúmeras variáveis influenciando a formação do preço da moeda americana, a ponto de conduzir ontem o preço “spot” a ficar superior ao preço futuro, o que num cenário global seria até…
Ufa! Que final de mês no mercado de câmbio aglutinando inúmeras variáveis influenciando a formação do preço da moeda americana, a ponto de conduzir ontem o preço “spot” a ficar superior ao preço futuro, o que num cenário global seria até possível, mas no Brasil que tem inflação e juros elevados é inesperado e ilógico.
Há demanda efetiva decorrente da saída de investidores da BOVESPA, e, também em razão do início da ocorrência dos vencimentos dos empréstimos externos de curto prazo, parcela relativa aos prazos de 91 dias, ingressados no 1º trimestre deste ano que atingiram na totalidade de inúmeros prazos US$ 31,0 Bi, e, cuja rolagem ficou inviável com a incidência do IOF de 6% se for realizada em prazo menor do que 2 anos.
Há também uma queda relevante na liquidez do mercado físico, bastante contingenciado em volume de ingressos desde a aplicação do IOF de 6% nos empréstimos de curto prazo, o que dá transparência e desmente a contumaz retórica de que o fluxo cambial é intenso para o Brasil e que esta seja a razão da apreciação do real. Esta queda impactou no mercado de cupom cambial-DDI elevando substantivamente as taxas de juros em dólares, causando transtornos a este mercado localmente e nas praças externas que operam no mercado real/dólares com os NFD (“Non-Deliverable Forward). A queda de liquidez fortalece o preço da moeda americana.
Focando aliviar esta pressão no mercado de cupom cambial-DDI o BC sondou o mercado para a realização de oferta dos instrumentos financeiros “swaps cambiais reversos”, que se presta a este fim, mas na ponta final, dada a sua formulação remuneratória onde os bancos ganham juro e o BC a variação cambial positiva, motiva forte ação dos bancos e demais “players” induzindo a apreciação do real, de forma a transformar a variação cambial em negativa e assim conquistarem duplo ganho, juro e variação cambial.
Ocorre que, quando o BC sonda a colocação deste tipo de instrumento e não o faz de forma imprevista, os bancos, em especial, tendem a apreciar o preço da moeda americana para que se estabeleça um preço mais favorável na concretização das transações, deixando um “gap” para que ocorra a apreciação do real posteriormente. E isto, também motivou a elevação do preço da moeda americana.
Há também um forte posicionamento “vendido” dos principais bancos do mercado de câmbio, que em realidade não são mais do que 5 ou 6, aproximadamente com um montante de US$ 15,0 Bi, e que, provavelmente, estejam muito próximos dos limites normativos em que não ficam sujeitos a depósitos compulsórios, o que restringe a capacidade de venda dos mesmos. Mais um fator de pressão altista.
Tudo isto levou ao descompasso observado com enorme pressão no mercado de câmbio e com a distorção na formação do preço à vista e futuro da moeda americana.
Mas, quando o dólar recupera, ainda que discretamente, o preço, os exportadores, detentores de substantivo estoque de dólares no exterior consequentes de transações já liquidadas, entram no mercado e ofertam seus dólares e aliviam um pouco as pressões oriundas da baixa liquidez.
Mas hoje, último dia do mês, é dia da formação da PTax, taxa mediana das transações do dia, e que é utilizada para os ajustes no mercado à vista futuro/derivativos e em inúmeros contratos atrelados à variação cambial.
Numa ponta temos os bancos. Posicionados “vendidos” no mercado físico em montante próximo de US$ 15,0 Bi, porém liquidamente “comprados” no “cupom cambial-DDI” em US$ 6,3 Bi e no ” futuro de dólar” em US$ 6,4 Bi, ou seja US$ 12,4 Bi no total “comprado” versus US$ 15,0 Bi “vendido”.
Na outra ponta, em especial, os “hedge funds” liquidamente “vendidos” no “cupom cambial-DDI” em US$ 7,3 Bi e no “futuro de dólar” em US$ 9,1 Bi, totalizando US$ 16,4 Bi “vendidos”.
Com estes cacifes “comprados” e “vendidos” se defrontam na disputa habitual de final do mês, e é natural esperar-se que os “vendidos” procurarem afundar o preço da moeda americana impondo forte apreciação do real, mas neste final do mês há outros fatores segurando o preço e o BC não tornou efetiva oferta de “swaps cambiais reversos”. Por isso, há um viés de queda hoje, mas menos intenso do que se poderia esperar.
Este aperto no mercado de “cupom cambial-DDI”, em especial, coloca um risco de perda muito presente para os “hedge funds” que estão vendidos que, para conseguir reduzir suas posições, vão ter que recorrer aos “bancos” que estão comprados.
Não sabemos qual foi o resultado da sondagem do BC junto ao mercado a respeito dos “swaps cambiais reversos”, mas tudo indica que os bancos não tenham demonstrado interesse, pois estão em posição de vantagem neste jogo.
Os agentes do mercado de câmbio sabem que o dólar em perspectiva não tem condição de sustentar tendência de alta e que o que se verifica no momento é pontual. Nem os bancos com suas posições “vendidas” exuberantes no mercado físico e, a bem da verdade pelo que notoriamente está explícito na atuação do BC, nem ao governo interessa uma apreciação sustentável do dólar.
A ATA do COPOM divulgada ontem, vem permitindo ilações as mais diversas, dependendo do interesse deste ou daquele setor. Alguns consideram que a alta do juro continuará firme e que haverá “x” ou “y” eventos de elevação a percentuais variando entre 0,25% e 0,50%.
Percebemos, contudo, que poucos consideraram que a citação de que o aumento do juro deverá ser “suficientemente prolongado”, pode representar “retardado” até que o governo possa ter sinais efetivos da repercussão na economia das medidas adotadas e que salientou que a transmissão para os preços ainda não está ocorrendo, e, também que, claramente, o governo aderiu a utilização do “real apreciado” como fator de ponta para conter as pressões inflacionárias, até porque estas advém com predominância da elevação dos preços das “commodities”.
Nos parece que as “leituras” fizeram prevalecer o anseio presente do mercado financeiro, e, pode não ter sido realizada de forma correta. Isto ficou claro no mercado de juros onde foram elevados no curto prazo e reduzidos no longo prazo.
Continuamos convictos que estes fatores são pontuais, e que o real continuará, de forma sustentável, apreciado, por ser do interesse do governo tanto quanto dos bancos.
Não fosse assim, os critérios normativos para “posições vendidas” dos bancos, com efeitos multi-colaterais em inúmeros vetores do mercado de câmbio como um todo e até no financeiro, seriam revistos pelas autoridades monetárias.