Câmbio News

Análise do Mercado – 03/05/2011

O Brasil pode estar perdendo parte do “charme” perante os investidores do mercado externo, que estão identificando perspectivas melhores em outras economias emergentes, que revelam tendência de crescimento, baixa pressão inflacionária…

O Brasil pode estar perdendo parte do “charme” perante os investidores do mercado externo, que estão identificando perspectivas melhores em outras economias emergentes, que revelam tendência de crescimento, baixa pressão inflacionária, juros mais estáveis e menor grau de incertezas.

O Brasil “colonial” exportador de “commodities” vem sustentando a pauta exportadora, num ambiente decadente para a indústria que se vê ameaçada pela concorrência externa no mercado interno e pela absoluta perda de competitividade para exportar. Ainda construímos saldos positivos na balança comercial, tendo em vista que até então a economia brasileira mantém ganho em termos de preços de troca, as “commodities” tiveram seus preços elevados em proporções altamente maiores do que os produtos importados, muito embora no último quinquênio o volume de vendas externas tenha crescido tão somente 4,4% ante um exuberante 94,0% nas compras externas.

A indústria, com as portas externas praticamente fechadas pela taxa cambial que inviabiliza suas vendas e com o mercado interno tendente à demanda menor, já emite sinais de preocupação, tendo crescido 0,5% na comparação de março com fevereiro antecedente, mas uma queda de 2,1% na comparação com março de 2010, a 1ª queda desde outubro de 2009.

As “commodities” podem não sustentar preço em alta e reverter a tendência da curva se a economia mundial não confirmar recuperação das grandes potências e a gigante China reduzir sua dinâmica de crescimento, enquanto, por outro lado, os produtos importados já agregam reajustes de preços devido à inflação presente em quase todas as economias.

Assim, os termos de troca da economia podem ser afetados e o desempenho da economia brasileira poderá ter reflexos negativos.

Uma mudança no comportamento da visão externa sobre o país pode vir a ser preocupante, num ambiente que já indicava para este ano a queda da atividade econômica dada à insustentabilidade do crescimento verificado em 2010, tendo em vista não ser possível a preservação da “matriz” de gastos excessivos com baixa qualidade, política fiscal frouxa e consumo interno estimulado por crédito farto e de fácil acesso, que na ponta final, por ter tido retardada a mudança, provoca a atual pressão inflacionária crescente contida com juro em perspectiva de alta e a necessidade da manutenção do dólar depreciado.

A atratividade do país afunila-se então para a rentabilidade do juro que proporciona que, contudo, teve o fluxo de ingressos contido pelo IOF, que acabou por afetar também as aplicações de longo prazo.

Já não há o tão decantado fluxo cambial intenso, o ocorrido fluxo de US$ 35,0 Bi, dos quais US$ 31,0 Bi de natureza financeira, no 1º trimestre foi um “drible” no aumento dos depósitos compulsórios determinados em dezembro passado, dado por bancos e empresas com a utilização da “janela” que ficou aberta para a entrada de captações de empréstimos externos de curto prazo, tendo sido injustificado o euforismo à época, pois não se tratava de ação de investidores buscando rentabilidade no país.

O fluxo cambial financeiro tende desde abril a ser negativo, quebrando o “encanto” de que é fluxo massivo que detona a apreciação do real, deixando evidente que este fato no Brasil está desconectado do fluxo, mas sim decorre da ação contumaz do BC no mercado de câmbio retirando do mesmo volumes maiores do que os saldos positivos e assim fomentando as posições “vendidas” dos bancos, grandes aliadas do objetivo efetivo da política monetária do governo de manutenção do dólar depreciado como “antídoto” as pressões inflacionárias, em papel compartilhado com a taxa SELIC.

Sendo esta uma prática já existente no mercado de câmbio desde o governo passado, há o entendimento de que o viés de apreciação do real é a tendência por ser objetivo da política cambial aliada à política monetária, e assim, os “players” atuam nos derivativos apostando contra o dólar.

Mas este jogo começa a não ser tão favorável e inspira cuidados, por isso o real está também perdendo “charme” como apropriado para a larga e fortíssima especulação interna e externa a que foi submetido.

O mercado de câmbio brasileiro, com a diminuição do fluxo de ingressos, começa a ficar com a sua liquidez estreita e isto provoca efeitos no mercado de derivativos, provocando efeitos especialmente no cupom cambial-DDI, o juro brasileiro sobre dólares.

O BC, então, oferta no pico do aperto os instrumentos financeiros “swaps cambiais reversos”, alivia a pressão momentânea no “cupom fiscal-DDI” que, contudo, não é duradoura por muito tempo, e, na ponta final, quando dos vencimentos destes instrumentos, dada a sua forma remuneratória criam um viés de apreciação do real, independente do que estiver acontecendo com o fluxo cambial.

Isto cria uma certa volatilidade, até porque os bancos principais, que representam quase 80% do mercado, já estão também próximos dos limites máximos de suas posições “vendidas” não sujeitas ao compulsório, e assim precisam eventualmente de cobertura para continuar dinamizando suas atuações no mercado de câmbio físico.

Com perspectivas de um déficit expressivo em transações correntes, a expectativa favorável fica nos IED´s, contudo é preciso considerar que uma economia em retração representa menor demanda interna, já que poderemos crescer tão somente a metade do ano passado, e preço do dólar depreciado pode desestimulá-los no setor produtivo voltado a exportar, dado o baixo preço de conversão do dólar afetar a competitividade.

O momento não sugere euforia, mas sim reflexão para que o Brasil não erre o caminho, já que os “ventos que ventaram favoravelmente nos últimos anos podem estar mudando de rumo”!

 

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