Análise do Mercado – 28/04/2011

O mercado de câmbio sustenta na abertura o comportamento verificado ontem, quando ocorreu discreta valorização da moeda americana.
Tendência de mudança de rumo?…

O mercado de câmbio sustenta na abertura o comportamento verificado ontem, quando ocorreu discreta valorização da moeda americana.

Tendência de mudança de rumo?

Entendemos que não. Há duas razões pontuais que podem estar determinando este movimento, que consideramos pontual:

o BC sonda o mercado para colocação de “swaps cambiais reversos”, e o efeito imediato de curtíssimo prazo promovido pelos bancos é de elevação do preço do dólar para que as operações efetivadas sejam registradas num piso acima do prevalecente, permitindo assim, que fique um “gap” para apreciação posterior do real que assegure o duplo ganho representado pelo juro estabelecido e a variação cambial, que assim ficaria negativa para o BC; e/ou;
os limites de “posição vendida” dos bancos mais atuantes estaria rondando o esgotamento permitido pelas normas do BC, e a demanda presente no mercado estaria sendo fortalecida pela intensificação de saída de investidores da BOVESPA, que está tendo comportamento contrário ao das bolsas externas.

Não vemos outras razões e nem acreditamos que ocorra recuperação sustentável do preço do dólar, já que os “swaps cambiais reversos” no ato de sua colocação provocam efeitos sobre o juro no mercado de cupom cambial e os bancos “puxam” a taxa do dólar, porém posteriormente tem efeito intenso pró-apreciação do real.

Da mesma forma, um eventual esgotamento dos limites definidos pelo BC para as posições “vendidas” dos bancos, sem serem atingidas pelo recolhimento de compulsório, acaba sendo aliviado, pois exportadores sempre comparecem ao mercado ofertando dólares a qualquer sinal de melhora de preço da moeda americana, e, assim, acabam restabelecendo espaço nos limites das posições “vendidas” dos bancos, tornando o evento puramente pontual, não sendo razoável admitir-se que os bancos com uma exposição “vendida” no mercado físico em torno de próximos US$ 15,0 Bi permitiriam a apreciação sustentável da moeda americana, que iria contra seus interesses.

No nosso ponto de vista, o viés do preço da moeda americana é de baixa, com eventuais ocorrências de volatilidade. A “banda” do dólar deverá situar-se entre R$ 1,55 a R$ 1,60, mais tendente à menor.

Nossa percepção é de que o BC está utilizando o real apreciado como instrumento relevante na estratégia de contenção das pressões inflacionárias o que lhe permite ser mais comedido com as altas da taxa SELIC, muito embora o MF mantenha discurso propagando o interesse em apreciar o preço da moeda americana.

Se o objetivo efetivo fosse recuperar o preço da moeda americana, ainda que não lograsse uma valorização tão substancial quanto desejam os exportadores, o BC normativamente reduziria acentuadamente os limites de posições “vendidas” dos bancos, que causaria múltiplos efeitos na liquidez de reais de curto prazo que irrigam o mercado financeiro, no mercado de derivativos, no viés sustentado de apreciação do real, etc.

Muito ao contrário, o BC tem mantido este canal privilegiado de captação de recursos de curto prazo aos bancos, o que conspira contra a idéia de que pretende apertar a liquidez para atingir o crédito que impulsiona o consumo e, também, fomenta a apreciação sustentável do real.

E detalhe relevante deve ser destacado: a captação destes dólares com a utilização de linhas externas que dão suporte às posições “vendidas” não impactam no fluxo cambial, por isso não causam “ruídos” e os efeitos são intensamente contundentes, e por serem pouco transparentes à grande maioria, torna-se possível a sustentação errática de que a causa da apreciação do real é o fluxo cambial positivo, que na realidade é totalmente esterilizado no mercado pelo BC.

Como temos destacado, consideramos que a despeito do “intenso ruído” o governo ainda não se afastou muito do “status” assumido inicialmente. Os ingressos de moeda estrangeira de curto prazo da ordem de US$ 31,0 Bi, antes da aplicação do IOF, neutralizaram os efeitos do aumento dos depósitos compulsórios definido nas medidas prudenciais de dezembro. O câmbio continua na mesma, foram dificultadas operações especulativas e impostos tributos, mas foram preservadas e estimuladas, pelas compras diárias do BC em volumes acima do fluxo, em limites muito elevados as posições “vendidas” permitidas aos bancos, que são forte indutoras da apreciação do real, tem forte impacto nos derivativos e irrigam com o equivalente em reais a adicionais US$ 14,5 Bi, posição em 18, a liquidez do mercado financeiro, sem sujeitar-se a tributos, impulsionando o crédito e o consumo.

Como o BC compra todo o fluxo positivo e habitualmente mais do que o mesmo revela, a contenção tardia do fluxo de recursos de curto prazo, com a aplicação do IOF de 6%, provoca baixo efeito na formação do preço da moeda, reduzindo contudo o volume de compras que o BC teria que realizar, com elevado custo de carregamento.

A ATA do COPOM permite a ilação de que o preço do real apreciado é o pendulo no controle da inflação que permite a gradualidade no ajuste da taxa SELIC sinalizada no texto:

“A maioria do Comitê entende que um substancial esforço anti-inflacionário já foi introduzido na economia no último quadrimestre e que há defasagens no mecanismo de transmissão desse esforço para a atividade e para os preços, o que, associado à decisão de se prolongar o ciclo de ajuste, recomendaria uma reavaliação da estratégia de política monetária”

Continuamos entendendo que são imprescindíveis novas medidas macro-prudenciais elevando os depósitos compulsórios para retirar a liquidez reposta pelos empréstimos externos de curto prazo da ordem de US$ 31,0 Bi que “furaram” os objetivos das medidas antecedentes de dezembro e promovesse nova redução dos limites de posições “vendidas” dos bancos.

Identificamos nestes pontos razões para que a demanda persista robusta, como salientou a Ata do COPOM.

A convivência com quadros opostos como inflação com viés crescente e intenção de preservar o mercado interno e o crescimento é extremamente contraditória, pois uma das duas pontas sairá prejudicada. Este deve ser o entrave para a “transmissão desse esforço para a atividade e para os preços” sinalizados na Ata do COPOM.

Uma boa notícia veio pelo IGP-M de abril, confirmando a tendência de desaceleração ao registrar 0,45%, após 0,62% em março e 1,0% em fevereiro. No ano o índice acumula 2,89% e nos últimos 12 meses expressivos 10,6%.

A expectativa global sobre a fala do Presidente do FED americano, ontem pós reunião do FOMC, não trouxe impactos relevantes como até se imaginara.

Não trouxe certezas sobre os planos do governo acerca de mudança de atitude. Num trecho salientou que “vai concluir as aquisições até o fim de junho”; noutro destacou “O FED não tem um cronograma para o começo do aperto na política monetária dos EUA” e ainda “Não sabemos com certeza com que rapidez uma resposta terá de ser necessária” e ainda, sugeriu que uma terceira rodada de compra de ativos representa um cenário de troca “menos atraente” por causa da inflação. Contudo, salientou que a intenção é manter o tamanho do balanço do FED de US$ 2,0 Tri, reinvestindo os valores dos bônus que forem vencendo.

Marcadores importantes sobre projeções foram ajustados para pior. A perspectiva de crescimento do PIB-2011 antes entre 3,4%-3,9% foi rebaixada para 3,1%-3,3% e para a inflação foram elevadas de 1,3%-1,7% para 2,1%-2,8%, acima da “zona de conforto” considerada pelo órgão que se situa no intervalo 1,7%-2,0%.

No comunicado do FOMC de ontem foi reiterado que acreditam que as taxas de juros de curto prazo permanecerão no patamar recorde de baixa por um período prolongado. Foi salientado que o setor imobiliário ainda está fragilizado e que o trimestre foi prejudicado por gastos menores que os esperados com defesa e as exportações foram fracas.

A taxa de juro foi mantida entre “zero” e 0,25% aa.

 

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