Tem inicio hoje a reunião do COPOM que ao seu encerramento amanhã divulgará a decisão sobre a taxa SELIC, que consensualmente é esperada pelo mercado financeiro com uma redução de 8,0% para 7,50%.
Contudo, a questão central focada é a expectativa sobre que indícios serão dados pelo COPOM sobre a trajetória desta taxa de juro nas reuniões de outubro e dezembro deste ano e mesmo sobre as perspectiva para o comportamento no próximo ano, já que há sinais de aquecimento inflacionário nos mais recentes indicadores.
O mercado financeiro não tem consenso sobre uma eventual queda neste ano de 7,5% para 7,0%, e, já insinua várias projeções para elevações no próximo ano motivadas pelas perspectivas que vislumbra de agravamento do cenário inflacionário, conflitando com a visão do Banco Central do Brasil que entende que as pressões inflacionárias presentes são transitórias e não se sustentarão ao longo do tempo.
Importante salientar que o mercado financeiro não tem sido muito feliz nas suas projeções mais recentes, visto que ao final do ano de 2011, portanto há 8 meses atrás, projetava para este final do ano de 2012 SELIC a 9,50%;
crescimento do PIB de 3,30% e dólar a R$ 1,75, que hoje num curto período de tempo estão muito distantes daquelas indicações, o que deixa evidente que houve baixa sensibilidade aos gravames da crise internacional que já estava presente naquela oportunidade e, que o Banco Central do Brasil conseguiu ver com muito mais antecedência
do que o mercado financeiro o agravamento prospectivo do quadro internacional, adotando medidas certeiras no tempo adequado e que, precipitadamente, foram alvo de criticas dos analistas financeiros.
Face a isto, consideramos como bastante provável que além da redução de 0,50% prevista para a reunião que se encerra amanhã, a autoridade monetária promova mais um corte de 0,50% em outubro, levando a SELIC a 7,0%. Entendemos que o COPOM estará focando a imperiosa necessidade de estímulo ao crescimento econômico e fomento dos investimentos pelo setor produtivo privado e, da mesma forma, consideramos que a redução do nível da SELIC é algo que veio para ficar, sendo que para pressões inflacionárias a opção será preferencialmente medidas prudenciais estratégicas.
Esta mudança de paradigma parece ser ainda o grande fator de desencontro entre o mercado financeiro e o Banco Central do Brasil, já que ao longo de muitos anos as pressões inflacionárias sempre foram objeto de contenção via um único instrumento, qual seja a taxa de juro.
No cenário externo o foco esta centrado no simpósio de Jackson Hole, nesta sexta feira, dia 31, que reunirá os presidentes dos bancos centrais, ao qual Mario Draghi do BCE já anunciou que não comparecerá, e que se aguarda que Ben Bernanke, presidente do FED americano, em seu pronunciamento possa anunciar o tão esperado novo QE3 com compras de papéis de longo prazo, o que injetaria recursos financeiros no mercado americano para euforia do mercado financeiro global.
Mas há muitas incertezas a respeito da efetivação ou não deste anuncio, pois o FED americano aparentemente vem sendo repetitivo nesta questão ao anunciar-se apto a fazê-lo “quando necessário”, mas sempre postergando como se estivesse evitando adotar novo programa antes das eleições presidenciais de novembro.
Ontem, o prestigioso jornal americano Wall Street Journal em matéria abordando o assunto procurou enumerar os vários tópicos que normalmente são focados sempre que o FED adota medidas nesta linha e que já envolveram até agora, desde o início da crise em 2008, compras de mais de US$ 2,0 Trilhões em títulos do Tesouro e papéis lastreados por hipotecas para estimular a economia. Ressalta que o FED acredita que isto faz baixar os juros de longo prazo, aumenta a quantidade e o valor dos imóveis e contém o dólar. E destaca que os efeitos desastrosos previstos pelos críticos acerca da inflação não se consumaram; que a estabilidade financeira não foi alterada já que os críticos apontavam que a manutenção de taxas de juros baixas por longo tempo poderiam estimular bolhas, como ocorreu com a bolha imobiliária com a queda dos juros a partir do ano 2000 e, que o dólar tenderia a desvalorizar-se favorecendo as exportações americanas, o que foi criticado pelos republicanos por entender que seria insidioso os cidadãos americanos conviverem com sua moeda desvalorizada, não consolidou esta tendência.
O que o jornal defende é que há de tudo a favor para um novo programa de incentivo, mas por outro lado, é bom lembrar que os programas anteriores causaram grandes movimentos especulativos nos mercados financeiros e de “commodities”, mas não motivaram investimentos grandiosos pelo setor privado americano e nem geraram empregos e renda, que continuam sendo os grandes entraves à recuperação da economia americana.
Portanto, há muitas incertezas quanto à efetivação ou não do novo programa e até de seus resultados, por isso há volatilidade e assim deve continuar até o dia 31.
O preço do petróleo WTI esta em alta. Pode ser que seja pela expectativa em torno do novo programa, mas há também outros fatores como a tempestade Isaac no Golfo do México; questões geopolíticas no Oriente Médio e até o incêndio em refinaria na Venezuela.
Também não se descarta que se o FED vier a adotar novo programa, o governo americano libere parte das reservas estratégicas de petróleo que detém para conter as pressões inflacionárias que uma alta do petróleo traria para o item energia, fato que neutralizaria os movimentos especulativos.
No mais, a realidade da economia global não enseja entusiasmos. A Espanha registrou piora no seu cenário recessivo no 2º trimestre retraindo 0,4% ante o 1º trimestre e 1,3% na comparação com o 2º trimestre de 2011. Na China o lucro das principais companhias industriais caiu 5,4% em julho, na comparação anual, sendo que de janeiro a julho a queda foi de 2,7% na comparação com o mesmo período de 2011.
A nossa BOVESPA opera como se o programa já houvesse sido anunciado por Ben Bernanke e que os recursos fartos tivessem o destino do Brasil. Exacerba as expectativas, afasta-se da realidade que não sugere que fluxos intensos virão para o Brasil, mesmo que o programa se torne efetivo, e depois então, como sempre, desaponta-se e deve registrar baixas.
No nosso mercado de câmbio a expectativa é sobre a decisão do BC rolar ou não as posições de “swaps cambiais” vincendas no 1º dia util do mês de setembro. Algo como US$ 4,1 Bi não rolados podem dar sustentação a uma alta “para ficar” no preço da moeda americana ao entorno de R$ 2,05, o que acreditamos não criaria nenhum desconforto para o governo/Banco Central do Brasil.