Na última semana do mês de agosto o mercado financeiro centra suas atenções a dois eventos importantes, um local, a reunião do COPOM para definir a nova SELIC, que se encerra na próxima 4ª feira e, espera-se, definições sobre as perspectivas futuras, e no exterior, o pronunciamento do Presidente do FED americano
no simpósio de Jackson Hole, Wyoming, na sexta-feira, onde se nutre expectativa de que agregue indicativos mais pontuais sobre a efetiva possibilidade do FED vir a adotar uma nova rodada de medidas focando estimulo a retomada da atividade econômica.
Nesta reunião do COPOM, opinião unânime do mercado indica redução da taxa SELIC de 8,0% para 7,50% aa. Contudo, a expectativa maior é sobre a continuidade de cortes ou não nas reuniões de outubro e dezembro próximos. Pesquisa realizada semana passada pela Agência Reuters com 39 instituições indicam que 1/3 delas acreditam que haverá novo corte de 0,50% na reunião de outubro e que assim reduzida a 7,0% finalizará o ano. E mais, 16% acreditam que a taxa permanecerá em 7,0% ao longo do ano de 2013.
O Boletim FOCUS divulgado hoje pelo BCB, com data do ultimo dia 24, contendo as projeções medianas das instituições financeiras, mantém a projeção de 7,25% para a SELIC ao final deste ano. Contudo, eleva a projeção para o IPCA-2012 de 5,15% para 5,19% e para os próximos 12 meses reduziu de 5,66% para 5,64%. Reduziu mais uma vez a projeção para o PIB-2012 de 1,75% para 1,73% e acentuou a projeção de retração da produção industrial de negativos 1,20% para negativos 1,55%. Manteve as projeções para o final do ano do US$ em R$ 2,00; da Balança comercial positiva em US$ 18,0 Bi e dos IED´s em US$ 55,0 Bi.
A FGV divulgou que a confiança da indústria apresentou avanço de 1,4% passando o indicador de 102,7 pontos para 104,1 pontos, o melhor desde julho de 2011. Contudo, na prática observa-se que esta mudança de “estado de animo” ainda não refletiu na propensão a investir, o que é fundamental para que o país possa retomar nível de atividade econômica propulsora do crescimento do PIB.
No exterior, todas as “esperanças” concentram-se na expectativa de que Ben Bernanke possa anunciar algum novo programa efetivo focado na retomada da atividade econômica. Mas, ao que parece, não há muita convicção de que isto venha a acontecer, sendo mais provável que o Presidente do FED repita o seu contumaz discurso salientando que o órgão está apto a intervir se e quando necessário e, “muito em breve” poderá adotar estimulo adicional, a menos que a recuperação econômica recupere força substancial e sustentável.
O sentimento é que o mercado americano, e por que não todos os demais, procuram se enganar fomentando a expectativa sobre o improvável QE3 antes das eleições presidenciais, mas com esta atitude não deixam ocorrer a prevalência do desanimo, que seria extremamente negativo para todos os mercados, e assim segue se alternando como se auto iludindo com um dado bom neste momento e outro menos pior em outro, mantendo-se volátil, mas evitando que ocorra um “sell-off” nas bolsas.
O cenário global econômico emite sinais constantes de que os efeitos da crise cada vez são mais abrangentes, algo inevitável e esperado face à globalização que não deixa nenhuma chance a imunidades. O único fato é que as consequências ocorrem em diferentes proporções e nas economias mais diretamente dependentes das economias que estão no epicentro da crise vão se revelando gradualmente, e, na cadeia do relacionamento todas vão sendo atingidas.
Por isso, são pouco promissoras as recuperações mais imediatas desta ou daquela economia, visto que a interdependência neutraliza esta possibilidade e, os modelos de enfrentamento isoladamente dos impactos acabam por serem difíceis de implementação ou quando possível tendem a exaustão num breve período de tempo, com riscos de gerarem “bolhas” pela insistência.
Portanto, é pouco provável que ocorra melhora da economia global sem termos um período a mais de agravamento, visto que a trajetória para a viabilização passa rigorosamente por medidas que transitam pela recessão antes da recuperação. Ademais, há nesta crise problemas de elevadíssima complexidade, como a crise na eurozona, onde é preciso “reinventar” o acordo de unificação com novos ordenamentos, sem o que não haverá avanços, pois o problema não se limita a financiamentos, mas sim a disciplina fiscal.
No Brasil, há esforços por parte do governo, muitos focando setores e não a economia como um todo, o que nos diferencia de outros países emergentes que vem se reorganizando e vem despertando atratividade por parte de investidores exatamente pela forma que vem promovendo as desonerações focando dar competitividade às suas economias. É preciso ter consciência que há novos concorrentes potenciais disputando com o Brasil os investimentos externos.
Há sinais de melhora, menores do que o otimismo que se propaga, mas ainda não dá para considera-los sustentáveis.
No mercado de câmbio, repetitivamente temos chamado a atenção para o fluxo cambial com propensão a tornar-se negativo, num ambiente em que já não temos um saldo projetado de grande monta na balança comercial e trouxemos um considerável passivo a liquidar, já transitado na balança comercial do ano passado, que é expressivo e pouco considerado quando se aventa considerações empolgadas na melhora dos IED´s e até se coloca a ideia de que podem ser determinantes de apreciação do real.
O fluxo cambial é o liquido de tudo e, se tornar-se negativo num mercado flutuante tende a pressionar a formação do preço da moeda americana e, se o governo continuar “administrando o preço” terá que admiti-lo ligeiramente mais elevado ou, fazer oferta de divisas à vista para o mercado de câmbio à vista.
Esta semana, dado ao posicionamento antagônico no mercado de cupom cambial-DDI, em especial, de bancos e fundos nacionais, poderemos ter pressões na formação do preço Ptax da moeda americana, em especial a partir de quarta/quinta-feira, com volatilidade, e ainda, como há posições de “swaps cambiais” e “swaps cambiais reversos” colocados pelo BCB vincendos também no 1º dia útil do mês, espera-se que o mesmo possa vir a realizar alguma intervenção direta para rolagem, ou indireta, deixando de efetuar a rolagem o que também impacta no mercado.