O preço da moeda americana finalizou outubro com um “pouso suave” no entorno de R$ 2,03, taxa que evidencia absoluta estabilidade face ao monitoramento administrativo do Banco Central do Brasil, que teve continuidade ao longo de todo este mês.
O fluxo cambial continua confirmando o comportamento claudicante iniciado em maio, confirmando o viés tendente a negativo também em outubro, salvo alguma operação de ingresso pontualíssima ao final do mês. Até o dia 26 o fluxo cambial apurado estava negativo em US$ 748,0 M, o que praticamente nivela as posições compradas dos bancos no mercado a vista. Mas é relevante apontar que na última semana, 22 a 26, o fluxo foi negativo em US$ 2,334 Bi, volume bastante significativo.
Salvo expectativa sobre eventuais ingressos de captações de empréstimos externos face ao baixo custo e expressiva liquidez no mercado internacional, não se espera que haja deslocamentos expressivos de recursos para o Brasil focando investimentos na nossa Bovespa e nem em renda fixa, neste bimestre, quando o déficit em transações correntes tende a se acentuar como fato natural.
Fluxo cambial baixo ou efetivamente negativo é um dado concreto de pressão sobre o preço da moeda americana no mercado à vista, não corrigível com ofertas de instrumentos financeiros no mercado futuro, mas necessariamente com oferta de moeda a vista pela autoridade monetária.
Mixando esta realidade com os dados anunciados hoje de que a produção industrial no Brasil recuou 1% em setembro em relação a agosto, após três meses seguidos de taxas positivas, fica o sentimento de que novo reforço será necessário para este segmento. No ano, setembro-12 ante setembro-11, a produção industrial recuou 3,1%, pior resultado desde 2010.
Esta baixa desaponta as perspectivas projetadas pelo governo e inúmeros economistas prevendo uma recuperação mais sólida da economia nos próximos meses.
Este contexto de abertura do mês de novembro, permite admitir-se a probabilidade do Banco Central do Brasil vir a elevar a banda do câmbio administrado para R$ 2,05 a R$ 2,10, de forma a incentivar um pouco mais a indústria brasileira, aumentando a sua competitividade no mercado exterior e, também, no mercado interno na medida em que encarece o produto importado.
Este é o atalho mais próximo para incentivar a indústria, após ter ocorrido a redução do juro, já que a fragilidade da economia global é fator contrário aos nossos interesses imediatos, enquanto as nossas deficiências estruturais que corroem a nossa competitividade não são solucionáveis no curto prazo.
Não haveria nenhum contrassenso nesta atitude, até porque a crença de que o preço da moeda americana estaria abaixo de R$ 2,00 se o BC não estivesse administrando o preço carece de fundamentos efetivos, pois a base primordial de impacto na formação do preço, neutralizada a especulação advinda do mercado de derivativos como ocorre atualmente, é o fluxo cambial, e este está fragilizado.
O Brasil ao que tudo continua indicando não será aquinhoado com ingresso de recursos especulativos oriundos do QE3, portanto não há perspectivas de recuperação imediata da dinâmica do fluxo cambial.
Desta forma, os fundamentos presentes fortalecem a perspectiva de que o preço da moeda americana tem motivos reais e efetivos para sofrer elevação e não queda como uma grande maioria argumenta, sem, contudo, mostrar os fundamentos.
Temos sistematicamente mencionado que há excesso de otimismo em relação a 2013, que no nosso entendimento pode ser um novo 2012 tendo em vista o não alcance de solução para a crise na Europa, em especial na sua eurozona, e a recuperação do emprego e renda nos Estados Unidos ainda demandar um certo tempo, fatores que impactarão no desempenho da atividade econômica da China.
É preciso, portanto, agir de forma preventiva e antecedente visando estimular setores que não conseguem recuperar ritmo, como a indústria, e, um destes estímulos poderia vir através um preço mais elevado do dólar.
À margem deste contexto, observa-se uma intensificação por parte do governo no sentido de deixar evidente o comprometimento com o regime de metas de inflação, o que tem sido colocado em dúvida pelos agentes do mercado.
A manifestação do Diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, ocorrida ontem visou dar um recado contundente quanto a este comprometimento.
Ocorre que grande parte dos países emergentes adotou ou vem adotando “receituário” idêntico, como baixar o juro drasticamente, etc., porém a resultante tem sido queda expressiva do crescimento do PIB e reaquecimento inflacionário, já que relaxaram, ao otimizar a busca da retomada da atividade econômica, o controle rígido da inflação.
Ao fortalecer a posição de que o regime de metas inflacionárias não será descuidado o Brasil busca sinalizar que está atento. Contudo, não nos parece adequado considerar que 6,5%, por estar dentro da faixa de variação, atenda o requisito de ter cumprido a meta, da mesma forma 5,5%, etc.
A realidade é que temos espaço limitado num ambiente de baixo crescimento econômico para dar curso a uma política expansionista, visto que na fase antecedente de “abundância” não fizemos a política contra cíclica que teria gerado a poupança para dar suporte à politica contra cíclica agora necessária na fase de “carências”.
E o que está ocorrendo é uma politica expansionista que é inflacionária e já compromete o nosso superávit primário.
No nosso entendimento o governo precisa estar atento e proativo nas suas ações, pois, a realidade de 2013 poderá não atender todos os anseios que vem sendo acostados às projeções.