Análise do Mercado – 28/01/2011

O Banco Central do Brasil realizou ontem o 4º leilão de “swap cambial reverso”, e desta vez, só conseguiu colocar pouco mais da metade do lote de 20.000 contratos, exatos 10.200 contratos, algo em torno de US$ 500,0 MM. Importante observar…

O Banco Central do Brasil realizou ontem o 4º leilão de “swap cambial reverso”, e desta vez, só conseguiu colocar pouco mais da metade do lote de 20.000 contratos, exatos 10.200 contratos, algo em torno de US$ 500,0 MM. Importante observar que o mercado demonstrou pouco interesse nos lotes de contratos de curto prazo, preferindo o prazo mais longo de quase 1 ano (02/01/2012), o que esvazia os argumentos de que esta operação sugere existência de risco à contraparte do BC, tomando como exemplo o ocorrido na crise de 2008 que foi algo pontual e inusitado e que não se insere na visão prospectiva predominante no momento.

No total já foram colocados US$ 3,5 Bi, um volume ainda baixo, mas que se persistido pela autoridade monetária poderá estimular movimentos especulativos de apreciação do real, nas proximidades da ocorrência dos vencimentos, com os bancos procurando ganhar, além do juro que é previsto na operação, também a variação cambial, tornando-a negativa ao BC.

Se o objetivo do governo é dar sustentabilidade ao preço da moeda americana, esta não é uma boa operação para tanto, muito embora teoricamente remeta a este raciocínio, e, além disto, considerando o cenário prospectivo dos períodos envolvidos nos vencimentos destes contratos lançados, há efetiva possibilidade de ocorrência de ônus ao erário público.

Ontem, como reação típica do mercado de câmbio nas ocorrências dos leilões de “swaps cambiais reversos”, a taxa cambial foi puxada para cima, com um patamar mais alto elevar o preço futuro do dólar, que tende a superar o “spot” na data da liquidação, e, da mesma forma elevar abrir um “gap” maior, caso seja detonado um movimento especulativo visando apreciar o real, para que ocorra o ganho acumulativo do juro e variação cambial.

Há sinalizações externas focando a necessidade de rigor fiscal pelo Brasil, externados pelos economistas participantes do Fórum Econômico de Davos, e, também a manifestação do Fundo Monetário Internacional, destacando que existe motivo de preocupação com o Brasil a médio prazo dada a piora fiscal “acentuada”. Os autores das manifestações ganham, por suas importâncias, largo espaço na mídia internacional, e isto pode afetar um pouco o otimismo externo em relação ao país.

Não há como atribuir-se também a estas manifestações, além dos “swaps cambiais reversos”, alguma pressão de alta na taxa cambial, num ambiente de mercado em que houve substantiva oferta de exportação.

Tal fato contudo, torna mais evidente a necessidade do governo anunciar medidas de rigor fiscal, definindo os cortes orçamentários. Importante também, dar sinais de recomendação aos bancos oficiais para diminuírem o ritmo de concessão de crédito para o consumo.

Se não agir com rapidez e firmeza, pode haver perda de credibilidade nos propósitos que tem manifestado frequentemente, mas que já deveria ter materializado.

O governo central registrou superávit primário de R$ 14,44 Bi em dezembro, segundo o Tesouro Nacional. O superávit acumulado em 2010 somou R$ 78,966 Bi, equivalente a 2,16% do PIB.

Na 2ª feira, o BC já anunciou pelo Comunicado 20.541 de hoje, que realizará 3 leilões de compra de moeda estrangeira a termo, certamente “experimentais”, considerando os prazos de 09/02/11; 16/02/11 e 23/02/11, para sentir o comportamento e reação dos “players” do mercado e também os níveis de juros.

Este, nos parece, um bom caminho para o BC agregar valores as reservas cambiais, compartilhando a “guarda” com os bancos, a um custo menor de carregamento do que quando o faz “spot”, colocando reais imediatos no mercado e esterilizando-os em seguida com títulos pagando a SELIC e aplicando os dólares as taxas de juros ínfimas praticadas no exterior.

É um bom ensaio, que, posteriormente, poderá ser permitido para empresas, desde que operações com lastro, aumentando o volume de negócios no mercado de câmbio físico, além de modernizá-lo operacionalmente, trazendo para este mercado parte de negócios que hoje migram para o mercado futuro da BM&F.

Parece-nos que, de forma previdente, o BC devesse gradualmente extinguir as posições “vendidas” “spot” dos bancos no mercado de cambio físico, ou, no mínimo, não ser o autor do estimulo a formação das mesmas, como o foi até recentemente ao comprar com seus leilões volumes superiores ao fluxo. Se ficarem “vendidos” que o fiquem “ a termo”, quando vão manter entesourados os dólares com uma remuneração, espera-se, equivalente a cupom cambial.

Evidentemente, vão argumentar alguns, com os “swaps cambiais reversos” o BC tira as pressões no cupom cambial, mas a nossa crítica constante é que, na ponta, este instrumento pode fomentar apreciação do real.

Dentro da linha de aperfeiçoamento do mercado de câmbio físico, poderia permitir a abertura de contas em moeda estrangeira de empresas junto aos bancos brasileiros autorizados a operar em câmbio.

Como temos ressaltado, a força de intervenção do BC, sem mutilar o conceito de câmbio flutuante, está no avanço normativo, compatibilizando a operacionalidade do mercado com o perfil do Brasil e atue trazendo para o mercado de câmbio físico o que, por impedimento legal, acaba sendo realizado no mercado futuro/derivativos.

A dinâmica estratégica do BC no câmbio, neste novo governo, sinaliza “a priori”, ser mais arguta do que a praticada no antigo governo.

As mudanças tendem a incluir mais variáveis na formação do preço da moeda, oriundas do próprio mercado de câmbio físico, que podem em perspectiva criar bases de sustentação, porém os efeitos/repercussões devem ser graduais.

Por enquanto, a expectativa sobre fatos novos de interferência no câmbio, gera uma relativa estabilidade do preço da moeda americana no entorno de R$ 1,67, ao mesmo tempo em que inibe movimento visando maior apreciação do real, que poderia se viabilizar estimulado pelo crescente volume de “swaps cambiais reversos”.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress