As medidas prudenciais adotadas pelo BC em dezembro, focando redução da liquidez com o aumento dos depósitos compulsórios e contingenciamento de prazos de crédito ao consumidor pessoa física, dão mostras efetivas de seus impactos na…
As medidas prudenciais adotadas pelo BC em dezembro, focando redução da liquidez com o aumento dos depósitos compulsórios e contingenciamento de prazos de crédito ao consumidor pessoa física, dão mostras efetivas de seus impactos na elevação do juro e na contração da concessão de crédito, o que está em linha com o objetivo de desaquecer a demanda.
Contudo, nos parece que os bancos oficiais precisam alinhar-se mais intensamente, pois ainda estão pouco aderentes ao alinhamento com os propósitos das medidas prudenciais introduzidas pelo próprio governo.
É provável que a contribuição, como medida antiinflacionária destas medidas, alcance efetivamente uma equivalência a algo em torno de 1% de elevação na SELIC.
Contudo, urge que o governo dê, o mais rápido possível, evidências efetivas de adoção de rigoroso aperto fiscal, já que o retardamento começa a minar, interna e externamente, a credibilidade do mesmo, pois sugere pouca determinação neste objetivo que se configura fundamental e absolutamente indispensável.
Idealmente, o anúncio do corte orçamentário deveria ter ocorrido antes da reunião do COPOM, contudo, postergada, já é tempo de ser anunciado, para impactar nas expectativas internas, e, também externas, já que o tema já foi abordado por economistas presentes ao Fórum Econômico em Davos, que revelaram as mesmas preocupações que já vem sendo focadas pelos economistas locais, quais sejam, “a economia brasileira está superaquecida, a inflação está se acelerando e há constrangimentos em todas as partes”. Na visão externa, a política fiscal e a política de crédito do governo estão, ainda, soltas demais, e estes deveriam ter mais rigor para serem os antídotos de preferência ao combate à inflação, ao invés da elevação de juro pelo BC, que provoca a valorização do real e destrói o setor industrial.
A Ata do COPOM avaliou que o cenário prospectivo de inflação piorou desde a última reunião no ano passado, ressaltando que ainda vê riscos decorrentes do descompasso entre oferta e demanda.
Esta percepção enunciada reforça a urgência da necessidade do governo demonstrar firmeza de propósitos e anunciar os cortes orçamentários dando visibilidade ao rigor fiscal.
Além disto, o descasamento entre oferta e demanda apontada pelo COPOM pode ser sugestivo de maior aperto no lado do crédito ao consumo de pessoas físicas, principalmente sobre os bancos oficiais.
O momento recomenda menos “benesses” , para que não se deixe ocorrer descontroles irreversíveis. É preciso “mão forte” e ágil nas políticas monetária e fiscal.
No câmbio as incursões tentativas por parte do governo não conseguem obter as respostas objetivadas de sustentação do preço da moeda americana. Leilões de compra do BC no mercado físico à vista, IOF sobre ingressos de investimentos para Bolsa e renda fixa, impedimentos a práticas ligadas às operações derivativas, depósitos compulsórios sobre posições vendidas dos bancos, “swaps cambiais reversos” e mais recentes, a possibilidade do BC operar a termo com os leilões, tem sido paliativos.
O foco do BC deve ser estrategicamente nos nichos especulativos que afetam a formação do preço da moeda. Neste ponto, ao focar as posições “vendidas” dos bancos o fez bem, porém de forma muito generosa, pois deveria ter sido mais contundente no limite não alcançável pelo depósito compulsório, ou fazê-lo de forma mais objetiva definindo um limite pequeno e determinando o enquadramento num período mais curto. Afinal, o crescimento das posições “vendidas” pelos bancos foi estimulada pelo próprio BC com o objetivo de manter o real apreciado, prática que, parece, não será replicada pelo novo governo.
Operar a termo com os leilões no mercado físico é um passo positivo, pois retoma para o mercado físico volume que é deslocado para o mercado futuro e acaba influenciando a formação do preço no mercado físico. Além do fato de proporcionar para o BC financiamento na própria operação, o que pode reduzir o custo de carregamento dos montantes agregados as reservas cambiais brasileiras.
Como temos sugerido, o BC deveria abrir mais a operacionalidade do mercado de câmbio físico permitindo que realize operações típicas deste ambiente e que por não serem permitidas acabam por se deslocar para o mercado futuro da BM&F.
Mas, fundamentalmente, o grande problema está na excepcionalidade da taxa de juro praticada no país. Reduzi-la deve ser objetivo constante do governo, e, para tanto é necessário que adote medidas que sensibilizem as causas das pressões inflacionárias de forma contundente.
Juro elevado torna extremamente oneroso o custo de carregamento das reservas cambiais brasileiras, razão pela qual o BC deve estudar aberturas na legislação que permitam que a estocagem destas divisas se dê também por empresas de captam no exterior, por bancos autorizados a operar em câmbio e se disseminem mais operacionalmente no próprio mercado de cambio físico com a ampliação da tipificação das operações.
Entendemos temerosa, caso persista, a oferta de “swaps cambiais reversos” por parte do BC, que poderá desencadear, com o aumento do volume colocado, movimento de apreciação do real, efeito inverso ao objetivo teórico do instrumento. Só não ocorreu, ainda, pois US$ 2,0 Bi não é montante expressivo para induzir o movimento.
Por enquanto, a incerteza quanto ao próximo passo do governo mantém uma frágil estabilidade do preço da moeda no entorno de R$ 1,67, com viés, acreditamos, de baixa.
O cenário externo ainda gera indicativos muito voláteis e que inibem a formação de expectativas mais criveis.
O FED americano é o melhor exemplo deste quadro, repete-se a cada reunião, mantendo a taxa de juro entre zero e 0,25 e salientando que a recuperação econômica segue em ritmo insuficiente. E como reforça a continuidade do programa de aquisição de ativos anunciado em novembro, que envolve US$ 600,0 Bi, mantém, agora nem tanto, o mercado financeiro otimista pois a liquidez será mantida.
Em razão deste cenário, as bolsas oscilam em seus comportamentos. A grande maioria de analistas continua, como habitual, projetando perspectivas favoráveis para as bolsas, e não poderia ser diferente pois, caso contrário, estariam desestimulando os negócios.
Contudo, continuamos sintetizando a nossa percepção em relação às principais bolsas, cujo fundamento para manter o otimismo é “a esperança de que o cenário global vá melhorar”, já que visões micros não se sustentam se não houver uma recuperação macro.
O Euro estava sendo cotado a US$ 1,3736. O T-Bills de 10 anos apontavam rentabilidade de 3,43%, após 3,32% ontem. Petróleo era cotado a US$ 86,66 o barril na Nymex.