Muito embora estejam sendo tratadas sem forte propagação, as sondagens conjunturais recentes recomendam cautela e uma consideração maior, para que não sejamos surpreendidos num futuro breve…
A indústria já sinaliza perda de atividade e de ocupação de capacidade instalada, e, se na contraponta o varejo ainda continua sinalizando estar aquecido, esta é a evidência clara de que o produto nacional está sendo trocado pelo produto importado, fato evidenciado já na nossa balança comercial que na semana passada acusou déficit de US$ 304,0 Bi.
O fluxo cambial do mês está positivo em US$ 3,867 Bi, mas devemos considerar que foi gerado fortemente pelo ingresso do saldo de dólares estocados pelos exportadores no exterior, motivados pela melhora da taxa cambial. Importante lembrar que o “estoque” de dólares de exportações liquidadas no exterior em janeiro era de US$ 24,8 Bi e em setembro restavam tão somente US$ 5,2 Bi, que provavelmente foram exauridos este mês. Em perspectiva, a curva do fluxo cambial tem, no nosso entender, um viés negativo.
Relevante também considerar que em janeiro tínhamos tão somente US$ 3,6 Bi de importações a liquidar, sendo que na virada de setembro registrávamos US$ 15,4 Bi, o que representava um considerável volume que estava sendo postergado no aguardo de que a taxa cambial tivesse queda.
Os dados divulgados pelo BC contabilizam o ingresso de US$ 50,0 Bi em IED´s, dos quais US$ 10,0 Bi relativos a “empréstimos intercompany” arcaicamente contabilizados pelo BC como IED´s, mas que podem provocar uma surpresa desagradável se as matrizes pedirem para as suas filiais retornarem estes empréstimos para fortalecimento do colchão de liquidez externa. Afinal o forte ingresso havido logo ao início do ano, 1º trimestre, deixou dúvidas se as multinacionais não estariam focando rentabilizar seus recursos em caixa no exterior aplicando-os no Brasil.
Entendemos temerário considerar estes recursos contaminando a totalização dos IED´s, já que pode haver surpresas e ocorrer seus retornos às origens, principalmente em tempo de crise, como o atual.
O próprio BC evidenciou que o ingresso líquido para ações até o dia 25 deste mês era de pífios US$ 71,0 M e para renda fixa US$ 29,0 M.
No mês de setembro os estrangeiros reduziram suas posições em títulos da dívida interna em R$ 4,3 Bi, fato que não ocorria desde fevereiro deste ano.
Temos tido oportunidade de há muito mencionar que os investimentos em renda fixa e renda variável tenderiam a retroceder seus volumes, chegando mesmo ao negativo. Não apreciamos mencionar “aversão a risco” como razão causal, mas sim a necessidade dos investidores estrangeiros de aumentarem o “colchão de liquidez” para suportar a retração do crédito e perdas neste ambiente conturbado pela crise. Agora, os números já confirmam esta realidade.
Também não temos uma visão tão otimista quanto à dinâmica dos IED´s neste final do ano, embora o país tenha os investimentos no pré-sal e nas obras da Copa do Mundo e Olimpíadas como alento.
A necessidade das multinacionais e demais investidores no setor produtivo em preservar liquidez no exterior podem provocar a postergação dos investimentos no Brasil, até porque a economia está com uma desaceleração de atividade econômica elevada, o que pode ser um motivo a mais.
As remessas de dividendos, lucros e juros s/capital sofreram certa retração no período em que o preço da moeda americana alcançou seus picos máximos de alta, mas, acreditamos, que ainda haja demanda reprimida e que está se fazendo presente no mercado de câmbio toda vez que o preço do dólar tende a ficar abaixo de R$ 1,75.
Em perspectiva ainda continuamos entendendo que o dólar possa recuar até R$1,70 e flutuar entre este piso e R$ 1,75, mas em perspectiva, considerando nossa percepção sobre o comportamento do fluxo cambial, poderemos ter um preço um pouco acima, do final do ano em diante, tendo na contraponta um ajuste mais forte de queda no preço das “commodities”.
Os bancos que viraram o mês de setembro com posição comprada no mercado físico à vista de US$ 1,269 Bi, considerando o fluxo positivo em US$ 3,867 Bi no mês, devem estar “comprados” em US$ 4,06 Bi. No mercado de derivativos estavam vendidos US$ 4,57 Bi no “cupom cambial-DDI” e US$ 2,11 Bi no dólar futuro.
Os estrangeiros registravam posição vendida de US$ 3,99 Bi em “cupom cambial-DDI” e “comprada” de US$ 2,83 Bi em dólar futuro.
Com estes posicionamentos não deve ocorrer disputas acentuadas no mercado de derivativos neste final de mês.
Salientamos, mais uma vez, que entendemos que o foco absoluto deva ser prospectivo, mitigando ao máximo o risco de menosprezar a realidade, e que não é tempo para olhar para o retrovisor. Acreditamos que, cada vez mais, ficará evidente que o BC poderia ter sido mais incisivo no corte da taxa SELIC na última reunião, fazendo-a em 1%, e que ao fazê-lo somente de 0,5% pode ter ficado atrás da curva e, portanto, tardio na atitude.
Na Europa, o vai não vai continua e nos parece que o problema é muito grandioso para a pretensão de liquidá-lo com “um tiro só”. A Europa e a eurozona precisam de uma revisional ampla e irrestrita nos princípios regulatórios, sem o que não haverá solução somente a partir do financiamento dos passivos. Acreditamos que ainda vão ocorrer muitos pontos divergentes.
Nos Estados Unidos, o “sonho” com o “QE3” embala o mercado financeiro, ao mesmo tempo em que a economia continua gerando indicadores negativos.
Não vislumbramos acomodações no curto prazo na situação da Europa e Estados Unidos, por isso a volatilidade deve persistir.
Em tempo, a respeito da OMC ter acolhido o pleito do Brasil sobre a “guerra cambial”, objeto de nosso comentário de ontem, a OCDE já dá o troco certeiro hoje, ao mencionar em estudo divulgado: “o Brasil precisa conter inflação sem causar estragos no câmbio”.