Análise do Mercado – 27/10/2011

Na Europa, tudo combinado e nada ainda resolvido, mas o suficiente para provocar as exacerbações conhecidas pelo mercado financeiro global, que assim distancia-se da necessidade de um choque de realidade que poderia advir, caso…

Na Europa, tudo combinado e nada ainda resolvido, mas o suficiente para provocar as exacerbações conhecidas pelo mercado financeiro global, que assim distancia-se da necessidade de um choque de realidade que poderia advir, caso não se encontrasse uma acomodação para o cenário caótico das políticas fiscais da quase maioria dos membros da eurozona, considerando-se que parece muito prematuro falar-se em solução, já que esta deverá transitar por todo um processo de médio/longo prazo de “re-pensamento” dos princípios que norteiam o comprometimento de cada país em relação à disciplina fiscal, para que não seja colocada em risco a continuidade da moeda única, o euro.

E quem garante que ficará somente na Grécia e que não será necessário um contexto mais amplo de “perdões” e facilidades?

Vamos aguardar mais detalhamentos, até para conhecer-se melhor as origens do Euros 1 Tri, que será aportado no Fundo Europeu de Estabilidade Financeira.

Enquanto isto, nos Estados Unidos, onde o mercado financeiro “sonha” com o “QE3”, foi divulgado o crescimento do PIB do 3º trimestre em 2,5%, surpreendendo os mais otimistas que projetavam 2,3%, e, que se somando ao “cenário de euforia” europeu, estimula e fortalece pontualmente as exacerbações nos preços dos ativos.

Enfim, as perspectivas imediatas geram o otimismo, mas os problemas da Europa e dos Estados Unidos sugerem demandar um longo período para que suas economias voltem ao crescimento sustentável, gerando emprego e renda, passando necessariamente por um aperto relevante nas políticas fiscais.

Bolsas então extrapolam otimismo e apresentam fortes altas, o dólar se desvaloriza ante as principais moedas, o petróleo sobe, mas é preciso ter sensatez, as bases para o euforismo ainda são bastante frágeis.

No Brasil, a Ata do COPOM tornou efetiva a percepção de que a ousadia saiu de cena e que voltou a prevalecer preocupações em torno da manutenção da inflação controlada, muito embora o BC tenha acertado no seu diagnóstico sobre o agravamento da crise externa e na tendência de recrudescimento das pressões inflacionárias, parece ter se distanciado deste foco corretamente detectado nesta reunião.

Crescer e controlar a inflação é um desafio. Normalmente esta tentativa faz naufragar uma das pontas, embora no cenário atual o BC houvesse considerado os efeitos contributivos da queda da pressão inflacionária que o liberaria para cortes mais efetivos na taxa de juro, advindas da crise externa, convicção que parece ter perdido força na prática, já que teoricamente ainda foi mencionada.

A reação do mercado de juros, pós-leitura da Ata, foi de imediata alta, já que parece que voltamos a gradualidade.

Embora o emprego ainda gere números fortes, mas já sinalizando alguma perda de ritmo, o desemprego em setembro no Brasil registrou o menor índice, 6%, desde 2002.

Como os sinais no emprego ainda não são compatíveis com o grau de perda de atividade econômica, a confiança do consumidor, após dois meses em queda, voltou a subir, dando sinais de acomodação. Pelo 3º mês consecutivo houve diminuição da satisfação dos consumidores com a situação atual das suas finanças pessoais.

No mercado de câmbio nossa perspectiva sempre colocada era de um retorno da taxa cambial a R$ 1,70, e isto só não estava ocorrendo pelo fato de haver uma demanda reprimida que se fazia presente sempre que o preço da moeda americana atingia R$ 1,75.

Com a “acomodação” da situação europeia pelo menos de momento e expectativas de novas benesses governamentais nos Estados Unidos, agregada a um sinal positivo no PIB do 3º trimestre, os imediatismos de remessas de dividendos, lucros e juros s/capitais, bem como o pagamento de importações vencidas e vincendas cedem lugar para uma efetivação “menos apressada” e isto, então, permite que o real seja apreciado, tendendo aos R$ 1,70, que de longa data vínhamos propagando.

Contudo, ao atingir este patamar, devemos ter um aumento de demanda e se o fluxo cambial positivo recrudescer ocorrerá volatilidade deste ponto, R$ 1,70, até R$ 1,75.

Como temos salientado, a formação do preço da moeda americana no nosso mercado responde no momento ao seu efetivo conceito de “flutuante”, repercutindo, portanto, o fluxo, já que o mercado de derivados perdeu a capacidade de influenciar a formação do preço, desde quando o BC gerou liquidez para que as posições “em desconforto” fossem zeradas, e, continua “travado” pelo IOF.

Todavia, numa visão prospectiva, como enfatizamos ontem, a partir do final do ano vislumbramos a possibilidade do fluxo cambial ser menos benigno para o Brasil e ir repercutir na formação do preço, que tenderá a alta.

O BC faz hoje sondagem de colocação de “swaps cambiais reversos”, focando a rolagem de lote de contratos que totalizam US$ 1,0 Bi vincendo na virada do mês. É bastante provável que o mercado financeiro não tenha interesse na rolagem ou nas condições, e, a exemplo do mês passado o BC não efetue a rolagem, o que corresponderá a uma “oferta” no mercado de derivativos daquele montante vincendo.

 

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