Análise do Mercado – 25/11/2010

Feriado nos Estados Unidos hoje e “quase” feriado amanhã, quando o mercado financeiro só funcionará até às 13 hs local, retiram do mercado brasileiro referenciais mais influentes e possibilitam que as observações e conjecturas acerca da nova…

Feriado nos Estados Unidos hoje e “quase” feriado amanhã, quando o mercado financeiro só funcionará até às 13 hs local, retiram do mercado brasileiro referenciais mais influentes e possibilitam que as observações e conjecturas acerca da nova equipe econômica do novo governo, a partir de janeiro, persistam ocupando a maior parte do tempo.

“Discreto, tendente a uma maior coesão, competente” esta parece ser a leitura inicial que vem se generalizando.

A percepção mais evidente é que a nova Presidente está optando por ter “mão forte” e presença firme na gestão da área econômica, menos carente de “ancoragem” e porta-vozes, porém com colaboradores mais alinhados e afinados entre si na busca do seu ambicioso projeto de reversão das dinâmicas nas políticas monetária, fiscal e cambial, sem, contudo, perder o foco no crescimento sustentável nos parâmetros medianos dos anos mais recentes.

Autonomia do BC é algo no Brasil sempre propagado e valorizado pelo mercado financeiro nos últimos 8 anos e deve ter continuidade no novo governo, porém é preciso considerar a relatividade deste fato em nosso país, pois não sendo uma instituição efetiva independente e nem seu ocupante eleito com mandato como nos Estados Unidos, seguramente podem sucumbir se ocorrer enfrentamento com a linha mestra governamental.

Cortes em gastos públicos sem foco na sustentabilidade do crescimento, intensificação dos investimentos, desonerações tributárias pontuais que acabam por gerar compensação pelos incrementos gerados, impactando positivamente no aumento da atividade econômica, emprego e renda. Meta agressiva de juro real para a economia dentro dos parâmetros internacionais, considerando-se a queda nominal da taxa de juro SELIC e rigor nas metas inflacionárias, são direcionamentos que estão sendo apontados e que devem ser muito bem recebidos.

Naturalmente, não será tarefa fácil, mas o Brasil grande e sustentável terá necessariamente que passar por uma absoluta mudança nas diretrizes na área econômica. O sucesso do país nos anos recentes, até agora enaltecido, tem notórias vulnerabilidades e práticas de controle de inflação mixando política monetária com política cambial, que precisam ser descontinuadas.

Fomentam o real apreciado como coadjuvante a taxa SELIC no controle da inflação, estimulando as importações não essenciais, em detrimento da indústria nacional que acaba “pagando a conta”, pois tem seus preços contingenciados no mercado interno e perde sua capacidade exportadora. Na ponta, o país deixa de gerar mais empregos e renda do que está gerando e proporcionamos, em tempos de crise, este benefício aos nossos fornecedores.

O próximo ano sinaliza cenário menos favorável no ambiente cambial. Aumento do déficit em transações correntes, consequente de menor saldo de balança comercial e, provavelmente, menos IED´s se a economia mundial continuar claudicante e continuidade das remessas de dividendos, lucros e juros capital por parte das multinacionais. O país poderá ter que usar parte de suas reservas cambiais para complementar a necessidade de financiamento externo.

O país deverá crescer menos do que neste 2010, o consumo certamente deverá perder estímulos por parte do governo, sob risco de criarmos uma “bolha”, já havendo sinais de inadimplência merecedora de observação, e a indústria, que tem encontrado no mercado interno a compensação pela incapacidade de exportar, terá que focar mais o retorno ao mercado externo.

A Bovespa não nos parece ser atraente o suficiente para dar uma grande contribuição no fluxo cambial e os recursos direcionados para a renda variável que repercutiram com recuo no curto e longo prazo, com as medidas adotadas pelo governo com IOF focando tão somente, em tese, os de curto prazo, devem merecer uma atenção do governo de forma a desonerar o longo prazo, essencial para o alongamento da dívida pública e necessário para o financiamento do déficit em transações correntes.

Tudo feito como imaginado, cada fase ao seu tempo, poderemos ter um país com um perfil mais adequado ao conceito de risco que lhe é atribuído pelo mercado internacional e compatível com o “investment grade” que poderá ser elevado, e, naturalmente, juros e câmbio equilibrados “turbinando” a atividade econômica brasileira.

Afinal, só quem “sonha” realiza!!

No mais, a despeito das pressões inflacionárias presentes, acreditamos que o ano está “dado”.

Dólar no intervalo de R$ 1,70 a R$ 1,75 parece estar numa zona de conforto para o governo, já que não estará tão baixo para desanimar e nem tão alto para pressionar a inflação. Mas certamente, este preço fechará o ano fora do ponto de equilíbrio.

A SELIC a 10,75% está com enorme pressão do mercado financeiro e da inflação do item alimentação “forçando” que seja elevada, mas acreditamos que o BC, com sua composição retirante, manterá a sensatez e não atuará com base na percepção de curto prazo, deixando para os próximos gestores a partir da reunião de janeiro a definição das estratégias. A alimentação está pressionando em decorrência da especulação no mercado de “commodities”, como alternativa ao dólar desvalorizado, e não por aumento expressivo de demanda física, portanto, é necessário cautela para não sancionar precipitadamente uma alta evitável.

Os posicionamentos especulativos no mercado futuro emitem sinais pressionando, mas não acreditamos que o COPOM vá demonstrar sensibilidade a este fato.

 

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