O novo governo, a se instalar a partir de janeiro, vai sinalizando suas diretrizes em perspectiva através do Ministro Mantega, que permanecerá à frente da Pasta da Fazenda, e, inegavelmente o “discurso” tem vindo em linha bastante positiva com…
O novo governo, a se instalar a partir de janeiro, vai sinalizando suas diretrizes em perspectiva através do Ministro Mantega, que permanecerá à frente da Pasta da Fazenda, e, inegavelmente o “discurso” tem vindo em linha bastante positiva com as expectativas dos setores mais importantes da economia brasileira.
Chega a surpreender a “conversão” do Ministro Mantega ao novo alinhamento, mas tem sido muito incisiva a colocação do tema corte substantivo nos gastos governamentais e a blindagem ante as novas pressões de expansão, inclusive contendo os aportes ao BNDES e realizando mudanças fundamentais nos financiamentos de longo prazo, que poderão ser incentivados com reduções tributárias.
Seria importante que toda demanda realizada ao BNDES de financiamento a longo prazo tivesse, necessariamente, o compartilhamento obrigatório de percentual concedido por fontes privadas.
A provocativa colocação da discussão de um índice mais fidedigno para apurar a inflação e ser prevalecente na economia como um todo é oportuna e importante. O IGP-M vem se revelando inadequado, já tivemos oportunidade de fazer esta menção meses atrás, pois envolve muitos vetores e dissemina-se de forma imperfeita pela economia, fomentando a alta distorcida de preços. Idealmente, deveria haver um índice de consumo único no país, base para consideração da inflação e dos reajustes, e o seu núcleo poderia expurgar itens voláteis pontuais, para consideração por parte do COPOM como inflação efetiva para suas decisões sobre juros, evitando assim precipitações na tomada de decisões.
Entendemos como muito importante a propositura de medidas alterando as matrizes de práticas envelhecidas e que geram inúmeros indicadores de inflação, que acabam realimentando o processo inflacionário.
Não será tarefa fácil, haverá, certamente, oposição do mercado financeiro, que, embora não declare e até manifeste apoio, teve certo desapontamento com a não nomeação de um banqueiro de ofício para presidir o BC, e pode começar a vislumbrar riscos para suas margens de elevada lucratividade com as mudanças colocadas em perspectiva.
Perduram algumas sinalizações de dúvidas por analistas sobre a nova equipe econômica, como salienta o Financial Times londrino, questionando o comprometimento do futuro governo com a austeridade fiscal. Mas é de se perguntar: havia austeridade fiscal tão relevante no governo atual? Embora, o Ministro Mantega continue, há sinais mais fortes nas propostas do novo governo sugerindo melhora na performance fiscal.
Certo é que os ventos favoráveis que a economia mundial emitiu para o Brasil, pelo menos até 2008, sem impor castigos mais acentuados ao longo da crise instalada desde então, não deverão repetir-se na vigência do novo governo.
Por isso, é preciso ajustar o país à nova realidade e buscar realinhamentos de controle de inflação que seja sustentável a partir de atitudes novas de gestão na política econômica, que não deprimam o câmbio, pois será necessário ampliar a contribuição do comércio exterior no financiamento do déficit em transações correntes, já que os fluxos de investimentos poderão ser menos promissores, considerando que o atual estado dos países desenvolvidos não sugere recuperação em menos de 3 anos.
Ontem mencionamos que o governo precisa atentar para os efeitos do IOF sobre as aplicações de estrangeiros de longo prazo, em renda fixa, visto que foram inibidas a despeito do foco da tributação ter sido as aplicações de curto prazo. A queda da participação dos estrangeiros nos investimentos em renda fixa de 10,23% em setembro para 10,19% em outubro é um sinal ainda discreto, mas que deve ser considerado pelas autoridades monetárias, pois o longo prazo é importante para o financiamento do déficit em transações correntes.
No mais, no cenário externo acentua-se o movimento “gangorra” das paridades monetárias atreladas às percepções de piora e melhora das economias, fulminando a teoria da “guerra cambial” americana, e o Euro vale US$ 1,32 ante o dólar. Estaria a eurozona fazendo “guerra cambial”? Certamente não, tudo decorre da fragilização acentuada e rápida das economias dos países periféricos da zona do euro, e este parece um problema insolucionável de irresponsabilidade fiscal.
Agregue-se a isto o fato da China estar emitindo sinais de que adotará política monetária mais apertada em 2011.
Com estes ingredientes, o negativismo prevalece, as bolsas sucumbem e operam em baixa mundialmente.
Internamente, o dólar flutua na faixa de conforto para o governo entre R$ 1,70 e R$ 1,75, e os questionamentos estão abertos sobre a necessidade de elevação imediata da SELIC na próxima reunião do COPOM. O mercado financeiro dá força para que ocorra, apoiando-se em seus posicionamentos e nos índices recentes inflacionários.
O Ministro Mantega, que continuará no próximo governo, não sanciona a necessidade, atribuindo as pressões inflacionárias ao item alimentação, consequência da especulação presente no mercado de “commodities”. Mas quem decidirá será o BC, com a sua composição retirante nesta última reunião do COPOM.
Embora só perca em eficiência imediata para o real apreciado, a alta sistêmica do juro em situações de aquecimento inflacionário também precisa ser avaliada como estratégia, havendo outros instrumentos, e no caso presente pode-se argumentar que como as pressões sobre o item alimentos vem do exterior, a elevação do juro pode revelar-se ineficiente em razão da causa.