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Análise do Mercado – 25/08/2011

Os holofotes do mercado financeiro global estão sobre Jackson Hole, no Estado de Wyoming, Estados Unidos, onde está residindo “a esperança” de que uma nova rodada de benesses seja anunciada amanhã pelo Presidente do FED americano, Ben…

Os holofotes do mercado financeiro global estão sobre Jackson Hole, no Estado de Wyoming, Estados Unidos, onde está residindo “a esperança” de que uma nova rodada de benesses seja anunciada amanhã pelo Presidente do FED americano, Ben Bernanke, que pode estar superestimada pela maioria construída por anseios afastados da realidade.

Certamente, mais do mesmo não trará benefício algum do ponto de vista da recuperação econômica dos Estados Unidos, até porque recursos em abundância existem em poder dos bancos, excessivamente aplicados junto ao FED, e das empresas privadas, faltando, contudo, vontade aos bancos para intensificar o crédito e ao setor produtivo motivação para incrementar os investimentos, que poderão gerar emprego e renda.

O problema, ao que parece, está menos dependente do FED fazer a “roda rodar”, mas sim dos bancos e empresários fazerem a sua parte. A economia americana está carente de confiança para reerguer-se, mas as autoridades já fizeram sua parte, não havendo muito mais que possam fazer, a não ser desincentivar de forma mais radical o “represamento” de recursos financeiros. Na realidade a economia americana está contrariando a sua própria dinâmica histórica, denotando “ter sentido muito” a notória exposição de sua fragilização que dilapidou grande parte da riqueza da sua sociedade.

Apostar em muito pode acarretar desapontamentos, e, como consequência, nova rodada de negativismo.

Continuamos entendendo que não se deve esperar muito da reunião de Jackson Hole, que pode marcar repetições de recentes afirmações do Presidente do FED a respeito da recuperação lenta da economia americana, no nosso entender com viés acentuado de tendência à recessão, acompanhada de algumas medidas focando beneficiar o consumidor, de forma a estimulá-lo ao consumo, buscando o caminho alternativo da demanda forçar o investimento pelo setor produtivo, almejando com isto o aumento do emprego e da renda.

A despeito do dado discretamente negativo representado pela elevação do número de pedidos de seguro desemprego, parece que o “sensor” dos investidores americanos já começa a sintonizar melhor a realidade em relação às expectativas em torno da reunião de Jackson Hole e as bolsas americanas que insinuaram abertura em alta já naufragam, o mesmo acontecendo com as bolsas europeias, com os preços do petróleo traçando a mesma curva e agora sendo operados em baixa na Nymex de NY. Os T-Bills que haviam cedido preço voltam a valorizar-se fechando as curvas de juros “yeld”.

Surpresa somente do ouro que passou a ceder no preço e assim continua com queda de 1,51% cotado a US$ 1,730.80, provavelmente face ao movimento de realização de lucros, visto que subiu muito. Não será surpresa se voltar a valorizar-se.

Na Europa continua o cenário bastante negativo e de alta complexidade, com um viés também acentuado de tendência à recessão, mas como tudo permanece ruim e não se vislumbram alternativas consistentes para uma saída imediata, o que se percebe é um “hiato” na propagação repetitiva das notícias sobre um estado latente negativo e estacionário na criatividade de alternativas de saída confiável.

O Japão está defendendo a sua moeda para que a situação da sua economia não se torne pior.

A China já dá sinais de percepção de que não passará incólume neste cenário decadente das economias tidas como desenvolvidas, dá evidências de que aumentará o foco na atividade interna de sua economia, podendo afrouxar sua política monetária em alguns setores, porém com cuidado, pois as pressões inflacionárias presentes na economia chinesa são as mais fortes dos últimos 3 anos.

No Brasil há inúmeros vetores que ainda estão em descompasso.

O desemprego ficou em 6% em julho, abaixo dos 6,2% em junho, segundo o IBGE. Em comparação com julho de 2010 houve um recuo de 0,9%. A economia demonstra ainda forte nível de atividade.

Contudo, há pressões inflacionárias superando um pouco as projeções.

O crédito está ainda aquecido respondendo pouco à política monetária, visto que passou de 47,1% do PIB para 47,3%.

Por outro lado, a confiança do consumidor apurada pela FGV em agosto evidenciou queda de 124,4 pontos para 118,7 pontos, algo como 4,6%.

Não podemos perder de vista que o cenário global tem um marco divisório na passagem de julho para agosto, momento em que tornou efetiva a renovação da crise iniciada em 2008, a partir do impasse em torno do endividamento dos Estados Unidos e agravamento da situação fiscal de relevantes integrantes da zona do euro e questionamentos sobre a situação dos bancos europeus.

Portanto, é necessário observar-se mais um pouco, mas o fato é que o baixo nível de desemprego divulgado e os indicadores confirmando pressões inflacionárias “quebraram” um pouco a expectativa de corte da SELIC no curtíssimo prazo, e, alteraram o comportamento do mercado de juros na BM&F.

Inevitavelmente o Brasil sofrerá reflexos decorrentes da crise internacional, mais intensamente, acreditamos, no fluxo cambial em decorrência de alterações nas projeções de IED´s e déficit em transações correntes. Quanto a eventuais retrações no crédito externo não há preocupações visto que o país dispõe de meios para compensar este fato se ocorrer, mas é preciso considerar que o ambiente interno neste 2011 é diferente de 2008/2009.

No câmbio, os movimentos que ocorrem são efetivos e reflexos diretos do comportamento do fluxo cambial. Não acreditamos em afastamento abrupto e sustentável de alta do eixo de R$ 1,60, embora em nossa perspectiva o fluxo cambial tenha um viés de tendência a tornar-se negativo nas semanas próximas.

Como temos salientado, não vemos razões para especular com o real nem contra e nem a favor, o preço deve ser o que o fluxo determinar, mas o país ainda tem um “colchão de liquidez” expressivo, representado pelos dólares de exportadores represados no exterior, e que, finalmente parece que ingressarão sempre que a taxa cambial evidenciar uma melhora de preço.

Os bancos deixam evidente que já não têm interesse em manter posições vendidas neste momento, provavelmente as manterão “square”, niveladas, sem necessariamente construírem posição comprada no mercado físico à vista.

Neste momento têm uma posição muito confortável no mercado de derivativos onde estão “comprados” líquidos em US$ 10,4 Bi, sendo os “donos da liquidez”, e estão certamente esperando os “hedge funds”, que devem estar em desconforto com um posição “vendida” líquida de US$ 14,6 Bi, se habilitarem para zerar este posicionamento. Neste momento, o preço do dólar deverá ter uma alta pontual decorrente deste quadro, mas que se sustentará até que o mesmo seja superado.

 

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