Subir, subir e depois cair, cair, este movimento ondular do mercado financeiro global evidencia que não há fundamentos críveis, deixando-o à mercê de movimentos especulativos pontuais, em especial a partir das bolsas de valores, que acentuam os…
Subir, subir e depois cair, cair, este movimento ondular do mercado financeiro global evidencia que não há fundamentos críveis, deixando-o à mercê de movimentos especulativos pontuais, em especial a partir das bolsas de valores, que acentuam os volumes de vendas a descoberto, provocando quedas acentuadas, para depois das devidas compras de cobertura, serem alteradas para altas inexplicáveis, descoladas na realidade do cenário deprimente das economias dos países ditos desenvolvidos.
Um dado negativo ou positivo disperso e sem grande significado por faltar harmonia no todo, é habilmente potencializado, e quando nem um nem outro surge, alimentam-se as “esperanças” em perspectivas, e, assim se desenvolve o cenário dos inúmeros segmentos financeiros do mercado global, tendo ao fundo uma situação extremamente deplorável e de difícil recuperação no curto/médio prazo.
A “esperança” agora está centrada na reunião da próxima sexta-feira no FED de Kansas City em Jackson Hole, Wyoming, quando o mercado financeiro por seus “players” principais alimenta a expectativa de que o Presidente do FED, Ben Bernanke, anuncie novas benesses capazes de alavancar a economia lenta, e, como consequência reative nova rodada de intensificação de liquidez.
Difícil imaginar um “QE3” num ambiente em que os bancos estão excessivamente entesourados e aplicados no FED, montante muito acima de US$ 1,0 tri, “represando” o crédito, ao mesmo tempo em que grandes empresas também revelam excessos de caixa. Então, as medidas não deveriam ser esperadas por benesses aumentando a liquidez, mas sim no sentido de desestimular o represamento de recursos pelos bancos, reduzindo a zero ou até em caso extremo negativando a rentabilidade, que parece improvável, mas que décadas atrás foi praticada pela Suíça.
A saída seria o governo americano intensificar os investimentos em infraestrutura, mas há o problema das disputas políticas entre republicanos e democratas, que mais uma vez poderia inviabilizar esta opção, se for a escolhida.
Ao que tudo indica, a economia americana, que historicamente sempre teve muita força para a recuperação, parece desta vez ter sido atingida na indispensável “confiança”, e, isto está travando o crédito por parte dos bancos e os investimentos por parte das empresas, assim, não há geração de empregos e nem de renda.
Não é um problema de fácil solução, sendo mais para psicólogo do que para economista!
Hoje foi divulgado um dado positivo, com os pedidos de bens duráveis em julho tendo crescido 4,0%, depois de queda de 1,3% em junho. As projeções estavam em 1,9%. Excluindo-se as ordens de transporte por serem voláteis, a alta foi de 0,7% ante projeção de queda de 0,5%.
Este dado pode provocar volatilidade nas bolsas americanas que indicavam queda no pré-mercado e podem potencializar este dado e revelar alguma recuperação.
O Japão que continua “patinando” sem encontrar saída para a letargia de sua economia, acaba sofrendo novo golpe com o rebaixamento da sua dívida soberana pela agência de rating Moody´s, que da mesma forma, rebaixou as notas dos principais bancos japoneses.
Defensivamente para evitar uma supervalorização do Yen, que prejudicaria sobremaneira a viabilização de suas exportações com foco no soerguimento de sua atividade econômica, o Japão criou um fundo com US$ 100,0 Bi para atuar contendo a valorização de sua moeda.
Na Europa o quadro econômico parece não oferecer qualquer possibilidade de melhora, o problema é muito complexo e já há muitas insinuações sobre possíveis rompimentos de países com a moeda única, o euro, o que seria um agravante a mais, pois poderia provocar efeitos em cadeia e desacreditar a união dos países.
Cada vez mais parece que a região terá que passar por uma recessão econômica, com situações bastante díspares entre os países.
No Brasil, o Ministro Mantega fez um interessante discurso ontem, teoricamente muito bom, na medida em que enfatiza a consolidação fiscal para redução do juro. Contudo, entre a teoria e a prática sabe-se que ocorre sempre uma enorme distância, já que a propensão ao gasto por parte dos governos é predominante, e, substantivamente marcada pela má qualidade. Na realidade num ambiente de excesso de arrecadação, já que aumenta muito mais do que o crescimento da economia, o superávit que vem sendo alcançado passa ao largo de uma política focada em cortar gastos.
No cenário do câmbio, alguns detalhes a observar.
O fluxo cambial deste mês, embora registre um superávit de US$ 7,76 Bi até sexta-feira última, como destacado ontem pela autoridade monetária, decorre do massivo ingresso de dólares de exportações que estavam represados no exterior já liquidados, algo como US$ 6,66 Bi, dos US$ 17,0 Bi existentes na virada do mês, e o fluxo financeiro liquido foi de tão somente US$ 1,1 Bi.
A curva do fluxo cambial é claramente tendente a tornar-se deficitário, sendo que na última semana de 15 a 19 de agosto, foi positivo em somente pouco menos de US$ 200,0 M.
Acreditamos que há efetiva tendência de acentuar-se o fluxo de saída de recursos do país e retração nos ingressos, o que levará o resultante a deficitário em suas performances nas próximas semanas.
O déficit em contas correntes de janeiro a julho está em US$ 28,945 Bi, maior desde o início da série histórica do BC em 1947, e deve ser agravado com a intensificação de remessas de juros, dividendos, lucros s/capital e antecipações de compromissos externos em moeda.
Por outro lado, é razoável admitirmos que os IED´s tendem a revelar contração, pois as empresas investidoras podem optar pela liquidez de seus caixas nesta fase de incertezas. O dado estatístico dos IED´s de US$ 38,4 Bi de janeiro a julho, o maior da história, precisa ser considerado com ressalvas, já que não é um dado puro, pois mixa IED´s com empréstimos “intercompany”, um vício do Brasil antigo que precisava mascarar resultados e que já deveria ter sido abandonado pelo BC. Empréstimo, na acepção, é algo que precisará ser devolvido na data certa, portanto, assim deveria ser considerado, a despeito de “intercompany”. Provavelmente, num futuro breve e compatível com o Brasil melhor de hoje, o MF, BC e RFB regulamentem o “caixa único” por parte de empresas multinacionais, que assim poderiam realizar movimentos de recursos com maior clareza.
Os bancos estão reduzindo suas posições “vendidas”, agora em torno de US$ 1,99 Bi, já que do fluxo positivo de US$ 7,76 Bi só venderam ao BC através os leilões diários US$ 4,732 Bi.
Esta postura encerra um longo ciclo em que os bancos assumiram posições “vendidas” elevadíssimas, diretamente estimulados pelo BC, com foco na apreciação do real visando a contenção das pressões inflacionárias, num papel por vezes principal e por vezes coadjuvante da taxa de juro.
Os bancos mantêm posição comprada líquida nos derivativos no montante de US$ 11,0 Bi, predominantemente em “cupom cambial-DDI” com US$ 10,4 Bi, estando confortável ante o cenário que consolida uma perspectiva do preço da moeda americana em torno de R$ 1,60, com o juro com viés de baixa.
Numa zona de possível desconforto estão os “hedge funds” com posição vendida líquida nos derivativos no montante de US$ 15,6 Bi, predominantemente em “cupom cambial-DDI” com US$ 14,6 Bi, aposta focando baixa do dólar e alta do juro, exatamente o contrário da perspectiva atual.
No mercado à vista, salientando mais uma vez, não vemos fundamentos para apostar nem contra e nem a favor do real. Primeiro por não ser moeda de reserva de valor, não suscita pressões de compra nos derivativos, e segundo, por estar defendida por reservas cambiais expressivas não sugere pressões de venda nos derivativos.
Assim, tende a ter o preço que o fluxo determinar, e tudo leva a crer que, no cenário atual, deva manter-se no entorno de R$ 1,60, visto que quando intensifica-se a demanda que faz o preço elevar-se, os exportadores que detém dólares liquidados e represados no exterior ingressam com a moeda, dando liquidez ao mercado à vista, já que com a redução das posições “vendidas” dos bancos, reduziu-se o espaço para estruturar operações com estes recursos, sendo melhor ingressá-los no país.
Acreditamos mesmo, que nem a flutuação da moeda americana ante as demais moedas fortes no exterior, terá repercussões simétricas no preço local.