Há várias formas de entender-se o conteúdo do Relatório Trimestral de Inflação, onde há conteúdo bastante consistente no sentido indicativo de uma alta da taxa SELIC já em janeiro, ao considerar que o cenário prospectivo para a inflação evolu…
Há várias formas de entender-se o conteúdo do Relatório Trimestral de Inflação, onde há conteúdo bastante consistente no sentido indicativo de uma alta da taxa SELIC já em janeiro, ao considerar que o cenário prospectivo para a inflação evolui desfavoravelmente.
E como uma demonstração de rigor de análise crítica sobre o momento, evidenciando convicção de que elevar o juro é imprescindível para conter as pressões inflacionárias, procurando deixar uma imagem de que não alterou o rigor de sua postura, fato que vinha sendo destacado após a mais recente reunião do COPOM, mas ao justificar as razões que fundamentaram a não adoção da decisão já em dezembro, destacou que é necessário observar os efeitos das medidas “prudenciais” adotadas, aparentemente mais não ditas, por conta e ordem do novo governo
Outra, que na despedida procurou reafirmar sua característica marcante que sempre foi posição de firmeza, tão somente isto, embora sabendo que a próxima reunião do COPOM já estará “sob nova direção”, e as medidas “prudenciais”, certamente, ainda não terão proporcionado “dados concretos” sobre seus efeitos contracionistas nas pressões inflacionárias advindas do consumo.
Isto deixa em aberto a dúvida sobre a elevação ou não da SELIC em janeiro, podendo ser postergada para março próximo, levando o mercado financeiro a conviver com esta incerteza por um período mais longo.
Pelos sinais até agora “emitidos” pelo novo governo, o juro deixará de ser o único instrumento utilizado na política de controle da inflação, e, ao não proceder a elevação em janeiro, pode ser uma sinalização forte de que a mudança de estratégias será efetiva.
Enquanto ocorre a transição, o preço do câmbio para o ano e até para os primeiros meses de 2011 está dado, devendo ficar no entorno de R$ 1,70, sendo utilizado com “âncora” do controle da inflação, até que possa ser implementada a mudança da matriz que, atualmente, utiliza juro elevado e real apreciado, para uma nova formulação mais sustentável e mais estratégica.
O mercado de câmbio perdeu volume reduzindo o volume de giro no interbancário.
Os bancos que operam em câmbio, até a última divulgação de dados do BC, registravam no mercado à vista posição “vendida” total de US$ 15,0 Bi. No mercado futuro de dólar, até ontem, estavam “vendidos” US$ 400,0 MM e, no cupom cambial-DDI “comprados” US$ 8,58 Bi.
Os “hedge funds”, ontem, mantinham posição “vendida” de US$ 2,3 Bi no mercado futuro de dólar e também “vendida” no cupom cambial-DDI de US$ 7,54 Bi.
Ao final de novembro, os exportadores ainda retinham no exterior US$ 22,7 Bi resultantes de exportações já pagas e com recursos não ingressados no país, enquanto os importadores tinham posição “em ser” a ser liquidado de US$ 5,6 Bi, o que corresponde a um fluxo cambial ainda não consignado nas estatísticas de ingresso e saída da ordem de US$ 17,09 Bi líquidos.
Projetar o próximo ano neste momento pode gerar indicativos que não se sustentem.
O cenário externo perdura complicado e sem tendências perceptíveis, a não ser a certeza de que as incertezas e volatilidades devem persistir.
O cenário interno convive com otimismo, mas, certamente, 2011 será um ano com obstáculos maiores.
Nossas deficiências estruturais vêm ganhando forte evidência e por isso devemos crescer menos, sendo necessário desaquecer a demanda interna, e a sociedade consumidora emergente poderá sentir mudanças, que serão inevitáveis.
O cenário cambial poderá não ser tão benigno, embora os setores envolvidos ainda persistam estimulando um cenário de otimismo.
Enfim, é necessário esperar para ter-se uma visão prospectiva mais consistente, pois, certamente, 2011 terá que ser diferente de 2010, embora o foco no crescimento e o controle da inflação deva persistir, porém com perfis que construam a sustentabilidade.