Análise do Mercado – 22/12/2010

O expressivo aumento de 30% na projeção do déficit em transações correntes para 2011, elevando-a para US$ 64,0 Bi, já é algo que passa a merecer maior foco do mercado, embora ancorado por projeções otimistas do governo em relação aos…

O expressivo aumento de 30% na projeção do déficit em transações correntes para 2011, elevando-a para US$ 64,0 Bi, já é algo que passa a merecer maior foco do mercado, embora ancorado por projeções otimistas do governo em relação aos ingressos de IED´s em US$ 45,0 Bi e melhora da performance do país no comércio exterior, projetando superávit de US$ 17,0 Bi.

Numa primeira leitura, nos parece que a projeção do déficit em transações correntes está melhor ancorada em fundamentos do que as projeções sobre as origens dos recursos para financiamento do mesmo.

Num ambiente de câmbio flutuante livre este cenário teria repercussão nos preços futuros da moeda nacional, mas no Brasil, ainda, o preço da moeda é fortemente afetada por intervenções excessivas do governo e indutoras de sua valorização, sem perder de vista a elevadíssima influência, também, dos mercados de derivativos na formação do preço e mixando-o com o mercado de juros, onde temos expressiva distorção ao praticarmos a maior taxa de juro real do mundo, embora sejamos considerados um país “investment grade”.

Embora o Brasil continue merecendo destaque sendo a 3ª opção de destinação de investimentos, há um crescente de oportunidades em países emergentes que vem consolidando níveis de crescimento sustentável, que passaram a competir com o Brasil as preferências e alguns deles têm vantagens relativamente bastante favoráveis.

O Brasil, necessariamente, terá que desaquecer o ritmo de sua atividade econômica, mudando as suas dinâmicas de política monetária e política fiscal, e tendo uma política cambial menos afetada pela necessidade de manter o real excessivamente apreciado para ser “co-âncora” do controle inflacionário. Ao mesmo tempo precisará focar com rigor as suas deficiências estruturais para habilitar-se ao crescimento sustentável e fazer as reformas tributária, trabalhista, etc., que têm sido postergadas. Empregar e produzir no Brasil impõe um custo elevado às empresas e esta percepção está levando setores importantes a optar pela importação de bens e serviços externos em detrimento do nacional.

Na agenda Brasil existem alguns eventos pontuais catalisadores de investimentos externos, sendo necessário que confirmem as expectativas em torno dos mesmos. Por outro lado, a recuperação da atividade do comércio exterior pelo setor industrial depende de preço mais equilibrado da moeda americana, desonerações e incentivos à exportação. O mundo, devido à crise, acirrou a concorrência, fortalecendo mais os países que protegem suas moedas da valorização excessiva.

O Brasil tem a vantagem de ser produtor de “commodities” fortemente demandadas pelo mundo todo, mas que faz refluir pressões inflacionárias internas, e está com baixíssimo nível de competitividade nos produtos industrializados.

Os investimentos estrangeiros em renda fixa e variável, também fontes de financiamento, ainda suscitam dúvidas, visto que para renda fixa desde outubro é estacionário devido à imposição do IOF, que acabou afetando não somente o curto prazo, mas também, o longo prazo. E a BOVESPA, que chega ao final deste ano vacilante, poderá ter a concorrência de outras bolsas com perspectivas melhores de ganhos.

Para quem entendia que as medidas “prudenciais” do BC não seriam necessárias e procuram até subestimar os efeitos, a manifestação do Comitê da Basiléia alertando para o risco de ocorrência de bolha de crédito e citando o Brasil dão dimensão à importância das medidas. O BC argumenta que a mudança estrutural do país dá segurança ao crédito, e deixa evidente: que identificou aumento de risco na extensão do prazo das operações e aumento do parcelamento no crédito a pessoas físicas, fato que determinou as medidas.

E, não foi só o contingenciamento de prazos e requerimentos de capital por parte dos bancos, aumentou o compulsório retirando considerável montante de recursos.

Como a inflação vem sendo pressionada pelo aquecimento da demanda de varejo, as medidas tiveram dois objetivos claros: diminuir as pressões inflacionárias e cautelar para evitar agravamento da inadimplência, que é crescente.

Esta mudança introduzida pelas medidas “prudenciais” parece estar sendo subestimada pelos formuladores de indicadores econômicos em projeção, mas certamente provocarão impactos mais efetivos do que a opção de elevar o juro, visto que o consumidor emergente não se deixa afetar pela elevação do juro desde que a prestação encaixe no orçamento familiar. As medidas do governo provocarão uma ruptura neste encaixe, pois elevarão as parcelas pela elevação do custo e, principalmente, pelo encurtamento do prazo.

Estas variáveis postas, a partir das resultantes, deverão ter influência sobre a formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio ao longo de 2011.

Da mesma forma poderão afetar os prognósticos para inflação e taxa de juro SELIC.

Nossa percepção continua sendo de que o novo governo, sem perder de vista o controle inflacionário, focando o crescimento sustentável moderado em torno de 5,0%, promoverá mudanças importantes na forma de gestão, e isto restringirá necessariamente as bondades e tornará imperativa algumas “maldades”, se assim podem ser definidas.

Não há mais como preservar a prática única de elevar o juro e apreciar o real. Este modelo está esgotado e não pode ser persistido sob risco de colocar o país em lento retrocesso, anulando as conquistas.

Por ora, o real tenderá a manter-se apreciado, satisfazendo o interesse de todos os “players” e também do próprio governo que o utiliza como antídoto à inflação, e este cenário deverá perdurar ainda por um período necessário para que o novo governo imponha sua marca e introduza mudanças de gestão.

Porém, acreditar que teremos em 2011 mais do mesmo, nos parece um engano.

http://www.bcb.gov.br/htms/relinf/port/2010/12/ri201012P.pdf

RELATÓRIO DE INFLAÇÃO TRIMESTRAL – BCB – HOJE

 

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