Análise do Mercado – 03/01/2011

O país está sob nova direção e, embora com uma marca de continuísmo, espera-se que seja bastante diferente nas estratégias objetivando de forma sensata e sustentável os mesmos fins, até porque, há imperativa necessidade de mudanças já…

O país está sob nova direção e, embora com uma marca de continuísmo, espera-se que seja bastante diferente nas estratégias objetivando de forma sensata e sustentável os mesmos fins, até porque, há imperativa necessidade de mudanças já que o modelo de gestão antecedente tem a sua continuidade praticamente inviabilizada pelo esgotamento e insustentabilidade, por apontar para uma deterioração fiscal comprometedora com riscos de impor ao país um lento retrocesso.

O sucesso é inebriante e ofusca, por vezes, a observância de maior controle acabando por corroer a sua sustentabilidade. Acreditamos que este seja o quadro atual do país, cabendo então, ao novo governo, as atitudes corretivas indispensáveis para que o crescimento não seja interrompido, mas que, embora menos exuberante, seja ancorado com foco em maior rigor na gestão, otimizando a alocação de recursos na construção da infraestrutura de sustentação e focando estimular de forma mais acentuada os setores produtivos do país, com desoneração premiando o empreendedorismo, que gera emprego e renda.

A mudança da matriz de política econômica ancorando as pressões inflacionárias advindas do forte consumo interno estimulado por crédito abundante e gastos governamentais excessivos e de baixa qualidade, com a prática de juros elevados e taxa cambial deprimida é fundamental e prioritária, até porque seus efeitos colaterais na economia são extremamente nocivos.

A tônica das novas diretrizes do governo empossado parece alinhada com uma forma diferente de administrar, corretiva sem conduzir-se ao inerte, mas redefinindo prioridades e assumindo maior rigor fiscal e com gastos mais qualificados e focando infraestrutura; menor incentivo ao consumo pelo crédito abundante que pode provocar “bolhas” e crescente inadimplência; menos generoso nos financiamentos a longo prazo pelo BNDES, ao envolver a participação do setor privado mediante estímulos adequados, mas considerando a elevação do investimento prioridade; focando menor utilização da taxa de juro como fator principal da contenção inflacionária e desatrelando o dólar como instrumento coadjuvante neste esforço, com grande prejuízo ao desenvolvimento da indústria nacional, na medida em que passou a estimular não a complementaridade da produção nacional, mas sim, efetivamente a substituição do produto nacional pelo importado.

Por isso, nos parece prematura a consideração de projeções de inflação, juro e taxa cambial para 2011, pois, certamente, poderão ser significativamente alteradas na medida em que se altere a matriz de gestão antecedente.

Gastando menos e com maior qualidade e controlando melhor a expansão do consumo estimulado por crédito, certamente as pressões inflacionárias tenderão a ser menores, o que pode evitar a precipitação de elevação da SELIC. Ao mesmo tempo, o dólar poderá ser liberado pelo governo do seu papel de “âncora-coadjuvante” no controle da inflação e poderá recuperar preço mais adequado, não explosivo, mas menos comprimido pelos movimentos dos bancos pró-apreciação do real estimulado pelo BC através os seus leilões de compra de dólares diários indo além dos excedentes do fluxo.

Com a SELIC atual é extremamente onerosa para o governo a elevação e manutenção das reservas cambiais, visto que o diferencial existente entre o juro interno e o externo é extraordinariamente elevado, tendo provocado em 2010 custo de carregamento acima de R$ 50,0 Bi, visto que o país não detém poupança para tal fim.

Neste momento, nos parece que o grande empenho do novo governo seja pontuar atitudes novas de impacto, marcando posição e confirmando expectativas.

A “transição” das mudanças demandará alguns meses, mas nos parece evidente que há um esforço em não ceder tão facilmente à elevação da taxa SELIC, tão conclamada pelo mercado financeiro como imprescindível, e para tanto poderá optar por observar melhor os efeitos contracionistas sobre a inflação das medidas “prudenciais” adotadas ao final do ano pelo governo retirante, mas perfeitamente alinhadas com os novos propósitos do novo governo, e neste período manterá estimulada a forte apreciação do real que já se presencia desde o final de 2010, utilizando-a como antídoto mais imediato às pressões inflacionárias.

O Ministro Mantega tem asseverado sua crença de que as pressões são mais fortes advindas dos alimentos. Este é um ponto a considerar, muito embora o mercado financeiro identifique inúmeros outros.

Em perspectiva, a economia americana dá sinais de recuperação melhor do que a esperada, podendo determinar valorização da moeda americana e este é um fator importante para tirar pressão dos preços das “commodities” que ficam extremamente especulados quando se tornam alternativa ao dólar fragilizado.

Portanto, entendemos que as projeções para 2011 ainda carecem de melhores fundamentos, pois as mudanças em perspectiva poderão provocar mudanças substantivas.

 

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