Análise do Mercado – 23/09/2011

Ficou totalmente evidente ontem que o BC sabe exatamente a causa determinante da exacerbação que vinha ocorrendo no preço da moeda americana, muito embora possa atribuir a outros fatores quando seus porta-vozes se manifestam…

Ficou totalmente evidente ontem que o BC sabe exatamente a causa determinante da exacerbação que vinha ocorrendo no preço da moeda americana, muito embora possa atribuir a outros fatores quando seus porta-vozes se manifestam publicamente.

A falta de liquidez no mercado de derivativos, onde há um posicionamento desconfortante dos “hedge funds” com posições líquidas vendidas em “cupom cambial-DDI” da ordem de US$ 13,5 Bi, que correspondem a aposta de “pé trocado”, pois para ser vencedora seria necessário o real se apreciar e o juro subir, vinham provocando pressão sobre a taxa cambial pela busca de zeragem. Os bancos sabendo disto, habilmente, alavancaram do preço do dólar fortemente e com doses sensatas diárias foram ir gerando a liquidez para estes fundos estrangeiros.

Esta dinâmica impulsionava a alta do dólar cada vez mais, mas com os bancos incrementando suas posições “vendidas” de dólar futuro ficava evidente que trabalhavam com a convicção de que aquela alta, promovida por eles mesmos, não era sustentável, e que, passada a zeragem da posição dos “hedge funds” no derivativos, a taxa cambial retornará a níveis de normalidade, algo entre R$ 1,65 a R$ 1,70.

Ocorre que esta estratégia de motivar a alta com base na demanda pontual de “players” mal posicionados elevou demasiadamente a taxa cambial.

Consequência imediata, a alta passou a ter repercussões na mídia e sem que houvesse a propagação das efetivas causas, passou a preocupar empresas com passivos expostos em moeda estrangeira, que também passaram a buscar “hedge”, fato que passou a pressionar ainda mais o ambiente favorável a alavancagem da alta.

Assistindo a tudo, mas não agindo até então, houve por bem o BC gerar liquidez com oferta de “swap cambial” no montante de US$ 5,6 Bi, injeção direta de venda no mercado de derivativos, ou seja, liquidez, após na véspera ter anunciado que não rolaria a posição vincenda em 1º de outubro de “swaps cambiais reversos” no montante de US$ 2,0 Bi, o que também causa um efeito de venda no mercado de derivativos.

A taxa cambial que havia atingido R$ 1,956 recuou até R$ 1,84 ante o anúncio do BC, mas como a zeragem do posicionamento dos “hedge funds” não foi concluída totalmente, visto que o mercado só absorveu US$ 2,7 Bi dos US$ 5,6 Bi ofertados pelo BC, e ainda há empresas com passivo exposto buscando fazer “hedge”, a taxa não sustentou um viés de baixa, passando a volatilidade, o que deve prevalecer até que esta situação pontual seja superada.

O “swap cambial” envolve na sua rentabilidade a formação de uma taxa de juro consequente da variação cambial versus juros, e, o fato do mercado não ter absorvido a totalidade da oferta de US$ 5,6 Bi do BC, deve ter decorrido da não aceitação pelos “players” das condições propostas pela autoridade monetária.

Mas, certamente o BC voltará a realizar ofertas de “swaps cambiais” e só este fato já vem inibindo em parte a pressão altista.

A pergunta mais frequente tem sido sobre “quando” a taxa cambial voltará ao normal. Nosso entendimento é de que será tão rápida quanto os “hedge funds” conseguirem sair desta embaraçosa situação com suas posições no mercado de derivativos.

Ontem, registravam US$ 13,3 Bi de posições vendidas líquidas no mercado de “cupom cambial-DDI”, e haviam conseguido elevar suas posições “compradas” de dólar futuro de US$ 6,4 Bi para US$ 9,6 Bi.

Os bancos mantiveram suas posições compradas líquidas de US$ 7,0 Bi em “cupom cambial-DDI”, e aumentaram suas posições vendidas em dólar futuro de US$ 8,5 Bi para US$ 11,1 Bi, demonstrando total convicção de que a taxa cambial cederá proximamente.

Pensamos que comete um equívoco quem aventa a possibilidade do governo vir a voltar atrás na tributação de IOF sobre os derivativos. Em tempo de crise, não pode deixar abertas “portas” para especulações, até porque é de todo interesse do governo neste momento ter uma taxa cambial equilibrada, e este ponto, nos parece estar no intervalo entre R$ 1,60 a R$ 1,70.

O que deve ocorrer é uma atuação mais constante do BC no mercado de derivativos, monitorando-o para gerar liquidez sempre que houver demanda legítima, de forma a não deixar desprotegidas empresas que efetivamente precisam de “hedge”, e, ao mesmo tempo, manter sob observação o mercado físico à vista, verificando os fluxos e atuando “cirurgicamente” para evitar desequilíbrios.

O Brasil, como temos salientado, está bem defendido no cenário da crise; sofrerá solavancos por estar inserido na economia global, mas, agora, não será pelo câmbio que teremos a leitura destes impactos.

O país não tem carência de crédito externo, não está endividado, tem meios próprios (reservas cambiais e depósitos compulsórios dos bancos) para suprir o mercado financeiro com eventuais retrações externas.

No exterior, esperamos piora, muita piora, entendemos que haverá um agravamento maior da crise, e que nem Estados Unidos e nem Europa sairão deste quadro sem conviverem com recessão, e a Europa, adicionalmente com abalos no seu setor financeiro.

Nossa recomendação persiste, sensatez e calma aos que estão passivos em moeda estrangeira, enquanto os que têm haveres a vender que os vendam agora.

 

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