Análise do Mercado – 22/09/2011

Os agentes do mercado financeiro global criam suas ficções movidas por anseios, fomentam otimismos num cenário que sugere cautela e tem poucas perspectivas de recuperação sustentável no curto/médio prazos, e, por fim…

Os agentes do mercado financeiro global criam suas ficções movidas por anseios, fomentam otimismos num cenário que sugere cautela e tem poucas perspectivas de recuperação sustentável no curto/médio prazos, e, por fim decepcionam-se com a realidade, ao não confirmar suas projeções visionárias.

Estavam fora da realidade, queriam uma surpresa!!!!!

E saliente-se, pouco e ainda com 3 votos de Presidentes regionais do FED contrários.

O problema nos Estados Unidos, nos parece, está mais afeito a buscar soluções na área da psicologia do que na economia. Os esforços possíveis já foram realizados pelo governo americano, que reduziu drasticamente a taxa de juro para estimular a recuperação da atividade econômica e inundou o mercado financeiro com recursos para salvar irresponsáveis banqueiros e fomentar o crédito. Salvou bancos, endividou-se de forma dantesca e não resolveu os problemas da sua economia.

A perda de confiança conspira contra a retomada. Bancos recebem recursos e não emprestam, preferindo aplicar no próprio FED. Empresas não investem, pois percebem a demanda fraca, decorrente da queda na renda dos americanos causada pela perda do emprego. Desta forma, a economia não gira, está travada.

A economia americana perdeu maior aliado, o forte consumo interno sustentáculo do seu PIB e fomentado pelo consumismo de sua sociedade.

As agências de rating, desgastadas na fase inicial da crise a partir de 2008 pelo excesso de erros, parecem mais vigilantes neste momento e, assim, a Moody´s rebaixou os “ratings” do Citigroup, do Wells Fargo e BofA Merryl Linch, que têm alguns senões, mas principalmente pelo fato de que se vierem a ter necessidade de algum suporte do governo, este não está em condições de ancorá-los como fez num passado recente.

É um problema que vai muito além dos incentivos na área da economia e de difícil equacionamento para superação.

O ajuste dos ativos será forte hoje, com as bolsas americanas com movimento “sell off”, os T-Bills em forte valorização, apontam neste momento rentabilidade de 1,78% para 10 anos, o dólar se fortalece firmemente frente as demais moedas fortes exceto o Yen, o petróleo cai 5,27% cotado a US$ 81,37, o ouro cai 4,01% cotado a US$ 1.735,90, e o clima fica “meio em pânico”.

Na Europa, o quadro é mais tétrico e complexo, pois diversificado por várias economias que têm dificuldades em sustentarem-se em bloco. Em condições viáveis, somente a Alemanha e a França estão melhores, embora esta com o sistema bancário comprometido pela excessiva alavancagem com títulos de países praticamente em “moratória branca”.

A moeda da união, o Euro, está em risco e pode sofrer com eventual desagregação dos países. Hoje se desvaloriza frente ao dólar.

A agência de rating Standard & Poors, após ter rebaixado o risco soberano da Itália, ontem colocou o risco de mais de 10 bancos italianos em perspectiva negativa.

O mundo tem dificuldades em encontrar onde alocar suas riquezas financeiras com efetiva garantia, por isso há uma mutação constante de posicionamentos em ativos diversos e criam-se bolhas aos imputar-se aos mesmos valores incompatíveis com as suas realidades.

Esta tomada de consciência está fortalecendo o retorno dos investidores aos T-Bills americanos, pois os Estados Unidos a despeito do mau momento ainda é um país economicamente forte e se não é o desejável, ainda é a melhor opção sobre o que existe como opção.

É uma crise que em perspectiva deve se agravar, pode ser diferente da de 2008, da qual é continuação, mas não se pode descartar que pode ser mais duradoura e com menores alternativas de saídas, deixando, na sua gradualidade, “estragos” maiores na economia mundial.

Hoje temos nova rodada de desalento dos mercados, com “sell off” nas principais bolsas com pesadas baixas, moedas oscilando entre si consubstanciada no conceito empírico de quem está pior no confronto dos quadros fragilizados das economias.

A questão da Grécia depende só de um pouco mais de tempo para o “default”, pois a despeito dos esforços dos países da eurozona, do próprio BCE, FMI, etc., a questão está ficando politicamente insustentável pelo governo grego ante a sua sociedade, e isto tornará insustentável a situação que poderá provocar a ingovernabilidade.

Quebrando a Grécia, a fila anda e virão outros na sequência.

É difícil ter uma visão otimista para o quadro americano e europeu sem admitir que haverá uma nova rodada de recessão, para depois haver o início da recuperação.

A China, gigante dos tempos atuais, tem se mostrado menos vigorosa nos seus desempenhos e está focada em aproveitar a oportunidade de avançar sobre mercados que não lhe reconhecem como economia de mercado, em troca de apoio financeiro. A “moeda de troca” exigida pela China é dura de ser aceita, mas a fragilidade dos países europeus poderá levá-los a ceder.

As bolsas asiáticas registraram pesadas baixas acima de 4% hoje, exceto no Japão que caiu, porém menos.

Ontem foram divulgados dados pelo HSBC evidenciando que a atividade industrial na China caiu no mês de setembro, renovando as preocupações de uma desaceleração brusca da economia mundial.

E no nosso Brasil, ante todo o cenário conturbado externo, ainda há constante foco retrospectivo em demasia nas considerações e projeções para o país. Como temos salientado, é preciso olhar mais para frente e menos para o retrovisor, o cenário global sofreu forte agravamento e não adianta ficar fazendo análises e projeções a partir de um passado que hoje é bastante assimétrico em relação ao que existe em perspectiva para a economia global, na qual está inserido o Brasil.

Alguns “dogmas” deverão ser desrespeitados colocando-se prioridades mais emergenciais para que possamos superar o “andar para trás” da economia mundial, e, continuarmos andando o possível para frente.

O câmbio que estava sossegado virou a “estrela” do momento, mas está ensejando, no nosso modo de entender, precipitadíssimas considerações aterrorizadoras e que podem levar incautos a cometer erros expressivos.

A pressão existente sobre o preço da moeda decorre de fatores muito técnicos e que não podem ser abordados com a simplicidade que induz a errática conclusão de que esta havendo uma saída incontrolável de divisas do país como “aversão a risco”. Este tipo de conceituação tumultua o entendimento e irradia um entendimento absolutamente incorreto do quadro atual.

Ocorre que, a medida intervencionista do governo no mercado de derivativos, ambiente de todas as mazelas que apreciaram excessivamente o real no passado e que agora com posições remanescentes provoca sua depreciação, tributando com IOF de 1% as posições vendidas, na forma específica no normativo, tirou a liquidez deste mercado e “descontaminou” a formação do preço da moeda americana da especulação que forçava demasiada e especulativamente a artificialização que o depreciava e em contrapartida apreciava o real.

Ocorre que, nesta intervenção os “hedge funds” (fundos estrangeiros) que estavam especulando pró-apreciação do real e alta do juro ficaram com posições “vendidas” líquidas em “cupom cambial-DDI”, das quais ainda restam expressivos US$ 13,5 Bi sobre as quais estão com risco de substantivo prejuízo, já que o cenário alterou-se contrariamente as suas apostas.

Com a quase ausência de liquidez neste segmento dos derivativos, os “hedge funds” estão buscando aumentar suas posições “compradas” no mercado de dólar futuro, como alternativa de minimizar os prejuízos. Ocorre que a liquidez neste segmento também está bastante escassa.

Desta forma, ao ver o cenário externo em rápido agravamento, evidentemente que, estando em posição de desconforto, os “hedge funds” forçam o mercado buscando “comprar dólares futuros”.

A liquidez possível, por outro lado, está em poder dos bancos. No mercado de “cupom cambial” estão comprados liquidamente em US$ 6,9 Bi.

Ontem, houve mais uma rodada e os bancos então aumentaram suas “posições vendidas líquidas” no mercado futuro de dólar de US$ 7,0 Bi para US$ 8,5 Bi, gerando liquidez para que os “hedge funds” elevassem suas “posições compradas líquidas” no mesmo mercado futuro de dólar de US$ 4,9 Bi para US$ 6,4 Bi.

A pressão altista vem do mercado de derivativos, já que o curso do mercado físico à vista segue sem grandes impactos diretos, mas simplesmente sendo contaminado pela taxa cambial advinda do mercado de derivativos. O giro do interbancário no mercado físico à vista, ontem, foi de US$ 1,7 Bi.

O fato relevante a observar com atenção é que os bancos estão elevando suas “posições vendidas líquidas” num ambiente de taxa cambial em alta, o que em tese seria um contrassenso, mas este comportamento deixa evidente que os bancos “têm o mercado à mão” e operam com a convicção que depois que os “hedge funds” conseguirem zerar o incômodo posicionamento que detêm no mercado de derivativos, a taxa cambial atual não se sustentará nos patamares atuais e, então, cobrirão as posições “vendidas” líquidas que estão construindo a preços de dólar muito mais baixo.

O BC evidentemente acompanha com “lupa” o andamento dos movimentos nos mercados envolvendo câmbio, e, claramente sabe que o problema não está no mercado físico à vista, que está sendo “vitimado” pelo contágio advindo dos derivativos.

Previdentemente, ontem, divulgou ao mercado de câmbio que não iria realizar a rolagem da posição de “swaps cambiais reversos” vincenda em 1º de outubro próximo no montante próximo de US$ 2,0 Bi. Esta atitude de não rolagem implica num efeito venda de igual valor no mercado de derivativos.

Hoje, como as pressões continuaram em decorrência da restrita falta de liquidez nos derivativos, o BC anunciou a realização de oferta de “swap cambial” de 112.290 contratos, equivalentes a US$ 5,6 Bi, o que impactará como efeito venda no mercado de derivativos.

Com isto a autoridade promove uma oferta de liquidez da ordem de US$ 7,6 Bi e, naturalmente, a taxa cambial deverá repercutir cedendo na sequência.

Certo é que a taxa cambial elevada por razões muito técnicas e não facilmente entendida pela grande maioria, absolutamente fora do ponto para o contexto brasileiro “vis a vis” a cena internacional já que não há fuga descontrolada de capitais do país, acaba por irradiar “temores desnecessários” que acabam sendo superlativados pela mídia e que acabam contaminando precipitadamente preços da economia ou projeções catastróficas sem fundamentos aceitáveis.

A intervenção do BC foi pontual e não se pode dizer que tenha sido “bondosa” para com os especuladores, pois deixou que o mercado impusesse aos mesmos “castigo relevante”, para depois, com foco no interesse maior do país, comparecer ofertando “hedge” no mercado de derivativos.

A questão agora é ver se as condições financeiras dos “swaps” serão aceitas pelo mercado, mas este já é um outro problema.

O impacto foi imediato na taxa cambial, que após ter aberto chegando a R$ 1,956 já cai a R$ 1,87 e poderá cair mais.

Até a zeragem destes posicionamentos dos “hedge funds” poderemos ter alguma volatilidade, mas na ponta projetamos o preço retornando ao entorno de R$ 1,65/1,70, e não estamos sozinhos nesta perspectiva, os bancos também estão convictos de que isto ocorrerá, pois continuaram aumentando suas posições “vendidas” líquidas no mercado futuro de dólar.

É absolutamente recomendável que as empresas com exposição em moeda estrangeira não se precipitem indo em busca de “hedge” neste momento, pois acabarão fazendo uma má proteção, pagando caro.

Como já temos salientado, os efeitos e impactos da crise internacional chegarão ao Brasil, pois afinal não somos uma ilha, mas, certamente, não teremos exacerbações na formação da taxa cambial, que deve flutuar de acordo com os fluxos, descontaminada de movimentos especulativos, já que o governo deu um bom “check mate” na especulação, mesmo que se possa considerar que atingiu mais do que isto, havendo o que aperfeiçoar nas normas.

Em perspectiva, provavelmente será necessária uma frequência maior do BC no mercado de derivativos para suprir liquidez dentro do contexto de demanda natural e não especulativa, afastando-se um pouco de suas intervenções no mercado à vista, que deverá ser posto em observação quanto ao comportamento e capacidade do fluxo autossustentar-se sem provocar distorções na formação do preço.

 

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