Análise do Mercado – 22/12/2011

Há um velho ditado que diz: “quando a esmola é demais, o santo desconfia!”
Parece que foi este o entendimento do mercado global ontem, que iniciou seus negócios…

Há um velho ditado que diz: “quando a esmola é demais, o santo desconfia!”

Parece que foi este o entendimento do mercado global ontem, que iniciou seus negócios considerando positiva a iniciativa do BCE em fazer uma oferta de liquidez aos bancos europeus a uma taxa subsidiada de 1% aa pelo prazo de 3 anos, mas que ao tomar conhecimento do tamanho da injeção de recursos, algo próximo a Euros 500,0 Bi ante esperados máximos Euros 300,0 Bi, com um número de beneficiados da ordem de 523, também muito acima da expectativa, pois envolve praticamente 100% dos bancos dos 17 países que utilizam o euro, o que era considerado positivo transfigurou-se em preocupante, e o humor mudou.

Ficou a sensação final de que os problemas envolvendo os bancos europeus podem ser maiores do que até então perceptível.

Chama atenção os rumos que toma a alavancagem do BCE, agora com um balanço evidenciando algo próximo de US$ 3,9 Tri, praticamente US$ 1,0 Tri acima da alavancagem do FED americano que está em US$ 2,9 Tri, e ressalte-se, praticamente nenhum avanço sustentável e crível foi alcançado pelo BCE, envolvido pela alta complexidade de economias e situações fiscais díspares dos países membros, envolvidos com os bancos credores que fragilizam o sistema bancário europeu.

Cada vez mais fica evidente que se não prosperar o plano de imposição das normas estabelecidas no início da eurozona, com o estabelecimento do órgão centralizador do controle geral da situação com poder de interferência, não há porta de saída da crise, pois financiamentos isoladamente, sem uma disciplina com comprometimento assumido por todos os países, só posterga o problema, não o resolve e gradativamente vai aumentando a complexidade.

Nos Estados Unidos a divulgação da revisão do crescimento do PIB no 3º trimestre indicando 1,8% decepciona, ante expectativa de que os 2,0% fossem mantidos. Crescimentos abaixo de 2% suscitam sempre especulações sobre propensão à recessão, mas os economistas americanos estão considerando baixa esta possibilidade. Este dado coloca pressão sobre o Congresso americano para que decida favoravelmente aos benefícios à população propostos pelo Presidente Obama.

O numero de seguro-desemprego da última semana evidenciou 364.000 novos pedidos, abaixo da expectativa de 380.000 e também dos 368.000 pedidos registrados na semana antecedente.

No Brasil, o BC colocou hoje ao mercado o seu Relatório Trimestral de Inflação, após ter divulgado ontem a Nota de Politica Monetária e Operações de Crédito do SFN, já tendo feito dias atrás a divulgação da Nota do Setor Externo. São peças relevantes que evidenciam dados recentes e projeções da autoridade monetária.

Como já salientamos, entendemos que os dados relativos à IED´S, saldo de balança comercial, fluxo líquido de ingressos para o mercado acionário e déficit da conta transações correntes para o ano de 2012 nos pareceram muito otimistas, um tanto quanto equidistantes do cenário prospectivo do fluxo cambial que vislumbramos para o Brasil, não tão benigno e com impacto na formação do preço da moeda americana ao longo de 2012.

A rigor, vemos na taxa cambial um risco forte de ser um fator de pressão inflacionária, podendo inibir a positiva intenção do governo em reduzir a taxa de juro SELIC.

Ruim para a inflação, porém poderá restituir um grau maior de nacionalização aos produtos da indústria brasileira, já que sofreram forte desnacionalização pelo crescimento considerável do agregado importado. Aumenta também a capacidade exportadora da indústria, porém a concorrência externa, ante o cenário predominante, estará cada vez mais competitiva.

O BC, ao divulgar sua projeção para o IPCA 2012 em 4,7%, sinaliza otimismo, após algo em torno de 6,5% que será o resultado apurado neste 2011, mas denota que espera resistências à convergência da curva inflacionária para o centro da meta. O mercado de juro reagiu com alta tão logo o dado tornou-se conhecido, num entendimento imediato de que pode haver obstáculos para a redução da SELIC aos parâmetros que vêm sendo projetados para 2012.

O crédito a pessoas físicas cresceu 4,4% em novembro ante outubro, mas é cedo para atribuir-se isto à revisão das medidas prudenciais, pois pode estar ocorrendo uma troca de passivos extremamente onerosos, não captados nas estatísticas do BC, por passivos no sistema bancário menos oneroso, e não rigorosamente uma expansão.

A projeção do BC que prevê expansão de carteiras de crédito em 15% para 2012, abaixo dos 17,5% deste ano e dos 20,5% em 2010, nos parece otimista, acreditamos em desaceleração maior, e que em grande parte, o crescimento será fomentado pelo crédito imobiliário. Há fatores relevantes a considerar. A curva do emprego é cadente e pode até tornar-se negativa no ano de 2012, e este é um fator altamente impactante na propensão de consumo e endividamento da população e fortemente alavancador da inadimplência.

No que diz respeito ao crescimento do PIB, o BC reviu para 3% sua projeção para este ano e 3,5% para 2012, mais realista do que outros setores do governo vem propagando, mas acreditamos que 3% para 2012 seja mais provável.

Retomando as observações acerca do mercado de câmbio, onde vislumbramos pressões sobre a taxa cambial a partir de um fluxo cambial não tão benigno, é importante observar que o fluxo cambial já foi negativo em outubro (-US$ 134,0 M); novembro (-US$ 942,0 M) e em dezembro até 16 revela pífios US$ 39,0 M positivos, mas com forte propensão a ser negativo.

Consideramos que esta seja uma tendência, até porque não vemos um 2012 melhor do que 2011 no Brasil, e muito pior nos países desenvolvidos, o que prejudica a capacidade dos mesmos, suas empresas e pessoas físicas em investir, face ao aumento das restrições de crédito e necessidade de preservação de liquidez de caixa.

Se olharmos os dados de estoques de exportações a contratar (diferença entre contratado e embarques físicos) há um saldo data base novembro de US$ 5,9 Bi, enquanto nas importações a contratar (diferença entre contratado e ingressadas) na mesma data há um saldo de US$ 17,4 Bi, o que indica que temos um compromisso comercial líquido a pagar da ordem de US$ 11,5 Bi, que se transformará em demanda no mercado físico.

Os bancos, data base novembro, detinham uma posição líquida comprada no mercado à vista de US$ 1,031 Bi, que pouco foi alterada tendo em vista que o fluxo cambial até 16 foi de tão somente US$ 39,0 M. O estoque atual é baixo.

Os bancos estão vendidos líquidos no mercado futuro de dólar em US$ 1,5 Bi, e ainda, vendido líquido no mercado de cupom cambial-DDI em US$ 7,0 Bi. Os “hedge funds” estão comprados líquidos no mercado futuro de dólar em US$ 2,2 Bi e vendidos líquidos no mercado de cupom cambial-DDI em US$ 2,0 Bi.

O mercado de derivativos está neutralizado na sua capacidade de influenciar a formação do preço da moeda americana, que está decorrendo do ambiente de oferta e procura como um mercado “flutuante”, com um “olhar” sobre o ambiente externo, já que não somos uma ilha, e, em 2012 a “onda” pode chegar por aqui com uma intensidade um pouco maior, e já não estamos tão vigorosos quanto 2008/2009 para andarmos com as nossas próprias pernas, a menos que gastemos parte das reservas cambiais estocadas.

A nossa percepção não vê para o mercado de câmbio uma formação de preço da moeda americana que não seja ascendente, tudo que observamos de forma prospectiva nos induz a isto.

O governo, pelo menos de momento, parece firme no propósito de manutenção dos “bloqueios” ao capital especulativo de curto prazo e as operações altamente especulativas do mercado de derivativos. Entendemos que seja uma posição correta “conter” fluxos não contributivos para a economia brasileira, e que, em contrapartida, provocam efeitos “colaterais” não desejáveis internamente, considerando as incertezas do cenário global atual.

Havendo uma queda mais brusca no fluxo cambial, não descartamos que a autoridade possa vir a reduzir a aplicabilidade do IOF nas operações de empréstimos externos para o prazo de 1 ano.

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