Análise do Mercado – 21/12/2011

Finda-se o ano de 2011, marcado pela constante incerteza que fomentou a crise internacional tornando-a altamente complexa, envolvendo a Europa como um todo e não só os denominados PIIGS, com ênfase para sua eurozona; Estados Unidos no…

Finda-se o ano de 2011, marcado pela constante incerteza que fomentou a crise internacional tornando-a altamente complexa, envolvendo a Europa como um todo e não só os denominados PIIGS, com ênfase para sua eurozona; Estados Unidos no limite do endividamento e com a economia com fraco desempenho a despeito de todos os esforços das autoridades, com o governo levado ao “corner” e imobilizado pelos republicanos que focam as eleições de 2012 e não flexibilizam,  e, presenciando o Japão sem condições de soerguer sua atividade econômica, e, nesta nova fase, já que a crise é a mesma iniciada em 2008 agora em seu estágio II, já que extrapolou-se do mercado financeiro para as finanças dos governos, com intensa repercussão sobre o nível de atividade econômica global.

 

O Brasil grandioso do mercado interno expressivo, rendeu-se à necessidade de corrigir os excessos antecedentes, e, com um novo governo, com menos discursos e mais rigor, que teve “confrontos” iniciais de entendimento com a corrente formadora de opinião do mercado financeiro e projeções, acabou se revelando melhor do que a mais das otimistas expectativas, consolidando-se perante a opinião popular, sem apelar para o popularismo, “pagou e esta pagando”  pelos pecados que não cometeu para corrigi-los, mas inegavelmente não se pode criticá-lo por termos crescido abaixo das expectativas, tendo feito o melhor dentro do possível.

Embora o país detenha hoje até melhores condições do que em 2008 para adotar medidas de estímulo à economia e contornar os reflexos externos, nos parece natural que não deve esperar as mesmas “respostas” do consumo da sociedade, já bastante endividada numa leitura mais ampla que abrange não só o crédito do sistema financeiro, mas de todas as origens e acentuadamente os de má qualidade pelo excessivo custo, o que tornará o mercado interno menos vigoroso em suas reações aos estímulos promovidos pelo governo.

A inflação vem corroendo de forma mais acentuada parte da renda das classes ascendentes, havendo o que temer em perspectiva com os mais recentes sinais da curva de emprego que vem perdendo vigor de forma preocupante.

No mercado de câmbio houve interferências demasiadas, algumas propagadas com um objetivo, mas na realidade com outros não declarados, algumas vacilantes e outras certeiras, principalmente as mais recentes que envolveram o mercado de derivativos. O fato concreto é que a dinâmica de formação do preço do câmbio passou da apreciação induzida do real para a quase realista do mercado flutuante, onde o fluxo de oferta e demanda determina o preço.

Uma mudança na dinâmica do mercado de câmbio que não pode ser considerada pequena, na  medida em que alterou uma pratica viciada presente nos últimos anos, de utilização da taxa cambial como fator coadjuvante ou até principal de contração das pressões inflacionárias juntamente com a taxa de juro.

Riscos foram mitigados de forma previdente, ao inibir as crescentes posições especulativas, ao mesmo tempo em que se viabilizou uma formação do preço da moeda americana mais próxima da realidade como se espera de um mercado flutuante, passando a ser perceptível os fundamentos efetivos das oscilações do preço.

Da mesma forma que os países “pobres” da eurozona acreditaram ter, num passe de mágica, passado a condição de “ricos” ao adotarem a nova moeda Euro, criada pelos “ricos”, o Brasil também cometeu o equivoco de admitir que US$ 1,00 valesse efetivamente R$ 1,50, sem considerar a estratégia de política do governo de apreciar a moeda nacional por indução, que se consolidava pela ação dos especuladores no “cassino dos derivativos”.

Nosso real atingiu o 2º lugar no mundo no giro de negócios de derivativos, e a isso se atribuía “confiança na nossa economia”, definição um pouco equidistante da realidade, pois era fruto de pura especulação.

Como consequência, importamos bugigangas demais, exportamos de menos produtos industriais, viajamos e gastamos excessivamente inflando o “ego” e conhecendo o mundo, e houve especulação demasiada no “oásis do ganho certo”, mas houve perdedores históricos.

Parte da conta do real apreciado ficou com a indústria nacional, que não sucumbiu no primeiro momento devido o mercado interno estar aquecido, mas que agora repercute os efeitos colaterais de ter perdido competitividade no comércio exterior, quando se fragiliza o mercado interno.

E 2012?

Temos a convicção de que será um ano duro, onde deverão ser enfrentadas as realidades e das quais não haverá mais espaço para fugas e protelações pelos príncipais atores da cena econômica mundial.

A Europa e sua eurozona, cujos países integrantes  assinaram e não cumpriram o Tratado da União Europeia, chamado de Maastrich, de 1992 e nem o denominado Tratado de Amsterdam de 1997 em seus princípios fundamentais para política fiscal, parâmetros de déficit fiscal e de endividamento em relação ao PIB, e que não estabeleceram unidade de controle dos mesmos por um órgão central, agora demonstram que já tomaram consciência, após longa protelação, de que o problema não é só gerar financiamentos para os endividamentos excessivos, mas sim implementar, em “pleno vôo”, as medidas definidas ao inicio da eurozona, introduzindo um gestor-fiscalizador e fazendo valer os parâmetros.

Esta parece ser a única saída crível, o que não afasta a ideia de que será necessária uma década para o reordenamento, mas a trajetória entre a teoria e a prática deste reordenamento certamente enfrentará inúmeros entraves.

Este é o desafio magnânimo para os europeus, e, certamente se aprovados, haverá a reação da população que deverá ter benesses retiradas pela absoluta incapacidade de serem mantidas pelos governos, e, então, poderemos ter a Europa “em chamas”, com a ocorrência contumaz de greves e protestos, visto que ninguém quer abrir mão de nada.

O Euro, tudo leva a crer, poderá ainda fragilizar-se um pouco mais, quem sabe indo a US$ 1,20 e isto pode estimular as exportações europeias em euros, encarecendo as importações. A Alemanha este quadro não interessará, visto que conduz parte relevante de seus negócios no comércio exterior na moeda americana.

Nos Estados Unidos, o governo Obama não deve encontrar quaisquer facilidades ao longo de 2012, ano eleitoral para sua sucessão. De parte dos republicanos, opositores, todas as dificuldades possíveis para que não termine bem o governo, procurando minar sua candidatura à reeleição. O confronto entre as forças internas deverá emperrar qualquer esforço no sentido de saída da crise de forma sustentável, com a recuperação da geração de emprego e renda.

Desta forma, acreditamos que as saídas sustentáveis para a recuperação da economia americana só serão possíveis pós-eleições presidenciais, e assim mesmo, se o novo Presidente obtiver a maioria no Senado e na Câmara.

Não esperamos mudanças nas diretrizes da política monetária americana, continuando juro reduzidíssimo, ainda mais se o dólar valorizar-se efetivamente ante o euro.

O Japão, dependente do seu comércio exterior e seus clientes europeus e americanos, terá sérias dificuldades na busca do soerguimento de sua economia. Na realidade deverá continuar contemporizando com medidas focando evitar maiores retrocessos e valorização de sua moeda, o yen, mas a recuperação de sua economia é dependente da recuperação da Europa e Estados Unidos.

A China que é vislumbrada como a grande esperança para à economia mundial, certamente refletirá o fato de ter somente 35% do seu PIB consequente do consumo interno, sendo fortemente dependente de suas exportações para Europa, Estados Unidos e Japão. Desta forma, não haverá como evitar reflexos negativos na sua dinâmica econômica.

O Brasil esta tendo projeções por parte do governo bastante otimistas, mas este é o efetivo papel das autoridades.

Todavia, é inegável que terá reflexos em especial no fluxo cambial, onde os US$ 50,0 Bi de IED´s; US$ 23,0 Bi de superávit comercial: US$ 12,0 Bi de investimentos líquidos em ações e um déficit em transações correntes de US$ 65,0 Bi, projetados pelo Banco

Central do Brasil, podem estar distantes da realidade possível, face ao quadro externo que deverá ser bastante restritivo e seletivo na concessão de crédito, levando os investidores a preservação da liquidez e segurança.

 Nossas “commodities”, carro-chefe das exportações, deverão perder preço,   enquanto nossa indústria precisará de estímulos efetivos por parte do governo, mas ainda assim terá que enfrentar um mercado externo onde todos querem “vender mais e comprar menos”.

Numa visão prospectiva, vendo com rigor as perspectivas para a economia mundial, não sancionaríamos as projeções de governo de crescimento de 4,5% a 5,0% em 2012, admitindo que poderemos estar muito no entorno do crescimento que alcançaremos neste ano de 2011, algo próximo de 3,0%.

A curva do emprego tende a perder vigor e o aumento do salário mínimo em percentual acima de 14,0% poderá ser um incentivo a mais para tanto, e isto, certamente impactará na propensão ao consumo e de endividamento da sociedade brasileira, e poderá gerar uma crescente elevação da inadimplência.

Os bancos que estão prevendo expansão do crédito para 2012 entre 18% e 20% certamente precisarão repensar estas projeções, visto que o risco deverá agravar-se, o que deve fazê-los mais seletivos.

Nos alinhamos com a corrente que entende que o juro precisa ser reduzido no Brasil, mas considerando os princípios seguidos pelo COPOM, entendemos que, o câmbio pela queda do fluxo cambial em 2012, poderá comprometer este objetivo, visto que num ambiente menos benigno de ingresso de divisas poderá ocorrer pressão na formação do preço da moeda americana, que pode aquecer a inflação, inibindo assim a tendência de cortes mais substantivos da SELIC.

Devemos preservar o otimismo como principio, sem, contudo, nos afastarmos da dura realidade em perspectiva para 2012, que tende a ter mais espinhos do que flores no caminho, portanto, é recomendável que os detentores de passivos em moeda estrangeira não protegidos, os protejam para mitigar riscos, de forma previdente.

Este ano a moeda americana tende a fechar entre R$ 1,80 e R$ 1,85, até porque na ultima semana do mês deverá haver queda acentuada nos negócios, e este preço já corresponde a uma mudança de patamar, visto que, as projeções poucos meses atrás apontavam para R$ 1,65.

Mas, para 2012 vemos um cenário em que a valorização do dólar, em grande parte pela mudança no fluxo cambial e reação consequente do mercado flutuante, poderá ser a surpresa negativa, conspirando contra o interesse e necessidade do governo reduzir a taxa SELIC.

Efetivamente não esperamos algo explosivo, mas num movimento que conduza a taxa cambial de forma gradual a um patamar de R$ 2,00 a R$ 2,20, salvo se o BC resolver fazer leilões de venda ao mercado a vista gerando liquidez, abrindo mão de parte das reservas.

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