Câmbio News

Análise do Mercado – 22/11/2012

Há um claro e notório descompasso entre o fluxo cambial compilado e divulgado pelo Banco Central do Brasil até dia 16, efetivo 13 dada à estatística ser D+2, e o comportamento do mercado de câmbio a vista e a formação do preço da moeda americana.

 

 

O “subjetivo aviso” conteve a pressão altista predominante na abertura dos negócios de ontem, mas se a causa for a liquidez e esta não for restabelecida pela dinâmica do próprio mercado, naturalmente, somente a sinalização não será suficiente para evitar a alta e o eventual rompimento do preço de R$ 2,10, o que tornará inevitável que o BC realize leilão de venda de moeda efetivamente.

Na realidade houve a conjugação de dois fatores. O mercado de câmbio sinalizando queda da liquidez apreciou o preço do dólar como reação natural, e, ao mesmo tempo, o governo estava desejoso de que isto acontecesse para dar mais um impulso de estimulo à indústria nacional, aumentando a sua competitividade externa e interna, visto que também onera o preço do produto importado, por isso não interviu contendo a alta.  

Ocorrendo o ajuste da banda nestas circunstâncias as causas da alta ficam compartilhadas por razões técnicas e vontade do governo, atenuando criticas que certamente surgirão por parte dos “vigilantes” da inflação.

A Presidenta Dilma manifestou-se a respeito do câmbio em entrevista recente, contudo não foi este fato que determinou a elevação do preço da moeda americana em si, mas teve a relevância, no nosso modo de entender, de “sancionar” que a alta que vinha ocorrendo era para ficar e que temos agora nova banda, com a concordância do governo. Com isto, o mercado liberou-se das incertezas e deixou subir, o que determinou a atitude acima descrita por parte do BC sinalizando que, neste momento, há um teto e este é R$ 2,10, caso contrário ocorrerá leilão de venda de moeda efetiva ao mercado.

O Ministro Mantega buscou argumentar correlacionando o comportamento do preço da moeda americana com o que ocorre no mercado internacional, mas pode até parecer por mera coincidência mais não de fato, o preço do dólar no Brasil repercute fluxo cambial cadente e, preponderantemente, utilização pelo governo como fator de estimulo a atividade industrial, que não tem reagido, por isso se tornou necessária a elevação da banda. Afinal, foi o próprio Ministro que esclareceu que o cambio é “flutuante sujo”.

O montante de US$ 3,514 Bi de saldo positivo do fluxo cambial até 16, sendo US$ 1,072 Bi no comercial e US$ 2,441 Bi no financeiro, ainda não foi suficiente para neutralizar integralmente o montante de posição “vendida” dos bancos de US$ 3,658 Bi na virada do mês, mas a reduz para algo irrisório como tão somente US$ 144,0 M, o que não seria relevante.

Vamos aguardar para verificarmos o comportamento do fluxo na sequência do mês, o que poderá proporcionar um melhor cenário para análise.

Após o conceituado jornal “O Estado” ter veiculado matéria com detalhes a respeito de eventual retardamento na compilação estatística das importações da Petrobrás, o mercado ao observar a ocorrência de descompassos, como o que se nota neste momento em torno do fluxo e preço da moeda em alta, mostra-se reticente.

À margem dos números, o que se observa a partir do comportamento da formação do preço da moeda americana é que a liquidez do mercado à vista pode estar efetivamente impactando esta definição da taxa cambial e exercendo pressão altista.

Mais uma vez se faz presente a observação de que no mercado de câmbio nem tudo que parece ser, efetivamente o é. Este é um ponto que somente o tempo nos dará a resposta, pois a própria atitude insinuadora do BC, embora sem anunciar a efetivação de leilão no mercado interbancário, que buscou arrefecer a dinâmica da alta, também pode ser considerada em descompasso com o resultado do fluxo cambial divulgado, pois afinal se o fluxo está bom o preço não deveria repercutir o inverso e nem o BC pontuar regras para os leilões, como se estivesse se preparando para efetivá-los.

A nossa percepção é de que o fluxo cambial tem tendência firme de retração para o Brasil e que o governo precisará adotar medida para flexibilizar os prazos dos empréstimos externos reduzindo-os no mínimo que os sujeita ao IOF de 6%, bem como, eventualmente também ampliar para 540 ou 720 dias o prazo para os pagamentos antecipados das exportações.

A menos que opte por deixar ocorrer pressão sobre a liquidez, bancando a contenção dos excessos com os dólares que dispomos em reservas cambiais, gerando fundamento a uma correção maior no preço da moeda americana no nosso mercado, a partir do próximo ano.

Evidentemente, a nova banda não supõe o preço da moeda americana do topo, ou seja, a R$ 2,10, mas num preço mediano em torno de R$ 2,08/R$ 2,09. Contudo, neste momento o mercado convive com a incerteza sobre qual será a atitude do BC em relação às posições de “swaps cambiais reversos” vincendos na virada do mês.

Poderá rolar parcialmente para buscar colocar o preço da moeda americana no ponto mediano se na oportunidade estiver muito próxima de R$ 2,10; deixar vencer sem rolar se estiver presente pressão intensa que possa elevar o preço acima de R$ 2,10; ou, rolar tudo se o preço da moeda estiver cedendo, com o objetivo de dar sustentação ao preço e elevá-lo para um ponto mediano na nova banda.

Estes movimentos de rolagem ou não no mercado de derivativos/futuro, não se podendo perder de vista a realidade do mercado a vista, que sugere estar emanando pressões na formação do preço, e estas só poderão ser contidas com leilões de venda no interbancário, mercado a vista, por parte do BC.
Porém, o que resta inquestionável, no nosso ponto de vista, é que a banda cambial mudou de patamar, sendo agora R$ 2,05 a R$ 2,10, podendo haver duvidas quanto à mínima, mas não quanto à máxima neste momento.

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