O mercado de câmbio brasileiro, passado o longo período de uma semana de feriado, demonstra que a tendência de alta do preço da moeda americana, que já preconizávamos com fundamentos desde o inicio de outubro que acabou por consolidar relevante fluxo cambial negativo, é consistente e está ocorrendo para ficar e confirmar a mudança de banda administrada pelo BC para R$ 2,05 a R$ 2,10.
Assim, a mudança de banda, que consideramos do interesse do governo para dar um impulso a mais à nossa combalida indústria, também tem fundamentos técnicos que estão impulsionando a alta.
E quando a pressão altista decorre de pressões no mercado à vista, somente leilão de venda de moeda a vista pelo BC pode interferir contendo a alta, caso contrário o preço dará repercussão a queda de liquidez.
A Carta Circular 3574 do BC datada de hoje sinaliza que tende a realizar leilões à vista , a termo ou swap (venda conjugada com recompra) no mercado interbancário.
A hipótese aventada pela mídia de que empréstimos estão sendo contraídos por empresas/instituições estabelecidas no país e “deixadas” no exterior e, que destes valores se valem para pagar juros sem pagamento do IR, nos parece imprecisa na forma posta e pouco crível na sua concepção estratégica.
Empréstimos externos se consolidam com o prévio registro do ROF (Registro de Operações Financeiras) no Banco Central do Brasil e com o ingresso das divisas no país em consonância com o ROF, validando-o como efetivo, mesmo que em concomitância sejam retornados para o exterior na modalidade de “Disponibilidades”. Toda vez que destes recursos que estejam no exterior se fizer pagamentos de juros, os mesmos, embora não ocorra contratação do câmbio nos moldes tradicionais, devem ter o fato registrado no ROF junto ao BC e deve recolher o IR devido normalmente. Além disto, importante salientar que a remessa para o exterior como “Disponibilidade”, bem como o retorno, paga IOF de 0,38%, o que resulta em ônus de 0,76%.
É notório que o governo brasileiro “fechou” os flancos para os ingressos de recursos especulativos, o que impulsionou uma grande parcela da perda de atratividade por parte dos investidores pelo Brasil, mas também contribuíram a forte interferência na formação do preço do câmbio e a expressiva queda da taxa de juro, que atenuou o interesse pelas arbitragens.
Com a economia crescendo ao ritmo de 1,5% e com a nossa Bovespa não tendo realizado grandes IPO´s e os demais papéis de volume estando ligado a “commodities”, segmento no qual pontificam empresas lideres com muita interferência governamental, o segmento de ações não conseguiu deslanchar neste 2012 e nem atrair grande volume de recursos externos.
O mundo global, embora ainda mantenha espasmos de otimismos em relação a 2013, reservadamente vem revendo suas projeções anteriormente colocadas. Já se vê muita sensatez e foco mais acentuado nas realidades perceptíveis do que nos anseios desejáveis.
Há um lado pessimista que envolve o “abismo fiscal” americano para o qual o FED já declarou não ter instrumentos para superar se não houver um acordo politico; o imbróglio europeu e o risco geopolítico no Oriente Médio. Este quadro afeta a economia chinesa e os demais países asiáticos, bem como os países emergentes, entre os quais o Brasil.
E há um lado visto com otimismo, como a possibilidade de acordo politico para chegar rapidamente a um entendimento para evitar o “abismo fiscal” nos Estados Unidos, com a economia confirmando os sinais positivos no setor de construção que é gerador de emprego e renda e o consumidor americano voltando a fortalecer o mercado interno.
Mas mesmo assim, a recuperação americana seria posta em perspectiva de médio prazo, portanto com efeitos graduais na linha da retomada, nada que se consolide totalmente em 2013.
Na Europa o quadro tem maior complexidade. Deve piorar em alguns países, para então com os resgates evitar o caos, mas não ainda as soluções, que só parecem possíveis após um efetivo realinhamento da disciplina e ordenamento da eurozona.
Os demais, China e Japão, principalmente, deverão repercutir mais intensamente os problemas nas economias dos Estados Unidos e Europa, das quais são dependentes pelo modelo, e tendem a continuar envidando esforços para mudar o modelo de crescimento, que passa pela premente necessidade de desenvolver o consumo do mercado interno. Os outros, naturalmente, continuarão com suas dinâmicas afetadas.
O Brasil naturalmente terá dificuldades para alcançar uma recuperação virtuosa, o modelo de consumo estimulado à crédito tende ao esgotamento, sendo notório que o crédito vem sendo expandido fortemente pelos bancos oficiais, que representaram 72% desta expansão nos últimos 12 meses. Os bancos privados, face à inadimplência presente que já lhes acarretou prejuízos e as perspectivas, tendem a retração e seletividade.
Parece evidente que a taxa cambial, a despeito da pressão inflacionária que possa provocar, é o instrumento que resta ao governo para motivar a indústria nacional a reativar as suas vendas externas, ganhar competitividade com o produto importado no mercado interno, e passar a realizar investimentos e gerar emprego e arrecadação.
Desta forma, R$ 2,10 pode ser o novo piso alto, mas pode ser transitório para pisos mais elevados em 2013, que podem se tornar imprescindíveis para incrementar o crescimento de 4% a 4,5% desejado pelo governo, que, a rigor, não vislumbramos como factível neste momento para o próximo ano.
E voltamos a destacar, este talvez seja o momento do governo flexionar o prazo para os empréstimos externos sem alcance do IOF de 6%. Tudo indica precisaremos dedicar uma atenção maior ao fluxo cambial e suas perspectivas de curto/médio prazos.