Análise do Mercado – 22/08/2011

O mundo financeiro global não evidenciou nenhuma mudança relevante, centrando seu foco agora no encontro anual do Federal Reserve americano na próxima sexta-feira em Jackson Hole, Wyoming, que terá pronunciamento do seu…

O mundo financeiro global não evidenciou nenhuma mudança relevante, centrando seu foco agora no encontro anual do Federal Reserve americano na próxima sexta-feira em Jackson Hole, Wyoming, que terá pronunciamento do seu Presidente Ben Bernanke, no qual se espera identificar as percepções do órgão sobre as fraquezas estruturais da economia americana e da postura política do órgão no médio prazo.

A expectativa maior gira em torno do eventual anúncio de nova rodada de incentivos por parte do governo, algo como um “QE3”, já que na reunião anual do ano passado, o Presidente do FED preparou o mercado para o “QE2”. O FED já garantiu manter as taxas de juros estáveis e baixíssimas até meados de 2013, o que já é entendido como uma ajuda, mas o mercado financeiro espera algo mais à semelhança do “QE2”.

Esta é a “esperança” que fomentará o comportamento do mercado americano esta semana, naturalmente influenciando outros importantes centros mundiais.

Na busca de fatores alentadores, USA e Europa até insinuam que a possível queda do regime de Gadhafi na Líbia, pode ser estimulante aos investidores, em especial para o setor de energia na Europa, etc. Afinal , há uma espécie de vale tudo, mas o fato é que o cenário concreto das economias americanas e europeia não sinalizam soluções de curto/médio prazos, com enorme probabilidade de transitarem por um período de recessão.

Desta forma, a volatilidade estará sempre presente, já que não há fundamentos criveis para sustentar sinais de recuperação.

O que se verifica é que indicadores mais compatíveis para o sentimento presente, como preço e rentabilidade dos T-Bills e preço do ouro continuam evidenciando que as preocupações ainda são bastante acentuadas.

Já as bolsas de valores, especialmente onde não há restrições para as vendas a descoberto, é notório o movimento especulativo, que impõe quedas muito fortes, acima da pior expectativa, e, inesperadas melhoras muito fortes sem que existam fatores que possam fundamentá-las.

Este movimento “gangorra” é típico das bolsas de valores, presente também na nossa BOVESPA, de intensos movimentos de vendas a descoberto, que depreciam os preços fortemente, para depois ocorrer a cobertura e então apresentarem recuperação, e mais adiante, repetirem o mesmo movimento.

É pura especulação com a venda a descoberto, que países europeus têm coibido, pois ocorrem descompassados com a realidade e estimulados por especuladores organizados, que assim num ambiente ruim conseguem obter elevados ganhos.

Hoje, parece ser a rodada da valorização para que os especuladores “desovem” suas posições e, num momento seguinte, voltem a depreciar outra vez os preços das ações. A correlação com os dados reais da economia são de baixíssimo grau, mas isto é o que menos interessa, tudo vale para o ganho fácil.

Afinal, hoje é um dia fraco de indicativos de impacto global, e o divulgado Índice de Atividade Nacional dos Estados Unidos saiu do negativo de 0,38 em junho para negativo 0,06 em julho, menos ruim, mas nada que possa justificar as altas que estão ocorrendo ontem.

O mesmo ocorre com as moedas fortes, oscilam, oscilam, sem tendências.

Afinal, o ouro sustenta-se em alta 1,10% hoje, o que é um sinal real de que as preocupações não cedem, registrando preço de US$ 1,872,50 a onça troy. Os T-Bills para 10 anos apontam rentabilidade de 2,12% após ter caído a 2,07% na sexta. O petróleo Light está em alta de 2,25% na Nymex cotado a US$ 84,11 o barril, contudo, no mercado londrino o tipo Brent já sofre impensados efeitos de queda com a perspectiva de que o governo Gadhafi caia na Líbia, mas, segundo analistas, ofertas novas só aconteceriam em não menos do que 1 ano.

No Brasil, a BOVESPA segue o exterior, mas é perceptível que os movimentos de altas e baixas e volatilidade têm a ver muito com os movimentos especulativos de “vendas a descoberto”, muito presentes e que acentuam as quedas, e ocasionam “compras posteriores” no fundo do poço para cobertura que provocam altas não fundamentadas.

O Ministro Mantega afirmou que o governo está mudando o “mix” da política econômica, usando mais rigor fiscal e menos juros para controlar a inflação, esta é uma linha bem vista, mas na pratica a percepção é de que há mais o que fazer no rigor fiscal, visto que a arrecadação tem crescido de forma mais vigorosa do que o crescimento da economia, o que poderia determinar um superávit primário maior e que tornasse mais efetivo e considerável como gestão de maior rigor.

O mercado de juros está acentuando a percepção de que a SELIC sofrerá cortes substantivos até 2012, mas já há crescente perspectiva de que poderemos ter corte ainda neste 2011, embora o Boletim FOCUS ainda persista apontando estabilidade em 12,50%.

O Boletim FOCUS esta projetando o IPCA 2011 com discreta elevação na ultima publicação, de 6,26% para 6,28%, mas tudo indica que haverá impactos do cenário global que poderão provocar exatamente efeito contrário, colocando o IPCA deste ano em projeção inferior.

Aliás, o aludido boletim parece ainda não ter se sensibilizado pela cena global e que certamente nos afetará, visto que manteve a projeção dos IED´s em US$ 55,0 Bi e do déficit em transações correntes em US$ 57,97 Bi, e tudo indica que o primeiro deverá ficar abaixo e o segundo deverá aumentar. A perspectiva atual é que ocorra contração no fluxo de investimentos estrangeiros diretos e aumento do déficit em transações correntes, já que deverão se acentuar as remessas de dividendos, lucros e juros s/capitais.

O crescimento do PIB reduzido de 3,93% para 3,84%, deve acentuar o viés de baixa, tendendo a 3,5%.

No mercado de câmbio, como temos salientado, não há razões para apostar nem contra e nem a favor do real, devendo a taxa refletir o comportamento do fluxo cambial, que acreditamos tende a tornar-se gradativamente negativo, o que tem sido retardado pelo fato de ter ocorrido ingresso de dólares de exportações que estavam liquidados e estocados no exterior.

Nada que afaste o preço do entorno de R$ 1,60 de forma sustentável.

Incerteza somente existe sobre como os “hedge funds” sairão das suas posições “vendidas” no mercado de derivativos, atualmente US$ 14,6 Bi em “cupom cambial-DDI”, num cenário cada vez mais contrário as suas apostas, já que o juro tende a queda e o dólar a estabelecer-se num piso em torno de R$ 1,60, acima do que pretendiam manter.

Este será um final de mês interessante, pois naturalmente tentarão resistir e forçar uma apreciação do real, hoje já não tão fácil pela queda brusca de influencia sobre a formação da taxa PTAX face a mudança de critério de apuração desde julho último.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress