O mercado global parece que gradualmente acentua a crise e agrega complexidade a mesma, o que vai catalisando para dentro dela países que pareciam menos vulneráveis, acentuando a percepção de que é possível admitir-se…
O mercado global parece que gradualmente acentua a crise e agrega complexidade a mesma, o que vai catalisando para dentro dela países que pareciam menos vulneráveis, acentuando a percepção de que é possível admitir-se risco de recessão mundial, pois nenhuma economia poderá ser exuberante a ponto de não repercutir a realidade da economia globalizada fragilizada em seus principais centros.
Os avanços nas conversações visando o resgate da situação crítica europeia e os reflexos decorrentes da colocação da Grécia, Itália e agora Espanha, sob novo comando político, são extremamente insignificantes, havendo muitos impasses entre os países envolvidos no socorro e na medida em que o tempo passa, até os mesmos acabam sendo ameaçados pela crise.
Nos Estados Unidos, a negociação no Super Comitê do Congresso para chegar num plano de redução de US$ 1,2 Tri no déficit orçamentário não avança, continuando o impasse acentuado de natureza política entre democratas e republicanos, sendo que este destaque negativo afeta o humor do mercado, que já está comprometido pelo cenário econômico deprimido.
A crise que tinha foco na Europa e Estados Unidos já dá sinais de ter atingido a Ásia, onde as exportações japonesas para a China declinaram 7,7% e mais 3,7% para outros países. O Vice Premiê chinês, Wang Qishan, declarou que pode estar em curso uma recessão global de longo prazo.
E assim, os mercados têm farto material para justificar seus péssimos desempenhos e temores crescentes, embora, por vezes, com base em “migalhas positivas insustentáveis” encontre fonte para nutrir a volatilidade.
Na margem deste cenário crítico envolvendo mais de 2/3 do PIB mundial estão os países emergentes que, certamente, hoje estão menos virtuosos do que no início da crise em 2008, e, que devem repercutir mais intensamente os efeitos deste quadro global do que naquela oportunidade, até porque as receitas possíveis para a superação utilizadas à época podem não ser tão eficazes atualmente como já o foram.
O Brasil deve ter reflexos relevantes, e, embora o governo disponha atualmente até mais “cacife” para incrementar o seu mercado interno, já que detém substantivos recursos de compulsórios bancários que pode vir a liberar e reservas cambiais em volume maior para poder suprir a retração do crédito externo, tem um cenário interno não tão vigoroso para dar as mesmas respostas dadas quando ocorreu o agravamento inicial da crise de 2008/2010.
O governo brasileiro já começou a adotar medidas incentivadoras ao crédito visando estimular o consumo interno, receita já praticada, e pode até ampliá-las, porém, a sociedade brasileira tem atualmente parâmetros de endividamento já comprometedores e que podem repercutir uma redução brusca na propensão ao consumo, fato que temos ressaltado com frequência.
A curva do emprego, ainda com bons indicadores, já se revela em tendência de queda e a indústria revela-se cada vez menos propensa a admitir, já que sofre os reflexos mais imediatos do desaquecimento da atividade econômica, agravada pela desindustrialização provocada pela presença acentuada dos produtos e insumos importados, e sem competividade para exportar.
Não bastasse o endividamento, a perda da vitalidade da geração de emprego também é um fator de impacto na retração do consumo.
Nos parece que o país ainda não “assumiu” a perspectiva dos reflexos da crise externa de grande magnitude no ambiente interno, buscando acreditar que, a exemplo de 2008/2009, superaremos com facilidade, mas, no nosso entender, se os impactos no Brasil naquela oportunidade foram amenos, desta vez poderão ser mais intensos.
Temos de longa data salientado a tendência do governo ser contrariado nas suas projeções otimistas de investimentos externos e fluxos de recursos externos para o país. Aliás, não só alertamos para a tendência de contração do fluxo positivo, como vimos enfatizando o aumento do fluxo de saída de dividendos, lucros, juros s/capitais e transferências de caixa das empresas multinacionais para suas matrizes no exterior.
Sempre fundamentamos esta visão prospectiva pela natural retração de investimentos diretos no país, visto que os investidores estrangeiros têm a necessidade premente de otimizar a liquidez de seus caixas, face à retração do crédito consequente da crise global, e, da mesma forma determinar que suas filiais ao redor do mundo transferiram recursos possíveis com o mesmo objetivo.
Isto tem nos levado a projetar uma inversão prematura do fluxo cambial a ponto de torná-lo negativo e isto impactar na formação do preço da moeda americana de forma antecipada, ainda este ano ao invés de no primeiro trimestre de 2012.
Hoje, o jornal O ESTADO DE SP divulga estudo do Instituto Brasileiro de Economia da FGV que aponta o esfriamento do investimento no Brasil, estimando que o Brasil deve perder US$ 9,0 Bi de investimentos, visto que a crise fez com que as empresas reavaliassem seus planos.
Em perspectiva também devemos considerar que haverá efeitos na balança comercial consequentes da queda dos preços das “commodities”, hoje base das exportações do país face à fragilização da participação da indústria pela perda da competitividade devido a inúmeros fatores.
A nossa BOVESPA, com o país com crescimento bastante baixo e com as “commodities” ajustando seus preços para baixo, deve atrair cada vez menos investidores estrangeiros, pela falta de perspectivas favoráveis, o mesmo ocorrendo com os investidores em renda fixa já que, em momentos de crise, a segurança como critério supera a rentabilidade, e esta deve ser cadente, pois será inevitável que o COPOM não proceda a cortes mais incisivos na taxa SELIC este ano e no próximo ano.
Conclusão, o mercado de câmbio que está formando a taxa, após muitos anos, refletindo o conceito de câmbio flutuante, já que o mercado de derivativos está praticamente bloqueado na sua capacidade especulativa devido à incidência do IOF, deverá apontar taxa cambial acima da que vinha sendo projetada, inclusive por nós, podendo fechar o ano no entorno de R$ 1,80 ou até um pouco mais.
O Boletim FOCUS que repercute a mediana das projeções de 100 instituições financeiras e é divulgado pelo Banco Central do Brasil, evidencia que o mercado financeiro ainda não sancionou a percepção dos efeitos da crise externa na nossa economia.
Desta forma, ainda mantém a projeção do IPCA 2011 em 6,48%, o US$ em R$ 1,75, a taxa SELIC em 11% aa e o crescimento do PIB em 3,16%. Estes nos parecem indicadores sujeitos a correções nas próximas divulgações. A revisão da produção industrial de 1,55% para 1,37% parece identificada com a perspectiva atual. Contudo, no déficit de contas correntes de US$ 55,0 Bi podemos ter um ajuste para maior, enquanto nos IED´s de US$ 60,0 Bi pode haver um ajuste para menor.