Análise do Mercado – 18/11/2011

Inúmeras abordagens têm sido feitas recentemente considerando que a taxa da moeda americana está elevada no Brasil, mas para que isto possa ter fundamento é preciso que seja admitida como verdadeiro que o preço justo e…

Inúmeras abordagens têm sido feitas recentemente considerando que a taxa da moeda americana está elevada no Brasil, mas para que isto possa ter fundamento é preciso que seja admitida como verdadeiro que o preço justo e equilibrado seria o R$ 1,50, que chegou a ser praticado no mercado de câmbio brasileiro.

Atribuía-se ao tão decantado fluxo cambial positivo todas as mazelas do dólar depreciado no nosso mercado, quando na realidade o Banco Central do Brasil absorvia integralmente todo o excedente deste fluxo que poderia impactar na ponta da oferta deprimindo o preço da moeda americana, portanto, neutralizando este efeito dentro do conceito da oferta e procura.

Mas, na realidade, ao longo dos últimos anos, nunca foi o fluxo cambial positivo que determinou a fortíssima apreciação do real, já que de sobra, o Banco Central do Brasil retirava no mercado de câmbio volumes muito além do excedente. Em tese, indo além do que ficava disponível dos ingressos de recursos externos no país, a ideia é que pressionasse a ponta da demanda e com isto, passava a impressão de que procurava dar sustentação ao preço da moeda americana ou até buscasse fortalecer o seu preço.

Ledo engano, como sempre salientamos, no nosso mercado de câmbio nem tudo que parece efetivamente o é, e o BC, ao adquirir com seus leilões volumes além do excedente, estimulava os bancos a construírem elevadas posições “vendidas” e posições estratégicas no mercado de derivativos, fortemente indutoras à exatamente o contrário do que parecia ser, ou seja, promovia a apreciação do real.

Assim agindo, fazia do preço da moeda americana desvalorizada forte coadjuvante ou até fator principal de contenção das pressões inflacionárias presentes, consequentes de uma política fiscal mais frouxa com gastos excessivos por parte do governo.

Isto custou a desindustrialização gradual do nosso parque produtivo, que ficou evidente quando se avalia a produção nacional pelos valores agregados, grande parte importada, e não por sua produção simplesmente numérica quantitativa, ignorando a visão qualitativa.

Esta tendência garantida de apreciação do real de conhecimento geral por parte dos especuladores, conduziu a nossa moeda ao 2º posto mundial de detentora do maior giro nos mercados derivativos. Operar com o real era lucro certo, aqui e no resto do mundo.

Mas os tempos mudaram, então, o novo governo precisou inibir os fluxos de capitais especulativos e não podendo reduzir bruscamente o juro brasileiro campeão mundial, criou o ônus do IOF para reduzir a margem de ganho ou inibir os fluxos de curto prazo. E, assim, foi fechando “portas” de ingressos de recursos estrangeiros que só vinham aqui buscar rentabilidade, sem nenhuma consequência contributiva para a economia.

Vacilou durante um tempo, fez ensaios com uma mudança aqui outra acolá, ficando claro que ao inibir os ingressos de recursos especulativos procurou também proteger a máquina emissora de papéis e o alto custo de carregamento das reservas cambiais, já que os excedentes do fluxo cambial eram adquiridos pelo Banco Central do Brasil e agregados às reservas cambiais, num processo irreversível para o BC, que assim com as medidas inibiu o fluxo e pode reduzir também o ritmo de elevação das reservas cambiais e o crescente ônus de carregamento da mesma.

Gradualmente, avançou sobre outros pontos indutores à apreciação do real, como as “posições vendidas” dos bancos que permitia, reduzindo-as em etapas.

Por fim, deu o “check mate” nos derivativos, fonte de massiva especulação e que durante anos foi o formador efetivo da taxa cambial no Brasil, e, também prudencialmente coibiu a excessiva especulação com altíssimo risco que acontecia naquele mercado.

Este foi o “tiro certeiro” no centro maior de apreciação do real tributando os derivativos com o IOF, embora mereça ressalvas, pois alguns tipos de “hedge” necessários ficaram prejudicados, porém deixou “aprisionadas” sem liquidez posições especulativas, em especial dos estrangeiros, que acabaram por promover forte valorização do dólar, contida pela intervenção do BC que acabou por ofertar a liquidez que deixou de existir e assim desfez esta pressão pontual.

Desde então, a influência dos derivativos passou a ser praticamente nenhuma na formação do preço da moeda americana no mercado de câmbio brasileiro, que, depois de anos, passou a ser finalmente “câmbio flutuante”, repercutindo exatamente a oferta e procura, e, nem o BC realizou mais os seus leilões.

Então, por que não considerar que a taxa cambial presente como a normal, e que, por longo tempo, convivemos com uma taxa cambial absolutamente atípica e desequilibrada?

Hoje a taxa cambial reflete o fluxo cambial e, em perspectiva, dada à crise global o fluxo poderá ficar menos benigno para o Brasil, o que fortalecerá a tendência de apreciação do preço da moeda americana.

É possível que, se o fluxo ficar negativo de forma sustentável, o governo reveja algumas medidas do IOF sobre alguns tipos de ingressos, mas quanto aos derivativos entendemos que a especulação precisa continuar contida nesta fase crítica do mercado global.

 

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