A cumulatividade de problemas na cena mundial aumenta em muito as incertezas, e, embora os mercados, por vezes, procurem colocar à margem o acompanhamento dos mesmos para restabelecer melhoria de humor, permanecem subjacentes e a…
A cumulatividade de problemas na cena mundial aumenta em muito as incertezas, e, embora os mercados, por vezes, procurem colocar à margem o acompanhamento dos mesmos para restabelecer melhoria de humor, permanecem subjacentes e a sobreposição tem sido constante, o que os impede de perder a característica de volatilidade.
A alta excessiva do preço do petróleo tornar-se sustentável e poderá anular os parcos sinais de recuperação das economias desenvolvidas, e, pelo grau de dependência, coloca em perspectiva até a possibilidade de estagflação, alterando substantivamente o clima predominante até recentemente.
A catástrofe japonesa, certamente, provocará retrocessos em sua economia e investimentos grandiosos na recuperação serão necessários, num ambiente em que o país já tem expressivo endividamento. Mas não só isto, afeta as demandas importantes do Japão no comércio exterior e colocam em risco a atividade de segmentos dependentes de seus produtos, acentuadamente insumos eletrônicos, ao redor do mundo.
O ataque dos Estados Unidos e aliados às tropas da Líbia sinalizam que o desejo predominante é eliminar o comandante do país, mas não é bastante para retirar pressões de alta sobre o preço do petróleo que está sendo cotado a US$ 102,23 o barril na NYMEX, com alta de 1,15%.
E dúvidas crescentes surgem a partir das estratégias dos bancos centrais dos principais países, focadas na busca de soluções individuais e que acabam por confrontar-se com os interesses dos outros.
No Brasil, o mercado financeiro claramente “se estranha” com os gestores da política monetária, na medida em que o MF e BC, cada vez mais, demonstram estar alinhados e propensos a utilizar menos a taxa de juro como instrumento de contenção inflacionária e mais as medidas macroprudenciais.
Este novo perfil difere do BC do antigo governo, que num ambiente expansionista estimulado pela política fiscal, irrigou o mercado financeiro com liquidez alavancando o consumo e, na ponta, sempre deu preferência a utilizar a taxa de juro como instrumento principal para conter a inflação, para satisfação do mercado financeiro, bem como o dólar desvalorizado, para desespero do setor industrial não agrícola. E, notoriamente, o afinamento entre BC e MF não era dos melhores.
Ao BC e ao MF, embora com o mesmo comandante nestes, restou neste novo governo a dura tarefa de colocar a “casa em ordem”, evitando assim um retrocesso que reverteria todos os avanços conquistados, caso perdurasse o mesmo ambiente antecedente.
Dura tarefa, mas o novo governo sinaliza que não deseja desestimular o investimento que poderá assegurar um crescimento razoável, desejável 5%, possível 4%, por isso o instrumento de contenção inflacionária deixa de ser o juro unicamente, validando-se com grande importância os cortes orçamentários, gastar menos, e as medidas contingenciadoras do crédito e do consumo.
O foco é atingir as causas e não atuar tentando controlar somente as consequências.
Esta mudança parece contrariar o mercado financeiro e este então conspira ao formar expectativas negativas.
O MF e o BC parecem desejar elevar o preço do dólar para criar uma janela alternativa para a indústria, ou seja, a intensificação da exportação, para compensar a queda da demanda interna.
Operacionalmente, os instrumentos do BC são frágeis, sendo que o seu grande potencial está no normativo.
O mercado de câmbio espera há uns 15 dias, desde que mencionada pelo Ministro Mantega, as novas medidas no mercado de câmbio.
Todos têm a convicção de que a medida principal deverá ser a imposição do IOF sobre os empréstimos externos de curto prazo, hoje tributados quanto ao prazo de até 90 dias com 5%, o que poderia ser estendido para 1 ano. Esta é considerada uma medida extremamente pontual, pois neutralizaria o ingresso oportuno de recursos externos de curto prazo que acabam por fomentar a concessão de crédito que resulta em estímulo ao consumo, o que contraria os propósitos de política monetária do governo no momento. E, além disto, provocam um superávit no fluxo cambial que obriga o BC a retirá-los do mercado fisico com seus leilões de compra para as reservas cambiais brasileiras, fato que onera o erário público.
Surgiram também, pela imprensa, notas de que a Presidente Dilma, na sua firme posição de não arrefecer esforços para conter a inflação, deve baixar novas normas macroprudenciais com este foco.
Naturalmente, os fatos externos são relevantes, mas acreditamos que o governo deva adotar as medidas necessárias para fortalecer as expectativas internas, que estão sendo comprometidas e podem levar ao descrédito o regime de metas.
Assim, o que precisar ser feito deverá ser feito, de forma rápida e precisa, sem muitos pré-avisos, pois esta prática cria incertezas no mercado financeiro e no setor produtivo do país.
A nossa balança comercial emitiu um sinal de alerta ao registrar um déficit de US$ 100,0 MM na 3ª semana de março, embora no todo o mês esteja positivo em US$ 741,0 MM.
O Boletim FOCUS continua emitindo sinais negativos: IPCA 2011 passando de 5,82% para 5,88%; IPCA dos próximos 12 meses passando de 5,35% para 5,36%; dólar e SELIC estáveis em R$ 1,70 e 12,50% respectivamente; PIB 2011 em queda de 4,10% para 4,03%; produção industrial em queda de 4,10% para 4,00%; e positivos: déficit em transações correntes de US$ 65,0 Bi para US$ 64,0 Bi; balança Comercial de US$ 13,50 Bi para US$ 15,0 Bi e IED´s de US$ 42,0 Bi para US$ 42,50 Bi.
Continuamos entendendo que, mesmo adotando a medida de tributar com IOF numa alíquota forte e por período mais longo, os empréstimos externos de curto prazo, que perderão atratividade para os tomadores, o BC conseguirá, tão somente, aliviar as suas compras no mercado de câmbio físico pela redução do fluxo cambial, mas não conseguirá prover a moeda americana com recuperação mais expressiva, evitando, contudo, continuidade de apreciação do real.
Todavia, em termos de efeito sobre inflação deverá ser positivo ao contrair o crédito e o consumo.
Entendemos que o entorno de R$ 1,67 é o possível neste momento, com uma discreta alta ao final do ano.
O caminho para estimular as exportações do setor industrial não agrícola continua sendo o da desoneração e incentivos.