Análise do Mercado – 23/03/2011

O Presidente do BC, Alexandre Tombini, foi extremamente sincero, ao afirmar ontem ante o CAE do Senado Federal, que a instituição não vai agir para reverter a valorização do real. Na realidade, o Banco Central do Brasil, em termos objetivos…

O Presidente do BC, Alexandre Tombini, foi extremamente sincero, ao afirmar ontem ante o CAE do Senado Federal, que a instituição não vai agir para reverter a valorização do real.

Na realidade, o Banco Central do Brasil, em termos objetivos, não tem como promover esta reversão, a menos que tornasse o sistema cambial brasileiro em “administrado” em substituição ao “flutuante marrom” vigente.

Lamentavelmente, operacionalmente o Banco Central do Brasil tem capacidade de induzir a apreciação do real, porém não tem a mesma condição no sentido oposto.

A depreciação do real somente ocorrerá em algumas circunstâncias específicas por razões próprias do mercado. Ocorrência de aumento de demanda efetiva sobrepondo-se aos níveis de oferta; piora acentuada das perspectivas do déficit em transações correntes sinalizando dificuldades em financiamento externo, se bem que o fato de termos reservas cambiais para suportar pode atenuar; ou, uma crise de grandes proporções externas impactando no mercado financeiro internacional, ensejando movimentos efetivos e especulativos.

O Presidente do BC também salientou que as posições dos bancos já foram “reduzidas” para o entorno de US$ 7,0 Bi, face ao normativo que impõe depósito compulsório, a partir do dia 4 de abril próximo, as posições por banco excedentes a US$ 3,0 Bi ou entorno disto, dependendo do critério de definição.

Não deve ser desconsiderada a possibilidade de um novo normativo estreitando mais as posições “vendidas” dos bancos, que também têm forte influência na depreciação do real.

Mas, no entanto, a declaração do Presidente do BC não é por nós interpretada como excludente de medida interferindo na extensão do prazo de aplicabilidade do IOF de 5% sobre os empréstimos de curto prazo, assim considerados até 12 ou 18 meses.

No nosso entender, esta medida teria caráter maior como política monetária e pouco impactaria na formação do preço da moeda americana, e sim aliviaria a necessidade do BC ter que comprar mais com seus leilões de compra no mercado físico, aumentando as reservas cambiais brasileiras, que representam alto custo de carregamento ao erário público. Destacadamente, seria pontual visando a preservação da política monetária implementada pelo governo, já que estes recursos externos de curto prazo confrontam com a mesma, pois irrigam fortemente a liquidez do sistema financeiro e fomentam a continuidade da concessão de crédito ao consumidor.

Entendemos, então, que a perspectiva desta medida não deve ser tirada da pauta, sendo até prioritária para ser adotada.

A cada fala das autoridades monetárias, como aconteceu ontem, parece acentuar-se a tendência de valorizar medidas estratégicas, como as macroprudenciais, em detrimento do uso ostensivo da elevação da taxa de juro SELIC, como ocorria no governo anterior.

Este parece ser o grande ponto de confronto entre o mercado financeiro, desejoso de manter o ritmo de empréstimos e de alta na taxa SELIC, ante a manifesta opção do governo de trilhar outras alternativas, que passam por reduzir a demanda, que envolve diminuição do ritmo dos empréstimos ao consumo, e uma menor alta da SELIC.

Esta é a disputa que está presente, por isso tripudiam sobre as expectativas, e, por não aderirem à linha pretendida pelo governo, acentuam-se as projeções negativas.

O fato é que a complexidade do “status” Brasil atual difere do passado recente, mas é consequente do mesmo que promoveu descompassos fortes nos gastos governamentais e no afrouxamento da política fiscal. Assim, situações diferentes devem ter tratamentos diferentes, até porque o governo precisa manter estimulados os investimentos privados. Adicionalmente, não prevalece mais o cenário internacional benigno que perdurou durante 6 anos do governo anterior, e ainda não conseguiu superar as consequências da crise instalada a partir de 2008, e que foi bem suportada pelo Brasil com uma política monetária e fiscal expansionista, cujos efeitos negativos se manifestam atualmente e precisam ser contidos.

A indústria nacional, pelos dados recentes, dá sinais de perda de atividade, mas ainda há pouca clareza se decorre do efeito substituição do produto nacional pelo importado ou não, o que precisa ser melhor analisado. A invasão dos importados vem se acentuando, seja como produto de consumo final, seja como insumo como partes e peças utilizadas pela indústria em detrimento da produção nacional, o que vem desfigurando o conceito de produto nacional.

Voltamos a enfatizar o que temos salientado, o governo precisa, necessariamente, desonerar e incentivar a indústria nacional exportadora não agrícola para que recupere competitividade externa, ante a absoluta impossibilidade de recuperação do preço da moeda americana.

As atitudes operacionais do BC têm, razoavelmente, capacidade para dar sustentabilidade aos níveis de taxa entre R$ 1,65 a R$ 1,67, não se devendo esperar nada além disto.

Importante observar que o estoque de 192.900 contratos de “swaps cambiais reversos” em “aberto”, equivalentes a aproximadamente a US$ 10,0 Bi, embora vincendos de abril/11 a abril/12, sustentam, teoricamente, em perspectiva, um viés de baixa do preço da moeda americana, por ser do interesse dos “players” detentores.

 

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