Análise do Mercado – 20/10/2010

O dólar foi apreciado um pouco ontem, aparentando baixa sustentabilidade, foi a R$ 1,70 e recuou aos R$ 1,68, e não se tem noção clara sobre o seu comportamento nos próximos dias. Provavelmente será retomada a apreciação do real…

O dólar foi apreciado um pouco ontem, aparentando baixa sustentabilidade, foi a R$ 1,70 e recuou aos R$ 1,68, e não se tem noção clara sobre o seu comportamento nos próximos dias. Provavelmente será retomada a apreciação do real.

A causa teria sido o novo IOF?

A medida foi boa para inibir o ingresso dos recursos especulativos de curto prazo, aqueles com prazo de até 1 ano e forjados com operações de “carry trade” estruturadas no exterior para buscar rentabilidade nos países que proporcionam oportunidade de ganho, e, neste quesito o Brasil é imbatível, sem concorrentes no mundo e representando baixíssimo risco.

Utilizando como base a SELIC, a rentabilidade até 214 dias ficará nula e no ano inteiro atingirá 4,11%. Melhor teria sido com IOF de 7% que anularia o ganho até 260 dias e deixaria somente 3,0% ao final de um ano, rentabilidade que acreditamos inibiria efetivamente o ingresso destes recursos de péssima qualidade para o país.

Como recurso especulativo de curto prazo, dada a estratégia que o gerou não permitir, não se transforma em investimentos de longo prazo, haverá uma retração destes recursos no fluxo cambial.

Mas quem foi que disse que é o fluxo cambial que aprecia o real no país, pois o BCB retira todo o excedente e muito mais, e assim o impacto da oferta puramente desaparece. Esta é uma realidade pouco observada.

A formação do preço da moeda americana no Brasil decorre de inúmeros vetores não perceptíveis pela grande maioria dada a sua complexidade, e assim, esta grande maioria acredita que a causa da apreciação do real é o fluxo. Ledo engano!

É bastante provável que o Brasil se livre deste recurso indesejável, e assim comprará menos com os leilões do BCB, mas não faltarão dólares no mercado e o efeito desta contração não repercutirá na formação do preço. Assim, em termos de formação da taxa cambial o resultado será nulo, mas certamente poderá afastar do país e de suas reservas cambiais dólares que não interessam ao Brasil e que só colocariam mais vulnerabilidade em suas reservas cambiais, numa mudança de cenários que suscitasse a saída de capitais do país. Recursos especulativos, por natureza, são os primeiros a deixar o país e de forma rápida e provocando muita volatilidade e exacerbações inconsistentes.

No mercado futuro o BCB buscou cercar os recursos destinados a compor as margens das operações de grande potencialidade especulativa, mas a cerca apresenta rupturas que permitem que tudo continue quase igual, mas há um fato novo que ganha maior percepção neste momento:

O BCB não tem o domínio e nem consegue mais subordinar o mercado de câmbio brasileiro, visto que não tem poderes para interferir no regulatório operacional das transações da BM&FBovespa, ou seja nas regras das operações e assim não pode aumentar margens, etc. ficando a certeza, cada vez maior, de que o mercado futuro e, principalmente, o mercado de derivativos dominam a formação de preço da moeda americana no país.

É bem verdade que o BCB persistindo com os seus leilões de compra retirando mais divisas do que o fluxo líquido permite, continua contribuindo para que o mercado à vista também mantenha a sua contribuição para a apreciação do real, que a autoridade monetária utiliza como antídoto as pressões inflacionarias

Por vezes, surge a dúvida sobre o que realmente quer o governo: apreciar ou depreciar a moeda americana?

Esta perda de poder precisa ser observada como um alerta!

É possível que a contribuição das medidas com o IOF tenha provocado um impacto na formação do preço logo ao início dos negócios ontem, mas após uma análise mais detida e percepções de que janelas continuavam abertas, o preço da moeda americana perdeu um pouco do ímpeto inicial.

Então, foi a elevação do juro na China que segurou a apreciação do dólar no nosso mercado?

É possível pois a medida da China veio inesperada e pode sinalizar que deseja crescer de forma mais lenta, e isto impacta no mundo todo, valoriza o dólar e deprecia todas as demais moedas globais e nem tão globais.

A China com a medida contribuiu com o mundo para que os países consigam o que sozinhos não estão conseguindo fazer, ou seja, conter a apreciação de suas moedas frente ao dólar.

Mas não devemos esperar tanta generosidade chinesa, se o fez o fez pensando nos seus interesses. Este é um momento em que cada país foca unicamente seus interesses e não está preocupado com os outros. E é bom observar que a produção industrial da China caiu 16,3 % de janeiro a setembro deste ano.

Assim, os Estados Unidos inundam o mundo com dólares e não estão preocupados com os estragos que provoca e a China, que é o novo rico da economia mundial, blindou-se com mão firme no câmbio, neutralizando, assim com o “velho” câmbio administrado, o valor do Yuan e fazendo-se de surda aos reclamos mundiais para flexionar a sua moeda valorizando-a. Afinal, tem US$ 2,65 Tri de reservas, construídas com poupança de 45% do PIB e sacrifício de sua população, é o grande vendedor e comprador mundial, e, de quebra, é o financiador das grandes economias quase quebradas.

Cada vez mais estamos convencidos de que o Brasil não reúne condições para ter um sistema cambial flutuante, dada a ausência de requisitos básicos para tanto, e portanto, uma meia volta volver ao câmbio administrado com flexibilidade, um conceito mais hibrido, talvez seja a única porta sustentável de defesa.

Impensável devido os estragos que causaria e impactos no nosso mercado de derivativos tão desenvolvidos? Não seriamos diferentes dos Estados Unidos e nem da China, embora num outro contexto, estaríamos olhando o interesse do país e neutralizando o que não temos condições de suportar porque não nos preparamos para tanto.

Certamente, antes de todos promoverem a inevitável grande reunião para fazer um “revival” de Bretton Woods num projeto mais moderno, já que existem mais atores hoje no cenário mundial que precisarão ser ouvidos, cada um de per si e gradualmente vai procurar blindar-se cambialmente, e, esperamos que o Brasil não seja um dos últimos, já que é o primeiro na preferência mundial de destinação dos recursos especulativos e da intensificação da especulação nos derivativos.

È relevante observar que, atrás desta disputas cambiais e comerciais está escondida “uma guerra pela reconquista do emprego nas economias” entre os países, e o Brasil não pode fazer vista grossa a desindustrialização gradual causada pela excessiva apreciação do real que motiva a substituição do produto nacional pelo importado.

A excessiva apreciação do real é um problema que deve ser enfrentada frontalmente pelo governo, evitando perda de tempo com atalhos.

 

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