Análise do Mercado – 19/05/2011

Os números do fluxo cambial divulgados ontem explicam vários movimentos recentes do mercado de derivativos e na formação da taxa de câmbio no mercado à vista e futuro. Pontifica a atuação dos exportadores que, ofertando suas…

Os números do fluxo cambial divulgados ontem explicam vários movimentos recentes do mercado de derivativos e na formação da taxa de câmbio no mercado à vista e futuro.

Pontifica a atuação dos exportadores que, ofertando suas exportações e obtendo recursos a custos baixíssimos de ACC´s ou prêmios interessantes sobre travas, aproveitaram a forte alta ocorrida no mercado de cupom cambial-DDI e arbitraram, “entrando no jogo” do mercado e ganhando um percentual adicional ao seu negócio de exportação. A motivação para as operações de ACC´s aumentaram substantivamente após a imposição do IOF de 6% sobre os empréstimos de curto prazo do exterior, tendo em vista que são isentos.

Afinal, como sempre salientamos, neste mercado não há espaços para distraídos, por isso o cambio é tão intrigante e complexo na formação de seu preço, envolvendo fatores internos e externos, indo muito além do conceito simplista da oferta e procura.

Não se deve perder de vista que há um estoque da ordem de US$ 22,7 Bi de exportações embarcados nos últimos 12 meses, sem câmbio contratado até o momento, enquanto na ponta das importações o saldo é de tão somente US$ 6,2 Bi, tendo em vista que grande parte já teve o seu pagamento antecipado ou liquidado de imediato para aproveitar o dólar a preço baixo. Assim, potencialmente, há um estoque líquido de US$ 16,5 Bi a ser agregado ao fluxo cambial como ingresso em algum momento, além do fluxo normal de novas exportações.

Há um detalhe que consideramos relevante no que diz respeito aos bancos.

O volume de captações de empréstimos, prazos acima de 2 anos, por parte dos bancos continuaram se elevando e isto, naturalmente, aumenta seus posicionamentos de “hedge”, seja com dólar futuro ou cupom cambial.

Porém, ao mesmo tempo, há sinais claros de que estão reduzindo suas posições “vendidas” no mercado físico, compensando-as com as captações externas. Na virada do mês de abril para maio detinham montante de posição “vendida” no físico de US$ 11,731 Bi que reduziram para US$ 5,981 Bi, valendo-se do fluxo cambial positivo até 13, divulgado pelo BC, de US$ 8,809 Bi, dos quais somente venderam a autoridade monetária US$ 3,059 Bi através os leilões de compra realizados pela mesma.

Esta pode ser uma tendência efetiva, visto que os limites de posição “vendida” dos bancos, que é fonte de captação de recursos de curto prazo, não tributada por IOF, e que permaneceu como uma “janela aberta” para ingresso de recursos que acabam fomentando o crédito e estimulando o consumo, afora outras repercussões no próprio mercado de câmbio e derivativos, pode ser revisto pela autoridade monetária com efeitos imediatos, e, para sair deste “risco” de corte nesta fonte, poderiam estar “substituindo-as” por captações externas, permitindo que detenham recursos mais estáveis para fomentar suas estratégias, que, na ponta, acabam contrariando os objetivos da política monetária do governo que é de contração da liquidez e do crédito visando conter pressões inflacionárias.

Outro indício de que isto esteja ocorrendo é o fato das posições “compradas” líquidas dos bancos no dólar futuro e cupom já superarem o montante de suas posições “vendidas” no mercado físico à vista, o que pode já estar sendo “hedge” das captações externas recentes substitutivas.

Como se pode observar, o sistema financeiro foca prioritariamente seus interesses e utiliza todas as brechas existentes para fomentar a sua liquidez, por isso o crédito continua em nível acima do desejado pelas autoridades monetárias.

Tivemos no 1º trimestre o relevante ingresso de empréstimos de curto prazo, no entorno de US$ 31,0 Bi, que “driblou” parcialmente o aumento dos depósitos compulsórios promovido pelas medidas macro prudenciais de dezembro. Fechada esta “janela” com o IOF de 6%, no 2º trimestre estão agregando ao “colchão de liquidez” os empréstimos com prazos acima de 2 anos, aparentemente “renunciando” a posicionamento extremo das posições “vendidas” no mercado físico do câmbio, dando estabilidade a posse dos recursos.

Desta forma, restará ao BC/MF atuar sobre os limites de exposição das instituições financeiras a operações com variação cambial e não com tributação que seria ineficaz, e indiretamente forçar a redução de prazos de financiamento pelo sistema financeiro, com a elevação de depósitos compulsórios em situações especificas.

Fato importante é a evidência de que o governo tende a dificultar a importação de alguns produtos sob investigação no DECOM (Departamento de Defesa Comercial), órgão do MDIC, a pedido dos fabricantes brasileiros. No momento são 17 produtos e as investigações podem resultar em atos de defesa comercial, como salvaguardas, compensações ou medidas antidumping. A medida é positiva no sentido de proteger concorrência desleal à indústria nacional, contudo, é preciso que o MDIC monitore os preços dos nacionais que “livres da concorrência” podem reajustar preços.

No cenário externo, o Japão anunciou que o seu PIB do 1º trimestre recuou 0,9%, anualizada 3,7%, indicando recessão.

Nos Estados Unidos, que atingiu seu limite de endividamento na 2ª feira e o congresso continua não atingindo consenso sobre o orçamento, o FED divulgou ontem a Ata da mais recente reunião do FOMC, sinalizando que a opção dos seus membros tende a ser de alta do juro em detrimento à venda de títulos que o órgão tem em carteira, quando resolverem atenuar gradualmente a política monetária altamente expansiva. Assim, no uso do “erro e acerto” teriam mais liberdade para ajustes, mesmo que reversivos. Mas, aparentemente para já, em junho, somente a confirmação do fim do QE2, o que é sensato para aferição dos reflexos, e após gradualismo sempre, mantendo foco em alcançar estabilidade de preços e pleno emprego, o que ainda parece distante na economia americana.

A pouco, o Departamento do Trabalho americano divulgou que os pedidos de seguro desemprego da semana passada tiveram surpreendente queda ao ficar em 409.000, ante expectativa de 420.000, após ter registrado 438.000 na semana antecedente.

Na Europa, o BCE e a União Europeia divergem a respeito da reestruturação da dívida da Grécia. Há receios sobre os reflexos negativos no sistema bancário credor e, também, o risco da concessão de benesses para a Grécia suscitar reivindicações idênticas de Portugal e Irlanda.

As bolsas americanas abriram em discreta alta motivadas pelos dados divulgados pelo Departamento do Trabalho. Os T-Bills cedem e aumentam a rentabilidade para 10 anos de 3,17% para 3,24%. O petróleo cede caindo para US$ 99,68 o barril na NYMEX e o dólar se valoriza ante o euro cotado a US$ 1,4234.

O comportamento dos ativos, incluindo as “commodities”, como temos salientado, continuam repercutindo fatos pontuais presentes, não havendo tendências efetivas, já que continuam prevalecendo as incertezas.

O preço do dólar no nosso mercado continua oscilando, porém deixa evidente que há um ponto de resistência no entorno de R$ 1,61.

 

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