Análise do Mercado – 18/02/2011

Estaria o BC optando efetivamente pela manutenção do real apreciado como alternativa para fortalecer o combate às pressões inflacionárias, e, compensatoriamente, concederá desonerações aos exportadores brasileiros de…

Estaria o BC optando efetivamente pela manutenção do real apreciado como alternativa para fortalecer o combate às pressões inflacionárias, e, compensatoriamente, concederá desonerações aos exportadores brasileiros de manufaturados, e, também, onerando os produtos importados concorrentes dos produtos nacionais com elevação das tarifas alfandegárias?

Em princípio, poder-se-ia imaginar que o ímpeto do Ministro Mantega em recuperar o preço do dólar para incentivar a retomada da atividade exportadora da indústria não agrícola teria arrefecido, visto que:

– os instrumentos operacionais, até aqui utilizados, oneram o erário público e não têm força indutora suficiente para depreciar o real neste momento, deixando ainda na ponta, possibilidade de provocar mais apreciação do real na ocorrência de seus vencimentos; e,

– que a elevação do preço do dólar, neste momento, daria força às pressões inflacionárias, o que não interessa ao governo, enquanto que a manutenção ou mesmo um pouco mais de apreciação do real seria um forte elemento de contração as pressões inflacionárias.

Compensatoriamente, o governo desoneraria as exportações de manufaturas não agrícolas para superar o impasse do dólar depreciado, viabilizando assim a retomada das atividades exportadoras deste setor com competitividade.

Ainda neste contexto, elevaria os tributos dos produtos estrangeiros que têm produção nacional, minimizando a concorrência que estes vêm exercendo à indústria brasileira devido ao preço baixo da moeda americana.

Se observarmos a decisão anunciada ontem, o governo desonerou 417 produtos estrangeiros que não são produzidos no país, mas que fazem parte do conjunto de bens destinados a investimentos no país. Portanto, não há conflito visto que não concorrem com produtos nacionais.

É possível, visto que o governo precisa abrir “janela” para que a indústria alcance o mercado exterior com competitividade e com margens de ganho, o que, em primeira alternativa, poderia ser viabilizado com alta do dólar. Porém, esta alta, difícil de ser obtida com o “arsenal” que dispõe, colocaria mais pressão inflacionária na economia.

Com uma estratégia como a descrita atingiria seus objetivos: incentivar as exportações, diminuir a concorrência dos importados que têm similares nacionais e manter o dólar como fator de efeito mais rápido no combate as pressões inflacionárias.

O único risco pode advir da forma que for implementada, visto que pode ter problemas com a OMC. Mas, como neste momento cada um está olhando para os interesses imediatos, valeria o risco, e afinal quase todos estão praticando atos que lhes convém, e por que o Brasil deveria ser diferente?

Desta forma, a contração da demanda interna que ocorrerá seria também compensada pelas vendas ao mercado externo, mantendo assim o empresariado motivado a investir.

Os alimentos já deram sinais de perda de intensidade na alta dos preços, e, os serviços com uma economia em ritmo mais lento, certamente encontrará resistências às elevações dos preços de forma tão acentuada.

Acreditamos que a prioridade imediata deste governo seja o realinhamento da inflação com a meta, e, a partir daí, então, focar a desejada redução do juro, que por si só já aliviará o Tesouro e as pressões inflacionárias que acaba realimentando a cada elevação por aumentar o gasto do governo com o custeio da dívida pública.

O dólar, quando “sair do lugar onde se encontra”, certamente não será pelas ações operacionais do BC, mas sim por circunstâncias típicas do mercado, e, muito provavelmente se ocorrer elevação do déficit em transações correntes, já que continuamos com a percepção de que o fluxo cambial não será tão benigno quanto projetado este ano.

O melhor fundamento para acreditar-se em bom desempenho da Bovespa neste ano não é tangível, sendo “a esperança”, visto que num cenário de economia em desaquecimento, as oportunidades serão menores e hoje o país tem concorrência forte de outros mercados com perspectivas melhores.

Inflação e dúvidas sobre política fiscal são inibidores de investimentos, por isso urge que o governo coloque logo a “casa em ordem”, pois deve ocorrer certa retração até que haja mais clareza sobre as medidas do governo e seus resultados.

Parece-nos que o Brasil terá que “descer do salto alto”; diagnosticar e corrigir as consequências dos exageros cometidos no passado recente, para então, de forma sustentável, retomar o ímpeto do crescimento forte.

Não há, portanto, condições de projetarmos melhora de preço do dólar no nosso mercado, pelo menos no 1º semestre, período em que toda a ação governamental deverá estar voltada à reposição de ordem na casa. Em tese, o país poderá perder 1 semestre, mas em troca não correrá o risco de perder os 4 anos.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress