O governo deu uma demonstração de força no processo de aprovação do novo SM na Câmara, jogando pesado utilizando o mote certo para estabelecer quem está “com ele” efetivamente, e a Presidente mostrou estilo próprio e adequado, discreta…
O governo deu uma demonstração de força no processo de aprovação do novo SM na Câmara, jogando pesado utilizando o mote certo para estabelecer quem está “com ele” efetivamente, e a Presidente mostrou estilo próprio e adequado, discreta publicamente e dura nos bastidores.
O mercado financeiro, acreditamos, deve ter recebido positivamente a atitude e postura.
Agora, o Senado, mas não se espera surpresa.
O grande desafio para o governo no momento é mostrar-se firme nos seus propósitos de conter as pressões inflacionárias presentes, deixando transparente, contudo, que são necessários e imprescindíveis para preservar o crescimento do país em bases sustentáveis, com o claro intuito de não causar desincentivo aos investimentos.
Precisa agir rápido e de forma contundente, pois sinais precoces, como o sinalizado pelo Fundo Advent de que agora é hora de “vender” Brasil e “comprar” retornos melhores em outros países, pode ser um ato isolado, mas não pode deixar de ser considerado como um sinal.
Então, o mais recomendável é que “abata o leão de forma rápida, para que a caçada fique mais tranquila”, ou seja, jogar pesado no curto prazo contra a inflação e suas causas fundamentais que podem ser sensibilizadas por política fiscal e política monetária de rigor.
Dar clareza sobre os cortes no orçamento, ratificando de forma incontestável o propósito de conter os gastos governamentais e agindo em linha com este foco. Reforço das medidas prudenciais, aplicando rigor maior na contração da liquidez e na oferta de crédito ao consumidor pessoa física que ainda revela-se forte. Juros, por inevitável, em percentuais mais fortes, ou seja, altas maiores da SELIC pelo COPOM nas próximas reuniões, sem que isto implique que supere as expectativas projetadas no seu todo.
E o dólar mantido estável no patamar de R$ 1,67, em que ainda é contributivo para o controle da inflação.
Choque rápido e com múltiplos vetores na estratégia pode provocar a convergência mais rápida da inflação na direção da meta, permitindo que, num período de tempo mais curto, possa ser revertida a necessidade de manutenção de juro elevado e o crédito ao consumo sendo liberalizado de forma mais equânime com a capacidade da oferta.
É preciso manter o setor industrial estimulado ao investimento para que aumente a capacidade instalada para gerar oferta, de forma a que, quando restabelecida maior liquidez para o consumo, os desequilíbrios tenham sido eliminados, deixando de exercer pressões inflacionárias.
A tese de que o juro alto atrai mais investidores e força a apreciação do real não pode ser colocada de forma tão simplista, visto que inflação e descontrole fiscal afugentam investidores, e temos a concorrência mais efetiva de outros países emergentes com boas perspectivas nas Bolsas, e não só os emergentes, também os desenvolvidos passaram a competir pela preferência.
Na nossa visão, o fluxo cambial para o Brasil não será tão benigno neste 2011. Janeiro registrou um saldo relevante de US$ 15,5 Bi, mas grande parte teve origem em captações externas de empréstimos por parte de empresas e bancos nacionais. Fevereiro revela na 1ª quinzena um saldo de US$. 2,5 Bi após um saldo na 2ª semana de tão somente US$ 39 MM. E mesmo assim, não se pode atribuir que este montante tenha sido direcionado para a Bovespa, podendo ser admitido algum direcionamento para títulos de renda fixa, mas, assim mesmo, ainda deve englobar valores de captações externas de empréstimos.
No mês de fevereiro o fluxo cambial total positivo está em US$ 2,5 Bi. Na semana de 7 a 11 houve uma melhora no fluxo financeiro que apontou positivos, US$ 3,2 Bi, revertendo o negativo da 1ª semana que foi de US$ 117,0 MM. No mesmo período o fluxo comercial foi negativo em US$ 715,0 MM, após ter sido positivo em US$ 156,0 MM na 1ª semana. O BC retirou nesta 2ª semana com os seus leilões “spot” US$ 1,520 Bi ante o fluxo positivo de US$ 3,261 Bi, porém há um fato novo que não pode ser visualizado, ou seja, o montante das compras a termo não são informadas como “em ser”, pois a informação é dada com base no “câmbio liquidado” e, assim, só aparecem quando liquidados, o que impede que se observe se o BC comprou além do fluxo cambial. No mês de fevereiro, considerando somente, o “spot”, o BC comprou US$ 4,356 Bi montante maior do que o fluxo positivo de US$ 2,585 Bi, mas a sua intervenção pode ter sido maior, pois os leilões a termo no mercado físico não estão declarados.
Com um déficit em transações correntes em tendência de crescimento, podendo ultrapassar os US$ 70,0 Bi, confrontando-se com um fluxo cambial para o país menos intenso, é bastante provável que esta circunstância promova uma discreta valorização do preço do dólar, o que o BC não dispõe de instrumentos ou ações operacionais para conseguir de forma eficaz por si só, já que todos os seus instrumentos focando este movimento têm, intrinsecamente, também um viés na ponta que estimula a apreciação do real.
Para um governo novo, o quanto mais rápido eliminar da economia os efeitos maléficos instalados a partir da política expansionista do antigo governo melhor, pois poderá realinhá-la para um crescimento efetivamente sustentável.
Então, embora o BC venha intensificando suas intervenções nos mercados de câmbio físico e futuro com diversidade operacional, entendemos que o objetivo claro é a estabilidade, deixar temporariamente o preço da moeda no entorno de R$ 1,67, visando não permitir que o real seja mais apreciado do que depreciado. Contudo, precisará ficar atento pois tanto os leilões a termo no mercado físico quanto os “swaps cambiais reversos” tem, nos seus vencimentos, fator estimulante à apreciação do real.