Análise do Mercado – 18/01/2011

O COPOM realiza a 1ª reunião no novo governo sob enorme pressão para ajuste da SELIC, tendo em vista indicadores inflacionários aquecidos presentes na economia. Este governo tem sinalizado que terá foco marcante nas causas das pressõe…

O COPOM realiza a 1ª reunião no novo governo sob enorme pressão para ajuste da SELIC, tendo em vista indicadores inflacionários aquecidos presentes na economia.

Este governo tem sinalizado que terá foco marcante nas causas das pressões inflacionárias e não somente nas consequências, o que tende, em tese, a utilização de estratégias e decisões que não coloquem a elevação sistêmica do juro como fator preponderante no combate as altas de preços, mas também e principalmente, medidas normativas que impactem sobre o crédito ao consumo e, indispensável, forte aperto fiscal, com redução drástica dos gastos do governo.

É fundamental um realinhamento entre as políticas macro e fiscal do governo, passando por uma rigorosa avaliação dos itens determinantes das pressões inflacionárias, para identificar-se os que podem ser sensibilizados com a elevação do juro e os que têm causas que não respondem a aumento do juro. Tratamento generalizado com o juro, que no governo passado se fez insuficiente impondo que o governo também estimulasse a apreciação do real como coadjuvante, que sugerem terapias para causas diversas, acaba por gerar realimentação da espiral inflacionária.

Portanto, nos parece relevante que este novo governo coloque em ampla discussão uma análise crítica, sempre rejeitada no passado, sobre as efetivas razões da taxa de juro ser tão elevada no país, extremamente dispare em relação a outras economias semelhantes ou até menos promissoras que a brasileira.

Afinal, por que temos indicadores como o IGP-M e o IPCA reajustando preços e serviços na economia, quando o governo considera o IPCA o seu índice oficial?

Enfim, precisa ser colocado à mesa uma abordagem efetiva sobre o juro e indicadores praticados no país, tema “indigesto”, mas absolutamente necessário.

Altas do juro são extremamente desincentivadoras aos setores produtivos; oneram sobremaneira fiscalmente o país com os custos da dívida pública e o carregamento das reservas cambiais, e, na grande maioria das causas não são eficazes e pontuais, promovendo mais realimentação inflacionária.

Juro mais elevado desperta maior atratividade para o capital especulativo, impondo ao BC aquisição de maiores volumes de divisas de má qualidade no mercado à vista, e, agregando-as as reservas cambiais, que, em perspectiva, tornam-se mais vulneráveis dada a possibilidade de movimentos reversivos.

Como o BC retira todo o excedente do fluxo cambial do mercado, não diríamos que o fato impactaria rigorosamente no preço da moeda americana, sendo que o que tem determinado a apreciação do real é o fato do BC retirar do mercado volumes acima do excedente do fluxo cambial, o que “parece” que não será mais praticado neste novo governo. Este detalhe era notado por poucos, acentuando-se a percepção desta ocorrência a partir de 6 de janeiro, quando o BC estabeleceu o compulsório de 60% sobre as posições “vendidas” dos bancos, reconhecendo publicamente a forte influência deste posicionamento na apreciação do real.

O mercado de câmbio tem merecido observação continua por parte do novo governo, com evidência de interesse em conter a apreciação do real, fato que reconhecidamente ultrapassou a linha dos benefícios e avançou causando prejuízos à economia nacional, provocando movimento de desindustrialização e perda de competitividade no comércio exterior.

Sabidamente, o Brasil desenvolveu instrumentos eficazes para momentos de crise, com a emissão de quase-moeda representada por títulos com rendimento atrelado a variação cambial e a colocação necessária de “swaps” para que as empresas realizem “ hedge” de suas exposições em moeda estrangeira, amenizando os riscos aumentados quando a credibilidade do país revelou-se em baixa. Desta forma, conseguiu equacionar pressões de demanda, sem ocorrência de colapso.

Contudo, para os momentos de elevada credibilidade não há instrumentos operacionais eficazes, restando-lhe tão somente a atuação com leilões de compra no mercado à vista, que perdem esta característica quando o volume de compras excede o superávit do fluxo cambial, já que fomentam posições “vendidas” pelos bancos que conduzem o real a apreciação.

Por não ter equacionado, ao longo do período da mudança conceitual do país, a taxa de juro do país a parâmetros equânimes ao seu revisto conceito de risco, a sua elevação à “investment grade”, o país continua despertando forte atrativo ao capital especulativo, que não interessa qualitativamente e que acaba agregado as nossas reservas cambiais, acarretando elevado custo de carregamento.

É evidente que o grande problema presente na nossa economia e causa de quase todos os males é a elevada taxa de juros, que por isso, entendemos deva ser objeto de ampla discussão pelas autoridades e sociedade brasileira.

Os “swaps cambiais reversos” reconhecidamente são ineficazes quando se trata de dar sustentabilidade ao preço da moeda americana, já que na ponta promove forte estimulo a apreciação do real, contrariando de forma absoluta a sua formulação teórica.

A incursão “esperançosa” do governo via este instrumento, que já deu evidências consistentes de ineficácia num passado não tão distante, já dá mostras na prática de sua incapacidade de responder as expectativas, e, caso o governo acentue a sua prática poderá incentivar ao agravamento maior da apreciação do real.

Resta, então, a capacidade do governo normatizar as práticas e limites do mercado de câmbio à vista e, relativamente, no futuro/derivativos.

Seria oportuno rever a legislação que impede de realizar no mercado físico operações futuras, dando um passo de aperfeiçoamento no nosso mercado de câmbio e viabilizando absorção maior de recursos pelo próprio, atenuando a necessidade de compras do BC via leilões de compra no mercado.

É preciso que no trato do juro e do câmbio e da inflação se abandone a “mesmice” e se busque aperfeiçoamentos e ações mais estratégicas.

 

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