Análise do Mercado – 17/12/2010

Hoje, sexta-feira, dia 17, potencialmente pode sinalizar um “final do ano” no mercado de câmbio, o que pode determinar pressão de demanda mais acentuada com as empresas multinacionais ultimando o que resta de remessas de juros, dividendos…

Hoje, sexta-feira, dia 17, potencialmente pode sinalizar um “final do ano” no mercado de câmbio, o que pode determinar pressão de demanda mais acentuada com as empresas multinacionais ultimando o que resta de remessas de juros, dividendos, lucros e até transferência de caixa para suas matrizes, e, de forma geral as empresas com compromissos vincendos com o exterior procurando liquidar seus passivos, já que as duas próximas semanas já envolverão o período festivo do Natal e Ano Novo.

Portanto, uma discreta alta no preço da moeda americana deve ser atribuída a fatores internos pontuais, não alinhados com os “ruídos” que ocorrem no mercado internacional renovando as preocupações com os países periféricos da Eurozona.

O mercado financeiro global tende a um final do ano pouco festivo, pois a despeito dos consideráveis esforços governamentais não houve recuperação econômica compatível, e, em alguns casos, é possível verificar-se que a incompetência de gestão perdura a despeito dos comprometimentos havidos pelos governos dos países mais problemáticos. Esta percepção reforça o entendimento de que a solução dos graves problemas fiscais que ocorrem não são solucionáveis somente com ajudas financeiras, tudo levando a crer que os financiadores precisarão ser mais intervencionistas na gestão efetiva, até que ocorra o saneamento, caso contrário tornar-se-ão tão somente “ralos” de volumosos recursos.

Os Estados Unidos injetam recursos e prorrogam benefícios fiscais. O emprego não reage e, consequentemente, a renda, e a sociedade americana, outrora consumista, parece estar assumindo um perfil mais conservador e foca a poupança. O consumo interno, base do PIB americano, não se recompõe como objetiva o governo, e o crédito bancário não flui para a economia, acabando nos mercados especulativos. Precisa então, alternativamente, exportar mais e importar menos, para que no comércio exterior consiga dinamizar a sua recuperação econômica.

Mas a Europa e o Japão cresceram fornecendo para os Estados Unidos, não tem condições de “atender” as necessidades americanas atuais, pelo contrário, precisam continuar vendendo mais e comprando menos.

Países desenvolvidos precisam vender mais e comprar menos!

A China, a quem caberia a posição de destaque e ajuste desta equação que não fecha, não tem mercado interno com poder de consumo e permanece blindada por uma paridade irreal que atribui ao seu Yuan. Portanto, também deseja vender mais e comprar menos. Embora atravesse um momento extraordinário, parece inevitável que, se a falta de solução para a equação alongar-se, a China poderá ser afetada.

O Brasil, que está tendente a desaquecer a intensidade do seu consumo interno, tem neste um diferencial para sobreviver neste cenário global prevalecente, mas precisa mudar sua matriz de políticas monetária, fiscal e cambial, e é esta transição para um novo contexto estratégico que está sendo desenhado pelo novo governo, e já há sinais nas medidas recentes do BC e MF, claramente “por conta e ordem do governo que será empossado em janeiro”.

Para quem não estava validando esta percepção, a Ata do COPOM, ainda com a composição atual mas certamente afinada com a próxima onde estarão também o Ministro Mantega e o atual membro e futuro Presidente, Tombini, deixou sinais que não sancionam uma alteração da taxa SELIC na próxima e nem nas próximas reuniões.

O texto evidenciou que é necessário aguardar os resultados alcançados pelas medidas “prudenciais” recentes, e isto não será possível já em janeiro, pois em dezembro a massa salarial é expandida pelo 13º salário, e não se pode tentar desconsiderar previamente a eficácia do impacto das medidas na contração da demanda e redução da pressão sobre os preços, por isso não cabe precipitações na elevação da SELIC.

A citação do reconhecimento da presença de pressão inflacionária na economia e de que poderá utilizar mecanismos adicionais às medidas “prudenciais”, é algo óbvio, mas não assegura o imediatismo da utilização. Enquanto não for conhecida a eficácia das medidas “prudenciais”, fica com o beneficio da dúvida para postergar qualquer decisão envolvendo a SELIC.

As medidas focando o incremento do financiamento de longo prazo pelo setor privado apontam, também uma mudança sinalizando que os investimentos deverão continuar em ritmo para adequar o país com infraestrutura adequada, mas não mais com o governo suportando os aportes ao BNDES e este sendo o único gerador de recursos para os investimentos.

Evidentemente, enquanto se alteram as pedras do tabuleiro, o que demandará um período de transição para implementação e até para adaptação do mercado financeiro a nova dinâmica, haverá necessidade de manter o real apreciado para que desempenhe o papel de âncora na contenção das pressões inflacionárias.

Mas certamente, o conjunto de mudanças, na medida em que forem sendo consolidadas, provocarão a recuperação de preço da moeda americana e a possibilidade de redução do juro no país.

Isto, sem comprometer o objetivo de crescimento do PIB, naturalmente em bases sustentáveis no entorno de 5%, e uma meta inflacionária que poderá vir a ser, também, alterada para menos do que 4,5%.

Reafirmamos o que vimos destacando desde meados deste ano. O modelo de juros elevados e real apreciado como antídotos às pressões inflacionárias está saturado e a continuidade é impraticável, até porque seria insustentável manter-se a política fiscal expansionista com gastos com baixo foco na sustentabilidade do crescimento do país.

 

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