Análise do Mercado – 16/12/2010

As “apostas” não parecem ser fortes pela coletividade financeira nacional, mas certo é que 2011, necessariamente, precisará ser diferente dos anos mais recentes, para que o país preserve os avanços conquistados, nem sempre por caminhos…

As “apostas” não parecem ser fortes pela coletividade financeira nacional, mas certo é que 2011, necessariamente, precisará ser diferente dos anos mais recentes, para que o país preserve os avanços conquistados, nem sempre por caminhos sustentáveis, que agora precisarão ter reforços de suportes, ainda que tardios, que impeçam que entre num lento retrocesso.

Não há mais condições de farta distribuição de “benesses” determinantes de gastos excessivos e um expansionismo fiscal, que precisou recorrer a “magias matemáticas, quando não aritméticas” para não desfigurar o superávit primário, impulsionando as pressões inflacionárias inevitáveis, incrementadas também por farto crédito às classes emergentes e a prazos longos, e na contra ponta da resistência a um rompimento mais expressivo das metas de inflação, uma política monetária ancorada em juros elevados, levando de arrasto, pois só o juro não seria capaz bastante, a necessidade de induzir, sistemicamente, a apreciação do real.

Juro e dólar precisam mudar de perfil no Brasil, em caráter de urgência.

A Serasa aponta que a ocorrência de falências tem tido como causa principal, juro e câmbio.

A indústria paulista ainda cresceu 4,5% este ano e gerou 174 mil empregos, mas em novembro, seja lá qual seja a justificativa, já desempregou 21 mil e está projetando crescer em 2011 tão somente 3%.

A indústria nacional já engatou ré de 1,3% no 3º trimestre, quando as importações, não mais somente complementares ou para infraestrutura, mas sim substitutivas do produto nacional, cresceram mais de 40% ante um crescimento de exportações de pífios 13%. Estamos gerando empregos nos países concorrentes, consequência direta de um preço de dólar desequilibrado e estimulante as importações que estão fulminando a indústria nacional. As demissões de novembro não foram por acaso. É preciso não menosprezar os indícios presentes.

E, precisamos deixar de atribuir o real apreciado a fator “fluxo cambial”, já que o BC agregou as reservas cambiais brasileiras todo o fluxo cambial positivo e muito mais, neutralizando o impacto oferta no mercado, que provocaria a apreciação. Porém, o “muito mais” acaba sendo, de forma estratégica e sutil, o forte indutor a apreciação e não o fluxo.

Superamos bem o período mais crítico da crise iniciada em 2008. Nossa desvirtude de ter um depósito compulsório elevado virou virtude e permitiu que fosse promovido um refluxo de recursos para o mercado financeiro com abertura intensa do crédito ao consumo. Nossa reserva cambial, de elevadíssimo custo de carregamento, ganhou uma validade de oportunidade e ainda possibilitou refluir o crédito externo que encurtava rapidamente por parte dos banqueiros estrangeiros que estavam sob forte risco de quebra. Como temos baixa participação no comércio internacional não sentimos demasiadamente os efeitos negativos, e os que foram sentidos decorreram mais de nossas decisões internas do que do mercado externo.

Em realidade, não havíamos nos planejado para uma crise, mas sim para conquistar o “investment grade”, mas a crise nos encontrou em condição que se prestou a nos escudar.

Tivemos gestores hábeis, mas, inegavelmente também, esteve presente o fator sorte.

Crescemos forte neste ano, mas não poupamos de forma condizente e nem fizemos a base estrutural para sustentar o ritmo de crescimento.

Cometemos os mesmos erros dos “novos ricos”. Agora teremos a necessária “ressaca”, menos bondades e até certo ponto, algumas maldades, que serão representadas pelos ajustes de rotas inevitáveis.

As medidas “prudenciais” do BC recentes, com sinais claros de “por conta e ordem do novo governo”, já afastará do consumo um considerável número de “novos consumidores”, visto que encarece e eleva a prestação pelo encurtamento do prazo, que assim deixa de se “encaixar” no orçamento familiar.

Qual é o peso desta mudança no comportamento da inflação? A rigor ninguém sabe ainda, embora o governo estime em 1%, mas pode até estar errado e ser maior. Não é uma mudança pequena, visto que o consumo a crédito, na sua grande maioria, se dá pelo tamanho da prestação e não pelo custo final.

Também, “por conta e ordem do novo governo”, o Ministro Mantega, que é e continuará sendo, anunciou estímulos aos financiamentos de longo prazo. É uma busca de mudar a matriz, viciada em tudo depender do BNDES, sinalizando atitude importante.

Ao buscar alternativas de estratégias de política monetária, há sinais de que o juro não será o único instrumento, pois no fato de ser elevado no Brasil está grande parte dos nossos inúmeros e principais problemas.

A formação do preço do câmbio mais equilibrado estará diretamente dependente da viabilização da mudança da matriz da política de contenção da inflação, que permitirá a não utilização do câmbio como “âncora” no contexto de contração das pressões inflacionárias, principalmente de curto prazo, onde é mais eficaz do que o juro.

Nada de preço explosivo no câmbio, mas o ajuste suficiente para retomarmos as exportações das manufaturas, estimulando a indústria já que a demanda interna deverá retroceder, e afastando as importações de bens não essenciais.

Acreditar que 2011 possa ser igual a 2010, não dá! Pois se der, dará errado certamente.

O país deve continuar perseguindo sua meta de inflação adequada, até menor do que tem sido determinada pelo CMN, como sugeriu o futuro Presidente do BC em sua sabatina, e, ontem apoiada pelo atual Presidente, Henrique Meirelles, para aproximar-se mais dos parâmetros inflacionários medianos.

Da mesma forma, focando o crescimento, porém de forma sustentável e com políticas sustentáveis, e isto passa por juro dentro de padrões internacionais e câmbio equilibrado.

E se estes estiverem em níveis adequados, atrairemos menos especuladores e especulação.

Porém, é importante reconhecer que a passagem do velho para o novo modelo ensejará algum tempo de transição, e, enquanto isto, o governo ainda terá necessidade de contar com o real apreciado para coadjuvar o controle da inflação.

 

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