O volume do mercado de câmbio é confirmatório de que o que era mais importante foi feito até a semana passada, dia 17, e que de agora em diante estará negociando o residual, portanto, o nível de demanda efetiva se retrai e é tempo, então, de ser…
O volume do mercado de câmbio é confirmatório de que o que era mais importante foi feito até a semana passada, dia 17, e que de agora em diante estará negociando o residual, portanto, o nível de demanda efetiva se retrai e é tempo, então, de ser retomada a apreciação do real, que interessa aos “players” posicionados nos derivativos envolvendo dólar e dólar x juros, e aos bancos, estes tanto lá quanto no mercado de câmbio à vista, onde continuam com posicionamento “vendido”.
E, como parte também interessadíssima neste cenário, estão o BC e o MF que, neste momento, encontram na apreciação mais efetiva do real um forte componente de contenção das pressões inflacionárias presentes, necessário para que dê tempo para o novo governo assumir e impor a sua marca, provavelmente, como tudo sugere, promovendo uma mudança substantiva da matriz das políticas monetária, fiscal e de câmbio, que, contudo, precisará de um período para maturação de seus efeitos.
Desta forma, entendemos que o comportamento do preço da moeda americana tende a ficar abaixo de R$ 1,70 no fechamento do ano, e, continuar sendo induzida pelas ações do BC ao longo de janeiro, até que se as autoridades possam aferir de forma precisa os efeitos contracionistas das pressões inflacionárias com as medidas “prudenciais” adotadas pelo BC e MF recentemente.
E este comportamento deverá sustentar-se a despeito dos movimentos envolvendo o dólar ante as demais moedas fortes no exterior, por ser resultante da mixagem da política monetária com a política cambial no Brasil, atendendo conveniência dos gestores governamentais.
Nada se resolve de imediato, a mudança de estratégia de gestão que está sendo sugerida pelo novo governo implica em tempo para que seja consumada.
Embora o mercado financeiro continue pressionando no sentido de que a taxa SELIC seja elevada pelo COPOM na reunião de janeiro, inicial do novo governo, pode haver um desapontamento, pois pode ser dado um tempo maior para aferição da resultante das medidas implantadas que devem impactar na redução da demanda. Dezembro, mês festivo e inflado com o 13º salário, pode não proporcionar boa amostragem.
É relevante observar-se que há uma tendência presente por parte dos países focados pelo capital especulativo, no sentido de deixar de priorizar elevações da taxa de juro como instrumento de contenção das pressões inflacionárias, optando por medidas de impacto na liquidez do sistema bancário, que levam ao encarecimento e seletividade do crédito.
Desta forma, entendemos que as projeções de inflação e juro para o próximo ano precisam ser consideradas com muita reserva, pois não estão sancionando mudanças e vêm se fundamentando muito num cenário de continuidade, porém admitindo um crescimento menor do PIB.
Há sinais que 2010 deixa que precisam ser vistos com maior rigor.
O IOF elevado para 6% vem impactando na participação do capital estrangeiro nos papéis da dívida pública brasileira, embora não tenha sido reduzida, o que nos parece lógico, porém certo é que o fluxo de entrada está contido, como ficou evidenciado em novembro, confirmando o que já fora observado em outubro.
A “esperança” está na atratividade que os papéis focados no financiamento de longo prazo poderão despertar nos investidores estrangeiros, mas não deverão ter barreiras para ingressar para não haver desinteresse.
A BOVESPA, para a qual os analistas sonharam fechamento do ano em 80.000 pontos, está fechando o ano melancolicamente no entorno de 65/67.000 pontos, com resultado negativo no ano e tendo ontem zerado o ganho que vinha apresentando em dezembro. É possível que haja um movimento direcionado para evitar que consolide e feche o ano negativo, sem, contudo, anular o desapontamento em 2010. Enquanto isto, as bolsas americanas subiram cerca de 5% este mês e podem fechar o ano com ganho de dois dígitos. É preciso cautela em relação às projeções para a nossa BOVESPA em 2011, tem outras bolsas ao redor do mundo despertando oportunidades.
O nosso PIB crescerá menos, melhor projeção 5%, naturalmente poderemos ter um volume de IED´s menor do que está sendo projetado, até porque o capital disponível no mundo global é substantivamente especulativo e não para investimentos produtivos. Os especuladores já se retraíram nos investimentos em renda fixa e poderão não encontrar atratividade na BOVESPA. O FOCUS projeta US$ 38,5 Bi e o BC US$ 45,0 Bi. Ambos podem estar acima da curva.
A nossa balança comercial que tem péssimas projeções para 2011, para reagir precisará de um dólar com preço mais justo e equilibrado e livre das manipulações indutoras à desvalorização, sem o que será difícil reagir, e, além disto o governo deverá desonerar o setor exportador incentivando-o para a retomada. O FOCUS projeta superávit de US$ 8,0 Bi e o BC de US$ 11,0 Bi.
E as projeções para o déficit em transações correntes para 2011 são crescentes. O FOCUS projeta US$ 69,0 Bi e o BC elevou para US$ 64,0 Bi.
Poderemos ter um cenário cambial mais apertado em 2011 do que está sendo antevisto.
Tudo sugere que será necessário “mão de ferro” na gestão da política monetária e fiscal, a cambial deverá repercutir diretamente a eficiência destas duas e o contexto do ambiente do fluxo de recursos externos que não projetamos dos mais favoráveis.
Tempos de gastança governamental e política fiscal expansionista parecem ter sido esgotados, assim como a permanente política de juro alto e real apreciado.
Já não haverá espaços para tantas bondades, algumas “maldades” terão que ser introduzidas com reflexos na sociedade e no seu ímpeto de consumo, foco firme em incentivar o setor produtivo e nem tanto para o mercado financeiro, onde o lucro fácil deve perder espaço e o risco poderá estar mais presente.
“Virar a mesa” das políticas monetária, fiscal e cambial sem mudar o foco em metas inflacionárias e crescimento menor, porém sustentável, com base em investimentos estruturais fundamentais que foram postergados, e, andamento nas reformas imprescindíveis que foram adiadas. Além disto, responder as inúmeras demandas comprometidas com Copa do Mundo, Olimpíadas, etc. Este é o grande desafio do novo governo!
No cenário externo não há ainda fundamentos para que se projete algo diferente para 2011 do que se tem visto ultimamente, seja em relação aos Estados Unidos, Europa ou Japão.
Sinais para mais, sinais para menos nas economias, repercutindo diretamente na relação paritária entre suas moedas, tendo ao fundo, mas com relevante importância, a China, blindada contra tudo e contra todos, mas que não poderá descartar a possibilidade de vir a ser atingida na sua grandiosidade, visto que é dependente de vender ao exterior, não contando com um mercado interno com potencial compensatório.
Nos Estados Unidos, o problema desafiador deve continuar sendo o desemprego e a mudança que vem ocorrendo no comportamento da sociedade americana, que passa a ser conservadora focando mais a poupança do que consumista, o que afeta a recuperação do crescimento do PIB.
Na eurozona, os países periféricos tendem a continuar colocando em risco a unidade da comunidade, não conseguindo restabelecer a disciplina fiscal e comprometendo o euro.
No Japão, o juro está no limite de baixa e a indústria começou a dar sinais de desaquecimento, sendo altamente dependente das exportações para os Estados Unidos, as perspectivas de recuperação em 2011 são baixas.