Análise do Mercado – 17/11/2010

Há uma preocupação predominando no ambiente global para a qual ainda não se vislumbra uma saída, qual seja, “se não houver mais consumo em outros países para compensar a poupança nos Estados Unidos poderá ocorrer um fortalecimento da…

Há uma preocupação predominando no ambiente global para a qual ainda não se vislumbra uma saída, qual seja, “se não houver mais consumo em outros países para compensar a poupança nos Estados Unidos poderá ocorrer um fortalecimento da tendência a uma depressão mundial”, pois a economia americana, que sempre liderou as compras externas, agora precisa liderar com folga as vendas externas, mas está encontrando resistências, mas ao que tudo indica o governo americano vai manter-se fiel às diretrizes do FED na busca da reativação de sua economia.

É aquela questão já colocada: “todos querem vender mais e comprar menos” e, sabidamente, esta equação não fecha, e, se ninguém ceder, os negócios de comércio serão travados e os Estados Unidos não conseguirão revitalizar sua economia, mas certamente será agravada a situação dos países que têm suas economias dependentes do consumo americano.

Num cenário com este contexto, o conservadorismo acaba assumindo o lugar da especulação, assim as “commodities” deixam de ser alternativa segura como reserva de valor e os investidores buscam, então, os T-Bills , pois com todas as mazelas ainda não há alternativa mais segura do que o dólar e os papéis do tesouro americano.

Nestes momentos fragiliza-se a tese da opção por “cesta de moedas”, ao verificarmos o Euro que dias atrás valia US$ 1,40 já está sendo cotado abaixo de US$ 1,35, e as demais moedas também estão muito voláteis.

Certamente, uma “cesta de moedas” no contexto do cenário econômico atual seria mais volátil do que o dólar, e as causas tão diversas que seria difícil obter-se identificação clara.

É o caso de se perguntar , onde anda a tal “guerra cambial” orquestrada pelos Estados Unidos que não se sustenta ante uma nova rodada de destaque para a fragilidade Européia? As moedas, como prognosticou Nixon ao levar os Estados Unidos a romper unilateralmente o Acordo de Bretton Woods em 1971, devem variar de acordo com a pujança de suas economias. Como há alternância na percepção de quem está pior no momento, as moedas continuarão oscilando naturalmente, desconfigurando um pouco a voracidade de atribuir-se tudo a uma “guerra cambial”, deixando claro que a prevalência da especulação estava sobrepondo-se em muito a esta nova rotulagem.

A China se move indicando poder usar tabelamento de preços e juros elevados para conter pressões inflacionárias, mas certamente, neste cenário atual, tenderá a vender menos ainda que mantenha sua moeda desvalorizada. E, se há indícios de que a China possa ir mais devagar, as “commodities” perdem suporte para ser alternativa ao dólar, o que fragiliza a especulação dólar- commodities.

A questão é que está mesmo difícil de se identificar quem está pior neste quadro de economias abatidas pela crise iniciada em 2008, por isso os temores têm comportamento mutante, e, certamente o cenário poderá agravar-se avançando no protecionismo e, quem sabe, nas barreiras tarifárias.

Este cenário de incertezas crescentes desestimula agora os movimentos especulativos dado ao aumento do risco e torna os investidores mais previdentes.

O impasse por sua grandiosidade poderá ser o motivo estimulante para que todos os países importantes, provavelmente os do G-20, tenham que realizar uma nova cúpula específica para buscar vislumbrar uma saída, reconhecidamente difícil.

No Brasil, ontem, o mercado de câmbio à vista realizou volume bem acima do que possa sugerir os tão somente US$ 2,8 Bi de giro no interbancário. Certamente, as empresas começam a antecipar suas remessas de lucros, juros e dividendos e mesmo o pagamento de compromissos vincendos, pois a incerteza coloca em perspectiva uma eventual elevação do preço da moeda americana no nosso mercado local. Foi marcante também a presença de exportadores, que aproveitando a melhora do preço do dólar colocaram lotes substantivos.

No mercado futuro há um movimento mutante de posicionamentos líquidos. Bancos que em 21/10 tinham no mercado futuro posição “comprada” de US$ 7,4 Bi ontem registravam posição “vendida” de US$ 3,8 Bi. Contudo, alteraram suas posições em cupom cambial-DDI, já que em 21/10 tinham posição “comprada” de US$ 4,4 Bi e a elevaram para “comprada” em US$ 11,0 Bi. “Hedge Funds” tinham em 21/10 no mercado futuro posição “vendida” de US$ 6,9 Bi e até ontem haviam reduzido para “vendido” US$ 2,7 Bi. No cupom cambial-DDI elevaram a posição “vendida” de US$ 5,10 Bi para US$ 8,7 Bi.

Os bancos sinalizam acreditar que o juro interno sobe e o dólar cai, enquanto os “hedge funds” sinalizam o inverso, juro interno caindo e dólar subindo.

O mercado de derivativos está menos líquido já que as medidas recentes do governo afetaram a presença maciça dos especuladores, e, com menor liquidez os movimentos buscando reacomodação ou zeragem de posicionamentos contribui também para conter a apreciação do real e até elevar o preço do dólar.

Como o BC continua com os seus leilões de “compra” diários, ontem ao que consta não teria comprado nada na única incursão que teve no mercado, e mantém a retirada de dólares acima do excedente do fluxo ou mesmo quando este não existe, continuamos acreditando que as medidas de IOF e restritivas no mercado de derivativos visaram evitar maior apreciação do real e a atitude do BC foca não deixar que ocorra uma depreciação mais expressiva no real para não comprometer a inflação, que está aquecida por pressão dos alimentos. É um movimento pendular normativo para não deixar cair mais e operacional para não deixar subir mais.

Até o dia 12 de novembro o fluxo cambial do mês estava negativo em US$ 14,00 MM e o BC havia retirado com seus leilões US$ 1,464 Bi elevando as posições “vendidas” dos bancos de US$ 12,845 Bi na virada do mês para US$ 14,3 Bi, N última semana, contudo, o fluxo cambial foi positivo em US$ 1,392 Bi e o BC retirou tão somente US$ 358,0 MM. O fluxo comercial foi positivo em US$ 1,505 Bi e o fluxo financeiro negativo em US$ 113,0 MM.

Acreditamos que o preço da moeda flutuando entre R$ 1,70 a R$ 1,75 é satisfatório para o governo, por isso já consideramos como pouco prováveis outras medidas normativas.

Evidentemente, pode não ser satisfatória para os exportadores, porém será menos ruim se a apreciação do real se intensificasse pelos movimentos especulativos, já que nunca o foi pelo fluxo cambial que é totalmente absorvido pelo BC para as reservas cambiais, e a alta até R$ 1,75 não provocará “estragos maiores” na inflação, viabilizando assim a que o governo resista às pressões, já presentes, sugerindo alta da SELIC.

É previsível que a demanda neste final do ano supere a oferta e esta circunstância, evidentemente, poderá pressionar a taxa cambial, mas acreditamos que o BC “prudencialmente” ficará, nestes momentos, insinuando realizar leilões, mas não retirando nada do mercado.

Tudo indica que a questão cambial deverá ser considerada pelo novo governo, no contexto de uma discussão maior envolvendo alinhamento de política monetária, cambial, fiscal, etc., não sendo razoável imaginar medidas mais contundentes neste período final de governo.

 

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