É notoriamente crescente a visão consensual de que o próximo governo terá que, necessariamente, promover, prioritariamente, relevantes alterações nas diretrizes da política monetária, política cambial e política fiscal para que o país consiga…
É notoriamente crescente a visão consensual de que o próximo governo terá que, necessariamente, promover, prioritariamente, relevantes alterações nas diretrizes da política monetária, política cambial e política fiscal para que o país consiga estabelecer perspectivas sustentáveis de crescimento nos próximos anos.
Menos gastos públicos e com melhor qualidade focando as sérias deficiências estruturais do país; política fiscal focando o imprescindível aumento da poupança fiscal, viabilizando as medidas reduzindo o juro praticado no país e política cambial sem interferências mixando-a com política monetária e fazendo-a instrumento complementar do controle da inflação, o que afeta a formação da taxa cambial num mercado que se propõe flutuante.
A política atual que se pontifica pelo excesso de gastos públicos, baixa poupança, fatores de pressão inflacionária intensa, a ponto da SELIC elevada não se revelar suficiente para controlar e convergir a inflação para a meta definida pelo próprio governo, tornando-se imprescindível a complementação do controle através da indução da apreciação do real frente ao dólar, já que não é sustentável e revela-se absolutamente inadequada, muito embora enaltecida pelas conquistas sempre propagadas ante a omissão do seu lado perverso, que agora pontifica-se com a notoriedade de que o país atrai capitais especulativos por sua própria causa ao ofertar juros fora do contexto do mercado internacional e que a desindustrialização torna-se perceptível e até admitida por órgãos do próprio governo.
Urge que o novo governo defina os nomes para a área do Ministério da Fazenda e do BC, principalmente, para que passe a ter porta-vozes efetivos, sob risco, se não o fizer imediatamente, de boatos e palpites de tão repetidos assumirem caráter de verdades e estabelecerem um ambiente controverso.
Ontem em nossa abordagem salientamos que não esperávamos novas medidas do governo na área cambial e este parecia estar confortável com o preço do dólar entre R$ 1,70 a R$ 1,75, que na ponta de baixo não iria, agora, criar maiores problemas do que já criou para a indústria brasileira exportadora, e na ponta de cima não comprometeria o controle da inflação neste final de ano, já que nos parece que o governo pretende finalizar o seu mandato com a SELIC onde está, ou seja, a 10,75%, apesar das notórias pressões que vêm sendo exercidas pelo mercado financeiro.
À tarde o mercado de câmbio foi alentado pela declaração do Ministro Mantega, também candidatíssimo à continuidade no novo governo, de que não pensa em adotar novas medidas no câmbio, etc.
O Ministro Mantega precisa agregar ao seu enorme saber algo bastante primário: “em questões cambiais nada deve ser antecipado”! O câmbio é o segmento mais sensível a qualquer situação ou evento mais importante fora ou dentro do país. Nada deve ser pré-anunciado, se deve ser, feito, que o faça; se não deve ser feito, que se silencie.
A declaração provocou uma “relaxada” no mercado de câmbio e quebrada a expectativa, a taxa cambial voltou a apontar apreciação do real. E esta notícia confortadora pode colocar outra vez em perspectiva uma pressão de rompimento do piso baixo de R$ 1,70.
No cenário externo a própria flutuação das paridades entre as moedas fortes vem fortalecendo a fragilização da tese de existência da “guerra cambial”, termo que virou modismo sem um fundamento mais apurado e consubstanciado tão somente nas aparências superficiais.
Más notícias na Europa e o Euro cai frente ao dólar; más notícias nos Estados Unidos e o dólar cai frente ao Euro; no outro lado dólar sobre frente ao yen, e assim segue o mercado mostrando que é o cenário econômico de cada país que dita o preço relativo das moedas fortes, e, que movimentos especulativos pontuais exacerbam esta ou aquela excessiva desvalorização ou valorização.
É evidente que a colocação de liquidez pelo FED causa efeitos maléficos na medida em que destaca o fato principal, a economia americana vai mal, razão bastante para já desvalorizar o dólar e, como esta liquidez não encontra tomadores nos Estados Unidos flui para mercados emergentes, na busca de rentabilidade de oportunidade, apreciando as moedas destes países .
Poder-se-ia separar os ambientes dos países desenvolvidos, onde o fluxo de capitais oriundos dos Estados Unidos não é tão intenso, pois a rentabilidade não é compensatória e a desvalorização do dólar ocorre em razão da percepção de que a situação americana é pior do que os demais; e dos países emergentes que são afetados mais pelo fluxo de capitais especulativos que aprecia suas moedas e menos pela fragilidade da economia americana.
Entre os grandes os movimentos das paridades com um efeito “gangorra” deixam evidente que a apreciação ou depreciação é norteada pelos indicativos de piora ou melhora da situação econômica. No meio deste cenário atuam os especuladores que acentuam as desvalorizações no dólar e incrementam a valorização das “commodities”.
Entre os emergentes fica a pressão de apreciação de suas moedas e, no caso do Brasil, produtor de “commodities”, forte repercussão da alta dos preços na inflação.
Acreditamos que se os Estados Unidos alterar os critérios para colocação da liquidez no seu sistema financeiro, não alterará profundamente a desvalorização do dólar. Idealmente, poderia adotar um critério, não sugerido por nenhum no G-20, de colocar a liquidez “carimbada” no sistema, ou seja, os bancos que expandissem suas carteiras de crédito estariam aptos a negociar seus papéis em carteira com o FED para obter a liquidez.
Assim, a liquidez não fugiria do mercado americano e do fim objetivado, e os Estados Unidos estariam dando uma demonstração cabal de que a intenção é só irrigar a economia e não diretamente ser a causa principal, atribuída pelos demais países, da desvalorização do dólar.
Quem sabe esta não seja uma sugestão mais efetiva do que ficar atribuindo tudo a uma suposta “guerra cambial”, já que no fundo o que todos os países buscam é “vender mais e comprar menos”, e como temos salientado, esta equação não fecha, por isso a recuperação da economia global será lenta e não haverão vitoriosos, mas todos derrotados com risco de uma crise mais acentuada generalizada. Afinal, ninguém está tão bem neste cenário que não dependa dos demais. Afinal, é a globalização!