Uma reflexão mais rigorosa pós G-20 deixa uma forte conclusão de que, a despeito de eventuais aparências, o mundo global vai mal e todos os países têm suas fragilidades, incluindo até aqueles que aparentam estar melhores. O G-20 não trouxe solução…
Uma reflexão mais rigorosa pós G-20 deixa uma forte conclusão de que, a despeito de eventuais aparências, o mundo global vai mal e todos os países têm suas fragilidades, incluindo até aqueles que aparentam estar melhores.
O G-20 não trouxe solução para o problema central do câmbio, que é uma consequência natural da fragilização das economias e das medidas que cada governo adota para tentar recuperar o nível de atividade econômica. Porém, certamente fortaleceu a busca do caminho do protecionismo e de medidas de blindagem das moedas ante os efeitos maléficos das expansões monetárias decorrentes das injeções de liquidez promovidas por inúmeros países importantes, agora com uma nomenclatura pomposa “medidas macro prudenciais”.
Os Estados Unidos, acusados de injetar liquidez visando desvalorizar o dólar, não concordam e alegam que as medidas do FED focam a reativação da economia americana e que a desvalorização do dólar é consequência da queda de atividade da sua economia. Neste momento, não logra êxito em reativar sua economia e consequentemente o desemprego é recorde e a renda cadente, e, assim, não consegue reavivar o consumo interno, força motriz do seu PIB até recentemente, e precisa intensificar, como efeito substituição, as suas vendas para o mercado externo.
A China, rica e com reservas cambiais enormes, não quer flexionar sua moeda, extremamente subavaliada por decisão de governo, pois construiu sua pujança com vendas para o mercado externo, principalmente os Estados Unidos, e não pode alterar esta matriz devido ao fato de não ter um mercado interno forte. Se parar de vender ao exterior será fragilizada, pois este é basicamente o seu forte.
Japão, capengante nos últimos anos, mas uma das mais importantes economias do mundo, sofre do mesmo mal, cresceu vendendo para o exterior e não tem um mercado interno forte, sendo dependente, principalmente, de vendas aos Estados Unidos.
Ambos são países típicos que enriqueceram sem transferir para a população o efeito riqueza conquistado. São totalmente dependentes das vendas ao mercado externo.
Mas este é um contexto que envolve todos os países asiáticos.
A União Européia, com maior destaque para a Zona do Euro, volta a demonstrar vulnerabilidades localizadas na Irlanda, Portugal, Grécia e logo haverá outros da zona periférica apresentando problemas. Portugal já aventa a possibilidade de sair da zona do euro, o que poderia estimular outros países, também, a abandonar o Euro. A Alemanha, economia líder da região, mas que também acumula superávits comerciais relevantes dependentes dos Estados Unidos, também precisa fortalecer o seu mercado interno e vender mais para a eurozona.
O Brasil que sugere estar bem, tem um mercado interno forte, mas muito motivado por aumento do emprego e da renda com o crescimento econômico, além de alavancado por forte oferta de crédito. O ritmo de crescimento em 2011 deverá ser menor e o crédito precisará ser contido para evitar a ocorrência de “bolha” e insolvência e nos levar a vivenciar um “subprime brasileiro”.
Tendo a necessidade de manter taxa alta de juro elevada para conter a inflação e conseguir rolar a sua crescente dívida interna, em grande parte pressionada pelo excessivo gasto público de má qualidade, que requer que o governo, adicionalmente, induza a apreciação do real e a utilize complementarmente, também, para contenção inflacionária, atrai capitais especulativos de má qualidade em busca unicamente de rentabilidade e que acaba agregando às reservas do país, o que a deixa relativamente vulnerável, e que impõe por seu montante enorme custo de carregamento da ordem de R$ 50,0 Bi anuais, ao país, dada a ausência de poupança fiscal.
Adotou medidas prudenciais restritivas ao capital especulativo com a elevação do IOF e interferências nas estruturas de margens das operações no mercado de derivativos, mas atingiu não só o capital especulativo, aquele de curto prazo, mas também o de longo prazo, que ajuda o governo a alongar o prazo de sua dívida interna.
Com o real apreciado condenou a nossa performance no comércio exterior a quase que totalmente exportadora de alimentos e minérios, que tem preço em alta no exterior, mas em contraposição determina pressões inflacionárias fortes internamente, em especial pelo encarecimento dos alimentos, que por sua vez inibe conter na Selic.
O real apreciado vem causando a desindustrialização gradativa e a substituição por produtos importados, o que vai minando o emprego e a renda, que não tardarão a dar sinais. Não podendo abrir mão do real apreciado, não descartamos que o governo venha a ter necessidade de ampliar medidas tarifárias sobre produtos importados.
O Brasil precisa mudar a sua matriz na condução da política monetária, cambial e fiscal, além de fortalecer o foco no investimento na infraestrutura. O modelo atual está esgotado e superado, precisa ser focado rapidamente pelo novo governo, mas os resultados, caso não se perca tempo, demorarão para maturação.
Enfim, o Brasil precisa agir rápido pois os bons ventos presentes ao início do governo Lula, certamente não estarão ao início do governo Dilma.
Certo parece que cada país irá se defender como pode e isto não contribui para a recuperação de nenhum deles, mas pode agravar o quadro da grande maioria.
Vemos um cenário desfavorável para as contas externas brasileiras em 2011 e esta percepção pode provocar a elevação do preço da moeda americana.
O momento requer muita atenção e redução dos posicionamentos especulativos.