Análise do Mercado – 17/05/2011

Excesso de incertezas, carência de dados positivos, “commodities” lideradas por prata e petróleo sinalizando que podem assumir efetivamente generalizada tendência de ajuste forte nos preços para baixo, desarmando a roda…

Excesso de incertezas, carência de dados positivos, “commodities” lideradas por prata e petróleo sinalizando que podem assumir efetivamente generalizada tendência de ajuste forte nos preços para baixo, desarmando a roda “especulativa” predominante, por não encontrar mais sustentabilidade nas perspectivas de recuperação breve das principais economias mundiais.

Estados Unidos no limite possível para seus gastos; mercados financeiros convivendo com a perspectiva de encerramento do programa americano de recompra de títulos no final de junho; dados americanos desanimadores na atividade industrial que caiu forte no Estado de New York anunciada ontem e hoje o dado macro evidenciou estabilidade ante expectativa de melhora; início de construção de novas casas em abril com queda de 10,6%; na concessão de alvarás concedidos para unidades habitacionais queda de 4,0% em abril; Wall Mart, a gigante do varejo americano, evidenciando queda em suas vendas nos Estados Unidos, compensadas com vantagem pelas vendas em outros países; etc.

Europa que se vê num ambiente de forte desconforto causado pelos países periféricos, que não alivia nem mesmo quando se aprovam pacotes de socorro financeiro, já entendidos como paliativos, dada à acentuada percepção de que estes países não terão capacidade de enquadrar-se nos parâmetros de dívida fiscal estabelecida pelo BCE. Grécia, Portugal e na sequência, certamente, virão os demais. São preocupações e discussões que contrastam com discretos sinais de melhora dados por outros países da Comunidade Européia, conspirando contra a recuperação econômica objetivada.

Na Ásia, a China continua sinalizando preocupações com a inflação e agindo com aperto na política monetária, podendo ter algum reflexo no nível de atividade econômica. Dada a importância global do país, a repercussão é imediata nos mercados financeiros.

A volatilidade decorrente faz com que o dólar apresente oscilação quase que cotidiana frente às demais moedas fortes, repercutindo o comportamento dos preços das “commodities” de forma mais intensa, por vezes, do que os dados da economia americana.

Hoje as principais “commodities” estão em baixa, com o petróleo cotado a US$ 96,17 o barril na Nymex, queda de 1,23%, e o dólar então se valoriza frente ao Euro US$ 1,4158 e o Yen 81,4050 por dólar, com discreta queda frente a Libra US$ 1,6202. E, como natural em momentos de incertezas, a rentabilidade dos papéis de 10 anos cai, 3,12% aa. “yeld”, enquanto o aumento de procura pelos T-Bills os valorizam.

E, por aqui, avalia-se que se ocorresse uma queda da ordem de 25% no CRB em reais seria capaz de levar a nossa inflação ao centro da meta ou então algo como 10% poderia trazer as expectativas para inflação deste ano para algo intermediário entre o núcleo e o top, digamos 5,5%. Mas ao que parece não estão computando os efeitos da alta do dólar.

Factível? Sim, por que não? Mas certamente os “estragos” no mercado global não seriam pequenos.

O Ministro Mantega confia que o ajuste nos preços das “commodities” pode inibir a curva inflacionária e deixar o índice abaixo do teto máximo de 6,5%.

Por outro lado, tanto o MF quanto o BC parecem ensaiar atitudes que podem levar ao contraditório.

O MF quer discutir, mais uma vez, o problema que nomina como “guerra cambial”, centrando nos Estados Unidos a pressão por ter reduzido bruscamente a sua taxa de juro e, segundo o MF, provocado a queda brusca do dólar ante às demais moedas, apontando esta como uma das causas da apreciação do real.

Contudo, seria curioso saber-se qual o argumento brasileiro se fosse instado a assumir a responsabilidade da apreciação do real, por praticar exatamente o oposto do governo americano, praticando uma taxa de juro absolutamente incompatível com o seu conceito de risco no mercado internacional e, com isto, atraindo capitais especulativos, que obrigam o BC a esterilizá-los do mercado, agregando-os as reservas cambiais brasileiras, mediante a captação de reais a custo elevado, num processo de arbitragem extremamente oneroso ao país.

O BC aventa agora a possibilidade de controle do fluxo de capital, tendo em vista que parte desses recursos está ajudando a expandir o crédito doméstico. Primeiro, seria uma medida um tanto tardia, visto que no 1º trimestre entraram US$ 31,0 Bi em grande parte empréstimos externos de curto prazo, que praticamente ofuscaram as medidas prudenciais no que tange a elevação dos depósitos compulsórios. Foi um “drible” do mercado financeiro nos objetivos do governo.

Inegavelmente, o IOF de 6%, tardiamente adotado, fechou esta “janela” e o que se percebe é forte redução de ingressos de recursos por nacionais com o objetivo de fomentar o crédito interno e por parte dos estrangeiros para especular, seja com aplicações em renda fixa ou variável. Neste 2º trimestre houve uma contração forte no saldo do fluxo financeiro, tornando-o extremamente fraco.

Controlar o fluxo de capital nesta altura seria “bater em morto”, com perspectivas muito baixas de sucesso que justificasse a medida, mas poderia provocar efeitos sobre fluxos bons e que o país precisa para financiar seu polpudo déficit em transações correntes.

Importante observar que o fluxo cambial a partir de abril praticamente foi positivo em decorrência da melhora da contratação das exportações, muitas das quais anteriormente liquidadas, cujos dólares estavam retidos no exterior, e a retração da contratação das importações que tiveram grande volume de pagamentos antecipados nos momentos em que o dólar registrou as taxas mais baixas.

Não há, portanto, excessos de ingressos, salvo os decorrentes de colocações de títulos por empresas nacionais, especialmente bancos, que são pontuais, sendo efetivamente sobre os quais o BC pode interferir, sob o risco de tornar o fluxo cambial negativo.

A liquidez no mercado físico do dólar continua estreita, fato evidenciado pelo giro no interbancário que ficou ontem em US$ 1,679 Bi, considerado baixíssimo.

Os “hedge funds” mantêm inalteradas suas posições “vendidas” líquidas em cupom cambial-DDI em US$ 10,5 Bi. As taxas do cupom cambial-DDI recuaram de 6,50% aa. em meados de abril para 3,60% aa. ontem, não rigorosamente por melhora considerável da liquidez, mas sim da “calma aparente” dos mesmos, que pararam de tentar reverter estas posições de forma abrupta, dando um tempo para ver como se comporta o mercado. Não acreditamos que a taxa do dólar recue muito do ponto em que está, e, certamente, a taxa de juro do cupom será pressionada quando os “hedge funds” quiserem sair destas posições, até porque quem está “comprado” líquido na outra ponta do cupom cambial-DDI, em grande parte, são os bancos.

O que está acontecendo é que os “hedge funds” estão dando tempo ao tempo, mas é bastante improvável que o quadro melhore, até porque, fortalecendo-se o ajuste dos preços das “commodities”, o preço do dólar ganhará sustentabilidade no entorno do preço atual e mesmo em cenário menos afetado, não nos parece que haja condições da especulação reconduzir o preço do dólar aos parâmetros antecedentes.

No nosso entender, o preço do dólar conquistou um piso acima de R$ 1,60, e se for muito além disto começará a trazer preocupações no campo da inflação.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress