Ocorre um natural hiato dado à transição, nas ações mais diretas por parte do governo ante o cenário macroeconômico, já que quem está de saída já não deseja interferir e quem está para entrar ainda não pode interferir, embora se considere…
Ocorre um natural hiato dado à transição, nas ações mais diretas por parte do governo ante o cenário macroeconômico, já que quem está de saída já não deseja interferir e quem está para entrar ainda não pode interferir, embora se considere que as medidas “prudenciais” focando a contração da liquidez do sistema financeiro, mediante elevação dos compulsórios, combinada com contingenciamento de prazos, para que ficassem completas evitando a diluição do impacto das medidas no tempo, tenha forte característica de medida conjunta e consensual de ambas as partes.
Esta fase motiva muitas conjecturas e ilações, mas o novo governo já emitiu sinalizações de que objetiva uma nova matriz de política econômica, utilizando múltiplos instrumentos e não somente a taxa de juro, que, aliás, terá foco de redução.
Não nutrimos expectativa de que a Ata do COPOM prolongue-se muito além do que já foi expressado na nota pós-reunião.
Por enquanto é aguardar a aferição dos impactos contracionistas das medidas adotadas sobre as pressões inflacionárias, já que objetivam conter a pressão de demanda no consumo, que era aquecida a crédito fácil e longo.
Parece-nos claramente que o dólar tende a ter nesta fase, passada as presumíveis pressões pontuais até a próxima sexta-feira por demanda de remessas diversas ao exterior para zeragem do ano pelas empresas, um comportamento até, por vezes, descolado do comportamento externo, mais focado nos posicionamentos dos “players” no mercado de derivativos e dos bancos no mercado à vista. E estas são indutoras à apreciação do real.
Como temos destacado, entendemos que um real apreciado nesta fase de transição interessa ao governo, principalmente face a não elevação da SELIC na última reunião, para conter as pressões inflacionárias, principalmente do item alimentos, afetados pelas altas de preços das “commodities”.
O fato do BC atuar uma ou duas vezes, a rigor, podem não sinalizar que esteja desejando dar suporte ao preço da moeda americana, mas sim, focando a não redução do posicionamento “vendido” dos bancos no mercado à vista, que é indutor à apreciação do real.
Ao que tudo indica o objetivo do novo governo será de liberar a formação do preço da moeda americana da clausura à política monetária, sendo peça complementar importante para contenção da inflação, papel que a taxa SELIC isoladamente não conseguia cumprir.
A mudança da matriz da política econômica, sem perder de vista o objetivo de metas inflacionárias e crescimento adequado do PIB, será o grande desafio, como temos posto, do novo governo. Cortar gastos, política fiscal menos expansionista, investimentos em infraestrutura, redução da dívida pública, etc., com o objetivo de promover a redução do juro, será uma tarefa árdua, que enfrentará fortes resistências, como a que vimos ontem no Congresso Nacional, que num ambiente que preconizava cortes no orçamento, acabou por ampliar as despesas.
Continuamos com o entendimento de que o governo, nesta fase, não se oporá a uma apreciação do real que o conduza abaixo de R$ 1,70 ao final do ano.
No cenário externo, passado o efeito positivo do fato do governo chinês não ter elevado o juro para conter as pressões inflacionárias, limitando-se, pelo menos por enquanto, a aumentar o compulsório, o que repercutiu nas bolsas mundiais, alavancadas pelos preços das “commodities”, extremamente sensíveis aos sinais para o bem ou para o mal emitido pela China, as atenções se voltam para os Estados Unidos e a reunião do FOMC.
Não se espera que ocorra mudança no juro “zero” a 0,25%, mas ,naturalmente, pode haver alguma consideração a inesperada alta nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano após o anúncio do “eq2”, procurando quebrar as expectativas que o mercado vem formando de que possa elevar o juro em 2012. Dias atrás, Bernanke afirmou que poderia ampliar o “eq2” e se houver algo neste sentido, deverá se acentuar a desvalorização do dólar, que o mercado já está sinalizando com as valorizações do euro, libra e yen.
Já há indícios de que o Presidente Obama tenha conquistado número necessário de apoio para aprovar a prorrogação dos incentivos fiscais implantados pelo ex-presidente Bush, que acertou com os republicanos e que estava encontrando resistências por parte dos democratas.
O Fed americano, a partir da postura do seu Presidente Bernanke, parece não incomodar-se com as acentuadas críticas globais as suas ações direcionadas a elevar a liquidez do mercado, e, mais uma vez, não se espera nada eloquente quanto à economia americana, mas a sensatez de afirmar que está melhorando.
O Japão apurou um dado relevante negativo com queda na produção industrial no mês de outubro de 2%. Na mesma linha, na zona do euro houve melhora em outubro com alta de 0,7%, porém as expectativas apontavam 1,3%. A União Européia no mesmo período apresentou alta de tão somente 0,3%.
Como se vê, não se pode nutrir expectativas de recuperação sustentável das grandes economias consideradas desenvolvidas no curto e médio prazos, e assim, o ambiente deve continuar com humor mutante estimulado por fatos novos positivos ou negativos constantes.
Neste contexto, será inevitável a volatilidade constante das paridades entre as principais moedas, promovendo um efeito “gangorra” decorrente da percepção de melhora de uma e piora de outra, sem obter-se claramente uma definição de quem está melhor ou pior em bases bem fundamentadas.
E, se for mais duradouro do que se projeta, será inevitável que alcance os países emergentes, que, na sua expressiva maioria, não tem mercado consumidor interno, sendo o principal a China, pois poderá haver um acirramento do protecionismo.