Análise do Mercado – 16/09/2011

Uma boa orientação sobre comportamento a ser observado neste ambiente de crise mutante e infindável que assola a economia mundial é “olhe para frente e para a perspectiva e esqueça o retrovisor e os indicadores de medições comparativos…

Uma boa orientação sobre comportamento a ser observado neste ambiente de crise mutante e infindável que assola a economia mundial é “olhe para frente e para a perspectiva e esqueça o retrovisor e os indicadores de medições comparativos de evoluções e desempenhos”, caso contrário tudo poderá ser levado a perder, pois pode ser que à frente esteja o muro no qual poderá bater e encerrar a trajetória.

Portanto, é melhor olharmos com rigor a realidade nua e crua em perspectiva, não achando que poderemos replicar agora em 2011 as mesmas medidas adotadas em 2008/2009 que garantiram performance firme do Brasil na superação daquela fase primitiva da crise, em que utilizamos mecanismos de superação da retração de crédito externo valendo-nos das nossas reservas cambiais que refluíram para o sistema bancário irrigando-o com liquidez, da mesma forma que os depósitos compulsórios substantivos retidos pelo governo foram flexionados para fomentar o crédito interno, no qual teve participação destacada o conjunto de instituições financeiras públicas, que ganharam enorme espaço.

Naquela oportunidade o mercado interno respondeu com as suas demandas reprimidas e sustentou o crescimento do PIB brasileiro, sendo que no primeiro momento evitou que houvesse uma derrocada maior para depois torná-lo destacado.

Mas de toda forma o governo gastou demais, grande parte sem qualidade, economizou de menos e não fez investimentos estruturais e cortamos de menos e tardiamente a taxa de juros que estava elevada.

Hoje temos presente “a conta do passado recente representada pelas pressões inflacionárias”, a inflação corrói a renda, principalmente das classes menos favorecidas por atingir fortemente o item alimentos, as demandas reprimidas já não são tantas e o endividamento da sociedade é maior e tem algum risco de inadimplência, o emprego dá sinais de relativo desaquecimento na mesma linha da atividade econômica.

Continuamos tendo as alternativas de fomento do crédito em moeda estrangeira ou moeda nacional caso ocorram retrações, mas já não temos na contraponta as mesmas condições vigorosas que detínhamos naquela oportunidade.

Portanto, cortar o juro é preciso e apertar a política fiscal é imperativo. O passado só serve neste momento para não replicarmos os mesmos erros.

Esta nova rodada da crise que se revitaliza pode ser mais relevante do que a anterior e até mais abrangente, por isso não deve ser menosprezada ou subestimada, pois o que estamos assistindo pode ser só o começo de um quadro decadente que poderá ser muito mais agravado e já não existem as mesmas janelas para buscar-se agilizar as saídas, e, assim fomentar esperanças e amenizar a gravidade das perspectivas.

É preciso ter sensatez, há perigos relevantes na esquina!

O governo está atento a tudo e muito mais “cirúrgico” nas suas intervenções, agora aperfeiçoa as alterações introduzidas no Decreto 6.306 de 14/12/07 pela Medida Provisória 539 de 26/7/2011 e Decreto 7.536 de 26/7/2011 fechando flancos com o Decreto 7.563 de 15/09/2011 publicado no D.O.U de hoje, incluindo agora a “redução de posição comprada”.

O Brasil mudou, não se deve esperar efeitos impactantes na taxa cambial, visto que não há razões para apostar-se nem a favor e nem contra o real. Quando o real perde a atratividade especulativa perde o seu “encanto” e passa a ser considerada uma moeda à margem do mercado de moedas com curso internacional. Absolutamente comum!

Portanto, não se deve esperar nenhum movimento exacerbado no preço da moeda americana aqui nas nossas bandas.

Situações pontuais como o “estrangulamento” da especulação com os derivativos secaram a liquidez deste mercado e ainda há remanescentes que apostavam num real supervalorizado e juros estratosféricos, portanto, neste momento na contramão da realidade, e que precisarão zerar suas substantivas posições vendidas líquidas e que neste movimento deverão pressionar a taxa cambial, mas de forma pontual.

No presente, um aumento de saídas de investidores em renda fixa e variável e intensificação das remessas de juros s/capital, dividendos e lucros não representa aversão ao risco Brasil, que é bom, mas o conservadorismo das empresas e investidores nos momentos de crise os leva a optar pela liquidez ou por investimentos que considerem de menor risco.

A rentabilidade perde a atratividade em detrimento da segurança.

Esta é uma situação pontual que levou o preço da moeda americana ter uma alta até expressiva.

Os bancos, ágeis e de forma inteligente, aproveitaram o bom fluxo do início deste setembro e zeraram as exposições que tinham em suas posições vendidas no mercado à vista e as transformaram em compradas, posicionando-se para atender as pressões de demanda pontual do momento. Mas, por outro lado, sabidamente pontual esta alta, não perderam tempo e já iniciaram a formação de posições vendidas no mercado futuro de dólar, certos de que a taxa cambial retrocederá e então poderão zerá-las com dólar a preço mais baixo.

Não se pode, rigorosamente, nominar este comportamento como especulativo, mas sim técnico porque fundamentado em análise, no nosso modo de entender, absolutamente correta, de que não há ambiente para exacerbações nem para mais e nem para menos no preço da moeda americana, cujo eixo de equilíbrio está em torno de R$ 1,60.

Exportadores vêm atuando ingressando com os dólares que estavam represando no exterior, pois entendem que a alta é pontual e não vai muito além do que já foi, e, da mesma forma, como já salientamos anteriormente , os importadores têm a mesma percepção e assim retardam os pagamentos de suas importações convictos de que o preço retrocederá.

Observando tudo isto está o BC, que, em realidade, também deve estar entendendo que a alta é pontual, até porque não é desejável neste momento em que há pressão inflacionária presente e uma manifesta intenção de reduzir ainda mais a taxa SELIC.

O BC vem revelando uma percepção analítica das perspectivas com muito acerto e colocando-se à frente das projeções e análises do mercado.

Por aqui iremos assim, poderemos ter uma piora do déficit em transações correntes, mas mesmo com uma eventual queda nas projeções de IED´s, ainda teremos condições de financiá-lo, o que amenizará impactos no preço da moeda americana, já que temos também reservas cambiais relevantes

Um negativo sinal nos parece, sem entrar na discussão dos méritos e deméritos, é a nova medida do IPI para as montadoras. Um retrocesso, para um país “grande” que pretendemos ser, todo protecionismo é questionável, pois a melhor hipótese é que se “construa” uma indústria competitiva a nível internacional. Desta forma regredimos até porque a indústria automobilística “nacional” cada vez mais utiliza menos mão de obra e se vai investir em tecnologia tende a empregar menos ainda e a gradualmente retirar componentes dos veículos para aumentar preço indiretamente. Se o problema é na indústria piloto, peças e autopeças, que se desonerasse esta para que seja competitiva frente ao concorrente estrangeiro.

Nos Estados Unidos e Europa não vemos perspectivas de soluções breves, a crise será duradoura e de difícil solução, haverá ainda inúmeros percalços e não se pode descartar um cenário de recessão.

O problema é muitíssimo sério e as medidas de todas as naturezas que vêm sendo tomadas são paliativas, ou melhor, retardam que se enxergue o “fim do túnel” e a luz, se existir lá, mas não que possa provocar uma reversão do quadro atual para a recuperação sustentável. Tudo leva a crer que tanto Estados Unidos quanto Europa deverão ter agravamento do quadro atual, sobre vários aspectos.

Os movimentos das bolsas devem permanecer voláteis e são extremamente ilusórias as altas e os momentos de melhora de humor.

O Japão tem poucas condições de saída da recessão, já que é dependente do mercado externo e seus potenciais clientes estão em crise.

A China claramente já sentiu que terá repercussões na sua dinâmica de atividade econômica e então, de forma oportuna, faz o papel de quem quer ajudar a Europa, mas em troca quer o reconhecimento de economia de mercado, o que lhe permitiria uma ampliação de vendas de seus produtos. “Não há almoço de graça”, por isso, não nos parece uma boa opção o discurso do Ministro Mantega de “participar” da ajuda a Europa, nosso caso é diferente da China.

Enfim, como dissemos “nada do que foi será….”, e, não há atalho para saída rápida para os países europeus, Estados Unidos e Japão.

O mundo global econômico deverá construir um novo contexto de importâncias, porém não sem antes passar por período crítico, e, o melhor que podemos fazer é preservar os avanços que conquistamos, defendendo-os dentro do possível.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress