Impressionante como nossas autoridades não perdem a oportunidade para proporcionar análises precipitadas, e o pior, se enaltecem com a convicção de que tem méritos nisto, e soltam pérolas como “solidez de nossa economia e confiança…
Impressionante como nossas autoridades não perdem a oportunidade para proporcionar análises precipitadas, e o pior, se enaltecem com a convicção de que tem méritos nisto, e soltam pérolas como “solidez de nossa economia e confiança do mercado, e por ai vai…”.
De repente porque o mercado de CDS Credit Default Swap apontou um indicador de risco para os Estados Unidos de 49,7 pontos superior aos 41,2 pontos do Brasil, ouvimos as colocações de ufanismo.
Ora, O CDS é um “seguro” do pagamento das dívidas do governo negociado no mercado financeiro; sua oscilação de preço reflete, além dos indicadores econômicos, a aposta preponderantemente de especuladores, e a distorção notoriamente decorre do fato das dificuldades que o governo americano encontra no Congresso para elevar seu endividamento. O impasse coloca em perspectiva eventuais dificuldades de capacidade de pagamento por parte do governo americano que, contudo, faz parte do jogo político interno nos Estados Unidos, mas que ninguém imagina que possa ocorrer, porém dá margem as especulações típicas num mercado que “se alimenta” das incertezas, críveis ou não, para fomentar negócios e especular.
É absolutamente “no sense” imaginarmos que ficamos melhores em decorrência de especulação pontual e oportuna sobre a capacidade de pagamento dos Estados Unidos.
Este mercado de CDS não é referencial de risco consistente, não substitui o conceito de “risco país”, ou seja, o EMBI+ Emerging Markets Bond Index Plus, que se concentra na aferição dos riscos dos países emergentes, tendo como 1º autor o JPMorgan. Tecnicamente falando, o risco país é a sobretaxa que se paga em relação à rentabilidade garantida pelos bônus do Tesouro dos Estados Unidos, país considerado o mais solvente do mundo, ou seja, o de menor risco para um aplicador não receber o dinheiro investido acrescido dos juros prometidos.
Afinal, não podemos perder de vista que os Estados Unidos representam 26% do PIB global, enquanto o nosso Brasil tão somente 2,45% e, se o “gigante” sofrer um ataque especulativo, sobrará “tsunami” para todos.
Não podemos perder de vista o fato de que o último reduto para se proteger nas crises quando se consolidam fortes incertezas, com todos os problemas que o país possa ter, os investidores buscam os T-Bills do Tesouro americano.
Feito o “reparo” para que também não passemos a acreditar que o real é a melhor moeda do mundo e a melhor reserva de valor existente, vamos a abordagem do mundo real onde as economias não conseguem vislumbrar saídas para a recuperação da atividade, levando as incertezas a agravarem-se e não descartando uma visão prospectiva até com algum nível de recessão, onde todas, desenvolvidas, já não tão desenvolvidas e emergentes deverão perder ritmo, situação que poderá não deixar impunes os especuladores das “commodities” e outros ativos que, certamente, ajustarão seus preços à efetiva realidade.
Neste momento, a despeito da fartura de indicadores pouco otimistas, o centro das atenções é a crise na eurozona, que, no mínimo, perdurará até domingo, quando haverá nova rodada de discussões objetivando encontrar uma saída para a severa e preocupante crise da Grécia, que por si só é uma economia pequena, mas que pode, se não evitado o “default”, causar consequências muito maiores, atingindo o sistema financeiro além da eurozona, contaminando as demais economias periféricas da eurozona e não somente as periféricas e o próprio BCE que detém grande parte da divida grega.
O impasse presente nas discussões é relevante, pois a Alemanha postula a participação das instituições privadas no processo de socorro, enquanto o BCE discorda por temer a disseminação da crise pelo sistema financeiro.
No mercado de câmbio brasileiro há tensão a partir do posicionamento extremamente especulativo dos “hedge funds” no mercado de derivativos, com posições “vendidas” líquidas acima de US$ 20,0 Bi, que pode revelar-se uma exposição demasiada considerando-se o risco do mercado global promover uma rodada de ajuste de preços.
Ademais, o fluxo cambial já dá sinais não tão confortáveis de liquidez, aproximando-se nos 10 dias iniciais do mês a negativos quase US$ 3,0 Bi, mas evidenciando que o BC mesmo assim continua retirando dólares do mercado para as reservas cambiais, estimulando o crescimento das posições “vendidas” dos bancos no mercado físico, tendentes a US$ 15,0 Bi.
É possível que o aperto na liquidez, sem que o BC ofereça “swaps cambiais reversos” volte a estimular a alta do prêmio nos “cupons cambiais” e a alta da taxa cambial, que poderia motivar os exportadores a ingressarem com os dólares estocados no exterior das exportações liquidadas ou mesmo com a demanda de ACC´s, aproveitando para realizar “arbitragens” oportunas, repetindo movimento já observado num período do mês de maio passado.
Ocorre, contudo, que neste momento os riscos de que os mercados globais promovam um desmonte mais efetivo de posições especulativas são mais efetivos, e, se os “hedge funds” forçarem movimentos defensivos, ou seja, cobrindo suas posições de aposta no real, podem colocar mais pressão altista no preço da moeda estrangeira.
Enfim, o “estado de preocupação” presente, dependendo do agravamento da crise na eurozona envolvendo a Grécia e do comportamento do Congresso americano em torno da irredutibilidade quanto a não expansão do endividamento do Tesouro americano, poderá criar um viés consistente e tendente a algum pânico que pode precipitar o temido desmonte de posições.
Nada é impossível, contudo, as autoridades envolvidas diretamente com estes graves problemas, certamente, sabem que devem evitar o pior, visto que o mundo hoje tem menores condições de suportar crise aguda em comparação com 2008/2009.