O mercado financeiro global está no “tempo condicional”, sem quaisquer certezas, enormes incertezas e uma dependência absoluta do “se”, por isso volatilidade é o comportamento mais do que esperado, e, quem não tem “sangue frio” detona suas…
O mercado financeiro global está no “tempo condicional”, sem quaisquer certezas, enormes incertezas e uma dependência absoluta do “se”, por isso volatilidade é o comportamento mais do que esperado, e, quem não tem “sangue frio” detona suas posições.
Se a Comunidade Europeia chegar a bom termo na rodada de discussões no domingo, sobre a viabilização da estratégia de novo socorro à Grécia, os mercados poderão ter novo ânimo na segunda-feira, mas, se não alcançar o clima generalizado ficará muito pesado, podendo fortalecer a tendência de agravamento do “selloff” nas bolsas, assim como fortalecendo o viés de propensão aos desmontes de posições, e já começar a provocar as “pernas bambas” de outros países periféricos da Europa.
Aponta-se muito para Portugal, mas a Espanha anunciou que a Dívida Pública atingiu 63,6% do PIB no 1º trimestre e, assim, superou o limite de 60% fixado pelo Pacto de Estabilidade de União Europeia. Na realidade a DP cresceu 8 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado quando registrava 55% do PIB, sendo a proporção mais elevada desde 1998, quando atingiu 64,1% do PIB.
Como se vê a Grécia está no centro da crise, mas no entorno existem os demais periféricos que vão acumulando problemas que os tornam absolutamente vulneráveis no quadro atual.
Se o Congresso americano não flexionar o seu posicionamento contrário à elevação do endividamento do governo americano, poderemos ter um quadro impensável de comprometimento da capacidade de pagamento no curto prazo dos Estados Unidos, e, se isto acontecer as repercussões poderão ser extremamente drásticas.
Enfim, são inúmeros “se´s” em quase tudo que se possa tentar vislumbrar no momento seguinte, pois dependendo do desenrolar dos fatos e suas consequências, os cenários repercutirão de uma forma ou outra.
Mas não se pode perder o foco de que são incertezas relevantes e com elevadíssima capacidade de promover repercussões importantíssimas, efeitos em cascata de grande alcance e forte agravamento de riscos.
O nervosismo provoca exacerbações e recuos, ou seja, o efeito “gangorra” típico dos momentos incertos e sem tendência clara sobre qual será a saída adotada. Algo como o “choro e o riso” simultâneo nos momentos nervosos.
Os mercados e seus “players” então prospectam fatores para continuar promovendo o giro. Quando os papéis caem muitos justificam indicações porque ficaram baratos, se a “commodity” y ou z cai, embora num ambiente volátil, os papéis correlatos são indicados como se fossem movimentos sustentáveis, e assim segue.
Tudo representa um esforço para evitar um ajuste mais forte compatível com o quadro letárgico da economia mundial, que não sugere e nem justifica preços de ativos e indicadores tão exacerbados.
Hoje as bolsas, a partir das europeias, já que as asiáticas ainda refletiram o ontem, na mesma linha as americanas e, também, a nossa Bovespa insinuam recuperação encima dos “cacos” e procurando identificar oportunidades como alento, mas a sustentabilidade pode ser considerada frágil.
O petróleo está sendo cotado a US$ 93,46, em baixa de 1,57%, mas já chegou a ser cotado a US$ 92,00 logo pela manhã.
Os T-Bills de 10 anos evidenciam arrefecimento da demanda, perdem valor e abrem um pouco sua curva de juro “yeld” de 2,91% para 2,95% aa, enquanto o Euro se recupera um pouco ante o US$ cotado a US$ 1,4294.
Ontem o Índice de manufatura da Filadélfia caiu de 3,9 pontos em maio para menos 7,7 pontos em junho, frontalmente contra a projeção que estimava crescimento para 7,0 pontos.
Hoje a Universidade de Michigan divulgou o Índice de Confiança do Consumidor americano em 71,8 pontos ante projeção de 73,5 pontos pelos analistas ouvidos pela CNN.
O Conference Board Leading Economic recuou 0,8% ante projeção de recuo de 0,4%.
Contudo, definitivamente, nada é tendência, é só o momento.
No cenário interno, o fato outrora tão esperado de possibilidade efetiva de fim de subsídio ao álcool pelo governo americano acontece, mas pega o Brasil quase também dependente deste combustível, já que importou recentemente dos Estados Unidos, pois a nossa produção não acompanhou sequer o consumo doméstico, já que focou a produção de açúcar face ao elevado preço desta “commodity” no mercado externo.
A perspectiva pode incentivar novos investimentos e estimular a expansão do setor, mas claramente se quisermos exportar o produto de forma sustentável, sem desprezo ao mercado interno, muito coisa precisará mudar nos marcos de regulamentação deste combustível no país.
A inflação medida pelo IGP-10 de junho evidenciou que os preços no atacado recuam e no varejo desaceleram. O índice caiu 0,22% em junho um pouco mais do que a projeção do mercado que era de 0,15%, ante alta de 0,55% em maio de acordo com a FGV. O IPA recuou 0,69% contra alta anterior de 0,26%. O IPC subiu ainda 0,10% após alta de 0,98% anterior.
O IPC-FIPE na leitura da 2ª quadrissemana desacelerou 0,08%, ante projeção de 0,07%.
São sinais pontuais de desaceleração do processo inflacionário que, contudo, não se revela tendência consistente para o segundo semestre, quando se prevê pressões fortes sobre a inflação.
Por isso, foi importante os sinais de precaução do COPOM, que deverá continuar agindo firme contra as pressões inflacionárias, o que deve dar continuidade à alta do juro. Destacou também o grau de incertezas externas é preocupante.
Nas ilações que se possam fazer dos sinais emitidos pelo COPOM, inevitavelmente há um “se” tudo seguir como se consegue enxergar e perceber no momento. Afinal, um ajuste abrupto nos preços das “commodities”, efeitos consequentes da crise grega eventualmente mal resolvida, etc. podem alterar o cenário prospectivo, e tornar desnecessário o que agora parece necessário, ou vice-versa. As incertezas sugerem que as decisões ocorram sempre a partir do monitoramento dos cenários em cada fase.
Mas é importante o alinhamento, visto que o “viés expansionista” do governo já parece dar sinais desalinhados com os cuidados do COPOM, e ao incentivar o crédito pode conspirar contra seus próprios propósitos.
A arrecadação continua em expansão, mesmo num ambiente que já torna perceptível a redução da atividade econômica, o que acentua a percepção de que a carga tributária continua sendo elevada. E, ainda perdura um sentimento de que o governo continua gastando mal e cortando investimentos.
Este aumento de arrecadação, que numa economia que deve crescer metade do que cresceu ano passado, deve entrar em queda, deveria estar sendo poupado pelo governo, visando com isto a obtenção de superávit fiscal maior do que o projetado.
No mês de maio atingiu R$ 71,5 Bi, alta real de 7,2% em relação a maio de 2010, enquanto que no período janeiro a maio cresceu reais 10,7% frente a igual período de 2010.
Esta também é a percepção do FMI, que acredita que o Brasil não mais crescerá 4,5% este ano tão somente 4,1% e que em 2012 também não crescerá 4,1% mas tão somente 3,6%. E, muito embora tenha destacado a atuação positiva do país no controle fiscal, recomenda que é importante elevar o superávit fiscal .
O preço do dólar no nosso mercado está mais dependente do comportamento dos posicionamentos no mercado de derivativos do que do exterior, muito embora, não se possa deixar de considerar que o nervosismo externo influencie os comportamentos dos que aqui especulam. Se o cenário externo agravar-se é bastante provável que os “vendidos” apostando no real tentem diminuir suas exposições e com isto acabem pressionando e causando a elevação da taxa cambial. Por enquanto, um certo alívio, vamos ver na segunda o que foi definido a respeito da Grécia no domingo.
Entendemos oportuno transcrevermos aqui trecho de matéria da Bloomberg:
O Brasil está se tornando o maior comprador mundial de títulos da dívida dos Estados Unidos mesmo após o ministro da Fazenda, Guido Mantega, criticar as compras de Treasuries pelo Federal Reserve para estimular a economia americana.
Em abril, o País investiu US$ 13,4 bilhões em notas do Tesouro americano, mais que qualquer outro país e quase o dobro das compras feitas pela China, segundo dados compilados pelo Tesouro dos EUA. O Brasil elevou em 6,9 por cento o volume de títulos americanos em carteira, a maior expansão desde outubro de 2009, atingindo o recorde de US$ 207 bilhões. A China, maior detentora de Treasuries no mundo, e a Rússia estão reduzindo suas posições nesses titulos nos últimos seis meses.
As aplicações brasileiras em dívida americana disparam à medida que o Banco Central atua no mercado de câmbio para conter a alta de 44 por cento do real nos últimos dois anos e meio. O rendimento nos títulos de dois anos da dívida brasileira é mais de 12 pontos percentuais superior ao que pagam os papéis do governo americano com o mesmo prazo, o que atrai capital estrangeiro para o mercado local.
“Não há muito que se possa fazer com uma grande quantidade de dólares, a não ser comprar Treasuries”, disse Paul McNamara, que administra US$ 7,5 bilhões em ativos de mercados emergentes na GAM Investment Management Ltd. em Londres. “Apesar do Brasil estar preocupado com o enfraquecimento do dólar, o País olha para a situação com frieza – prefere pagar o preço e ter um certo nível de desenvolvimento industrial e emprego, sem se preocupar com a exposição.”