Temos repetidamente afirmado que o Brasil continua acumulando reservas cambiais não porque continue sendo decisão estratégica, mas tão somente por não ter alternativa a esta situação a que foi conduzido, tendo em vista praticar taxa de juro…
Temos repetidamente afirmado que o Brasil continua acumulando reservas cambiais não porque continue sendo decisão estratégica, mas tão somente por não ter alternativa a esta situação a que foi conduzido, tendo em vista praticar taxa de juro absolutamente incompatível com o seu conceito de “investment grade”, seu conceito de risco país no mercado internacional, afora o contundente desalinhamento com as praticadas pelos demais emergentes, em especial os BRIC´s.
Também, temos enfatizado que o acúmulo de reservas oriundas de capital especulativo que ingressa no país, as tornam extremamente vulneráveis, pois uma saída abrupta deste capital provocaria sua erosão rápida. E, mais, que o real é uma moeda atraente para especulação, mas ainda muito distante do anseio do governo de ser uma moeda conversível.
Além disto, temos destacado o expressivo custo de carregamento destas reservas de baixa qualidade, tendo em vista que não temos poupança interna e a geração de recursos em reais para segregar os ingressos para as nossas reservas cambiais implica em custo SELIC, quando na contra ponta as divisas são aplicadas no exterior em modestíssimas taxas de remuneração.
Por isso, entendemos bastante oportuno o longo e preciso artigo do Economista e Professor Francisco Lopes, na edição do jornal Valor de hoje, abordando o “risco cambial”, do qual destacamos um trecho:
“O Brasil, ao contrário da China, não acumula reservas internacionais porque produz superávit nas transações de bens e serviços com o exterior. No nosso caso, a acumulação de reservas resulta apenas do ingresso de capital estrangeiro e, nos últimos doze meses, apenas 20% desse movimento consistiu em aporte direto de capital para empresas, isto é, em ingresso com uma motivação nitidamente de longo prazo. O resto, incluindo aplicações em ações, renda fixa e os empréstimos inter-companhias (que o Banco Central imprecisamente classifica como investimento direto) são certamente ingressos com motivação mais de curto prazo e de natureza bem mais volátil.
O que faz esse capital estrangeiro ter tanta gana de vir para o Brasil? O Banco Central anuncia oficialmente que o regime cambial é de livre flutuação e que só opera no mercado de câmbio para “reduzir a volatilidade”. Na prática, nas condições atuais, isso significa que a cotação do dólar fica estável ou realiza um movimento de queda gradual. O que temos então é um verdadeiro paraíso para o especulador estrangeiro que pode facilmente se beneficiar do diferencial nas taxas de juros. Não é uma possibilidade de arbitragem perfeita, como ficou claro em 2008, mas é uma bela oportunidade de ganho com risco reduzido. Como o Brasil ainda não aboliu o forte efeito motivador da possibilidade de arbitragem (mesmo imperfeita) sobre o movimento de capitais, o resultado é o ingresso maciço que estamos observando.”
Temos destacado ainda que o montante de reservas cambiais, a partir de certo montante relativizado com os nossos passivos externos, perde a sua eficácia em sensibilizar as condições financeiras ofertadas pelo mercado internacional ao país, ficando neutra. Este ponto já foi atingido pelo Brasil. Por isso, consideramos ser insustentável o acúmulo de reservas como ocorre atualmente, visto que o ônus ao erário acabará por assumir cifras comprometedoras ao orçamento público.
Em razão disto, temos sempre enfatizado que as medidas até agora adotadas pelo governo no sentido de conter o ingresso de capitais especulativos, têm como foco prioritário evitar que o BC tenha que adquirir mais divisas e assim conter a expansão das reservas cambiais, e, não, como argumentado, dar suporte a taxa cambial.
Mas, Chico Lopes exercita um quadro mais traumático para este processo de acúmulo de reservas de baixa qualidade, preconizando adiante a ocorrência de uma “bolha” e consequências danosas a nossa economia.
Este é um tema recorrente e o ingresso deste capital especulativo causa multi-repercussões na nossa economia, porém, o ponto central que precisa ser discutido e causador desta situação é:
POR QUE O JURO PRECISA SER TÃO ELEVADO NO BRASIL? HÁ FUNDAMENTOS CRÍVEIS PARA TANTO?
A taxa cambial deprimida, com exacerbada e incompatível valorização do real, tem agregado considerável cooperação ao governo anterior e mesmo a este como “coadjuvante” do juro elevado na política de contenção das pressões inflacionárias, mas há uma “fatura” que a nossa economia apontará em algum momento. Com a alta dos preços das “commodities”, que tem repercussões inflacionárias internas e são amortizadas com o real valorizado, pudemos manter um equilíbrio da balança comercial, passando uma falsa impressão de adaptação dos exportadores a nova realidade, mas o fato é que a nossa indústria perdeu força e teve queda acentuada no comércio exterior.
Somos hoje, quase um exportador “colonial”, os nossos produtos industriais perderam grande parte do conteúdo “made in Brazil”, pois a queda foi expressiva no valor agregado onde houve invasão de componentes importados, e, perderam, também, competitividade no mercado externo face à taxa cambial deprimida.
Mas estes são problemas de fundo que sugerem que não se retarde o debate, pois se não formos a eles de forma preventiva, seguramente poderão chegar a nós todos como problema consumado.
Focando agora o cenário presente na economia global, sentimos hoje que a “pseudo-euforia” de ontem foi só um espasmo não sustentável, forçado pelos “players” no sentido de amenizar o que parece inexorável em perspectiva e que deverá, queiram ou não, provocar uma nova rodada de ajuste forte nas “bolhas” especulativas e uma evidência mais efetiva de retrocesso desapontador das economias desenvolvidas, que não estão conseguindo encontrar saída sustentável para a recuperação.
O clima na Europa claramente “azedou” de forma grave. A Comunidade não encontrou consenso para nova rodada de ajuda à Grécia, que está na iminência do “default”. Nova rodada no domingo, mas está difícil consensuar uma estratégia, já que há relevante divergência entre o BCE e países integrantes da comunidade, com destaque para a Alemanha. O BCE não deseja que setores privados sejam envolvidos no grupo de composição da ajuda para socorrer a Grécia, pois isto envolveria os bancos e poderia provocar um “tsunami” no sistema financeiro. A Alemanha, que tem um peso relevante na comunidade, pretende que os setores privados sejam participes na ajuda. E, o pior, se ocorrer um “default” o FMI terá que ficar de fora.
Depois da receptividade favorável dos indicadores retrospectivos da China, agora se acentua a visão prospectiva, e, os sinais são de desaceleração na atividade econômica e postura do governo muito atenta a inflação.
Nos Estados Unidos, preocupações se acentuando com a finalização do “QE2”, sem sinais de que possa ocorrer um “QE3”, o que sugere que papéis com preços inflados ajustem seus preços, e, com os dados econômicos perdurando ruins evidenciando que a retomada da atividade econômica é mais lenta do que o esperado, quando não com sinais de retrocesso, adicionalmente, o quadro europeu preocupante, tudo fomentando clima negativo.
A produção industrial americana expandiu-se 0,1% em maio, estável, com a atividade manufatureira crescendo 0,4% após queda em abril de 0,5%, por isso não empolga, ainda mais quando o FED NY aponta que na sua região ocorre forte deterioração da atividade manufatureira na região, passando do indicador positivo 11,88 em maio para negativo 7,79 em junho. O nível de utilização da capacidade instalada da indústria americana permaneceu em 76,7%.
O Índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos subiu 0,2% em maio, metade da taxa de abril ajustada sazonalmente, acumulando em 12 meses 3,6%. O núcleo, expurgado alimentos e energia, apontou alta de 0,3% em maio, após 0,2% em abril, acumulando em 12 meses 1,5%.
As bolsas de forma generalizada operam, exceto Japão, em baixa, com sinais de forte “sell off” nas bolsas americanas, queda forte na Bovespa. O T-Bills de 10 anos valorizam-se e fecham a curva de juro “yeld” agora em 3,07% aa. Euro em queda vale US$ 1,4297 e o petróleo esta sendo cotado a US$ 99,01 o barril na Nymex.
Como no nosso mercado de câmbio há forte posicionamento especulativo pró-real, perturbações externas consistentes com possibilidade de agravamento colocam em evidência a possibilidade de ajustes, assim reflexos intranquilizadores provocam a alta no preço do dólar, também, localmente.