Análise do Mercado – 15/10/2010

O Ministro Mantega chegou de Washington sinalizando novas medidas no câmbio, agora no mercado futuro da BM&F, destacado ontem na imprensa, e, hoje é o destaque de que medidas cambiais estão fora da mira do BCB. Este contraditório…

O Ministro Mantega chegou de Washington sinalizando novas medidas no câmbio, agora no mercado futuro da BM&F, destacado ontem na imprensa, e, hoje é o destaque de que medidas cambiais estão fora da mira do BCB.

Este contraditório tem sido permanente, portanto não se constitui fato novo.

A realidade sugere que sejam adotadas medidas na nossa área cambial de profundidade focando o estrutural e o conjuntural, porém é razoável admitir-se que há empecilhos de natureza política para alterações dantescas em final de governo e que implicariam em fortes repercussões na dinâmica dos negócios no nosso mercado de câmbio à vista e futuro, impactando fortemente nos derivativos.

Assim, se nada podem fazer parece que a decisão sinaliza que possa ser efetivamente de nada a fazer, mas isto é perigoso, pois ao transferir para o novo governo a incumbência de prover a nova formatação do nosso mercado de câmbio, poderá determinar que a mesma torne-se tardia, já que temos problemas internos relevantes que precisam ser blindadas e não menos do exterior, que miram para o Brasil como uma oportunidade de direcionamento da enorme liquidez global ávida por rentabilidade, hoje predominantemente diminuta no mundo, onde o Brasil se configura como quase única exceção.

Os dólares procurarão o Brasil e a especulação também se todas as portas permanecerem abertas, e, se o Ministro Mantega continuar anunciando que o governo comprará todos os dólares que surgirem, certamente a motivação estará fortalecida.

Ocorre que o Brasil tem reservas cambiais de US$ 280,0 Bi, não como efeito riqueza já que os fundos em moeda nacional para trocar por estes dólares representam dívida contraída e que eleva a Dívida Interna do país, já que não temos poupança fiscal para determos este volume de reservas, que acarreta um elevadíssimo custo fiscal de carregamento.

Acreditamos que somente não interrompa o acumulo das reservas cambiais pela absoluta inexistência de uma alternativa “B” para solucionar este quadro, que decorre da elevada e atípica rentabilidade que o país proporciona as aplicações de renda fixa, como consequência da necessidade de manutenção de taxa de juro elevada face à inexistência da prática de responsabilidade fiscal de maior rigor que tivesse correspondência em menor gasto público de má qualidade não direcionada a prover o crescimento econômico de sustentabilidade.

Este quadro cambial é bastante nefasto para o governo, já que ao seu término desnuda a mistura praticada de política monetária com política cambial que conduziu o real a forte apreciação, sempre atribuída ao fluxo, o que não corresponde à realidade, já que o BCB absorve todo o excedente e mais do que isto, já tendo ultrapassado este ano em US$ 13,0 Bi o volume de ingressos. Com isto, sutilmente fomenta a apreciação do real. E, além disto deixa clara a inexistência de mecanismos para reverter esta tendência que tanto fomentou para controlar a inflação, já que a formação do preço da moeda acaba por ficar à mercê dos especuladores no mercado de derivativos, que é muito aberto no país.

Esta revelação de que somos um “gigante” com “pés de barro” sugere que é preciso adotar mudanças e expõe fragilidades que não vinham sendo percebidas, já que o “euforismo” era predominante.

Contudo, entendemos que não adotar medidas fortes, mesmo com a proximidade do término do governo atual, pode ser um risco, pois as fragilidades do país podem deixá-lo em posição extremamente desvantajosa, já que não temos dúvidas que grandes economias não terão nenhum constrangimento em blindar suas moedas no curto prazo com medidas de controle.

Por isso, estamos considerando com reservas os indicativos de que o BCB não tem foco em medidas cambiais, nos parecendo que visa ganhar tempo até conhecer o resultado do 2º turno das eleições presidenciais.

Mas, algo poderia ser feito de imediato pelo BCB alterando a sua dinâmica nos leilões diários de compra, deixando de fomentar as posições vendidas dos bancos no mercado à vista, com a prática de comprar volumes além do excedente do fluxo, que induz a apreciação do real. O acumulo de reservas cambiais é injustificável quando se elevam absorvendo linhas de crédito que os bancos obtêm junto aos seus banqueiros no exterior. Se assim agir, já estará eliminando uma das vertentes que apreciam o real no país.

Martin Wolf, editor de economia do FT britânico, em matéria recente concluiu que o processo de reequilíbrio econômico tem duas dimensões.

“Primeiro, os países avançados, até recentemente perdulários e hoje ostentando déficits elevados, precisam reduzir o endividamento dos seus setores privados.

Segundo, as taxas reais de câmbio das economias com posições externas robustas precisam subir, com uma expansão na demanda interna servindo para compensar o arrasto consequente nas exportações líquidas.

Salienta, que uma política monetária agressiva da parte dos países emissores de moedas de reserva, especialmente os Estados Unidos, é parte de ambos os processos. E que, os gemidos de dor agora ouvidos em todo o mundo à medida que os mercados pressionam as moedas em relação ao dólar refletem, em parte, impacto desigual da política norte-americana. Mas refletem ainda mais a teimosia quanto a aceitar as mudanças necessárias: cada país recipiente de capital parece estar tentando desviar os ajustes indesejados para algum outro lugar.

Para expressar a situação de maneira crua, sintetizou, os Estados Unidos desejam inflacionar o restante do mundo, enquanto o restante do mundo quer deflacionar os Estados Unidos.

Sentencia então, mas os Estados Unidos devem vencer porque dispõem de munição infinita: não há limite para o volume de dólares que o FED pode criar. O que precisa ser discutido são os termos de rendição do restante do planeta: as mudanças necessárias nas taxas nominais de câmbio e nas políticas internas em todo o mundo.

Resumiu, as autoridades econômicas americanas farão o que tiver de ser feito para evitar uma deflação. O FED continuará se movendo até que os Estados Unidos estejam satisfatoriamente reflacionados. As consequências que esse esforço traria para o restante do mundo não o preocupam.

Essas consequências são evidentes: a mudança na política monetária norte-americana elevará o preço dos ativos de longo prazo e encorajará o capital a fluir para países com políticas monetárias menos expansivas (como a Suíça) ou retornos mais elevados (como as economias emergentes). É isso que esta acontecendo. “

Parece que é isto que está acontecendo, porém o Brasil foi pilhado neste quadro já de há muito misturando política monetária com política cambial para apreciar o real e utilizar esta circunstância como antídoto à inflação. Portanto, já havia colocado a sua moeda em profunda apreciação muito antes e por iniciativa própria, e agora corre o risco de ver se aprofundar este quadro e não tem instrumentos para confrontar.

O Brasil pratica uma taxa de juro absolutamente desequilibrada “vis-a-vis” a realidade global consequente do baixo rigor da responsabilidade fiscal, o que acarreta baixa e insuficiente poupança fiscal. Como consequência as reservas cambiais de US$ 280,0 Bi foram constituídas com elevação da Dívida Interna e implicam em elevadíssimo custo fiscal de carregamento, em torno de 8% a 10% aa., e portanto não é recomendável que continue sendo elevada além do necessário sem ter recursos para tanto, mas não tem alternativas de curto prazo. Tem um forte domínio do mercado derivativo sobre a formação da taxa cambial e não tem como reverter este quadro.

Enfim, o que Martin Wolf destaca parece ser o quadro tendente a ocorrer, mas no Brasil há inúmeros problemas internos estimulando especulações, que não são passiveis de correção no curtíssimo prazo, por isso o problema tende a ser bem maior.

Salvo, se o governo a tempo “blindar” o nosso mercado de câmbio à vista e futuro, com normas fortes e restritivas e aumentar a tributação sobre o capital especulativo externo, equalizando a nossa taxa de juro líquida, ao que deveria ser e não temos condições de fazer neste momento.

Flutuante sem blindar as atipicidades do país, é inconcebível.

 

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