Análise do Mercado – 18/10/2010

“Nunca antes neste país” se falou tanto de câmbio e política cambial, com ênfase ao tema apreciação excessiva do real ante o dólar. Até parece que o fato do real estar apreciado seja um fato novo, e, com isto busca-se atribuir toda a causa aos Estados…

“Nunca antes neste país” se falou tanto de câmbio e política cambial, com ênfase ao tema apreciação excessiva do real ante o dólar.

Até parece que o fato do real estar apreciado seja um fato novo, e, com isto busca-se atribuir toda a causa aos Estados Unidos e a sua “quantitative easing” focando a recuperação de sua economia.

Quando o Ministro Mantega fala com ênfase do tema, por vezes nos leva a acreditar que não sabia que apreciar o real para controlar a inflação tem sido a estratégia do BC através sutis induções operacionais desde há muito tempo.

Ou seria só uma forma de debitar ao cenário externo, que de fato ainda não descarregou por aqui tudo que pode em dólares e que sugere que o que está por vir, ai sim, será bem pior?

O fato concreto é que o Brasil foi pilhado praticando fortemente a indução da apreciação da sua moeda, o real, mesclando política monetária com política cambial, como antídoto as pressões inflacionárias e assim já tinha colocado o preço da moeda americana no “fundo do poço” bem antes da arguta identificação de uma “guerra cambial”.

Então, com o real extremamente apreciado por vontade e interesse próprio e sem estratégias ou instrumentos que viabilizem a retirada do preço da moeda americana do dito “fundo do poço”, foi surpreendido por um movimento até certo ponto presumível, mencionado em nossos comentários bem antes que ocorresse como a porta para a saída da crise das grandes economias, já que umas não tinham mercado interno efetivamente e outras apresentavam forte fragilização face à crise econômica.

Por vezes fizemos menção de que “todos querem vender mais e comprar menos” e salientamos que esta equação não fecha.

O sistema de câmbio flutuante por si só já promove os ajustes paritários entre as moedas dos países desenvolvidos, que podem ser turbinados com o afrouxamento monetário, que vem sendo denominado como “quantitative easing”.

Neste jogo, os Estados Unidos parece que não está nada preocupado com as demais economias, todas as medidas têm foco na recuperação de sua economia e como tem a moeda de referência mundial que só ele pode emitir, certamente vai afrouxar sua política monetária até onde for necessário.

Quem ficou rica efetivamente e deveria ser a alternativa, a economia chinesa é fortemente protegida por seu governo que não quer ver seus interesses prejudicados, assim “com mão de ferro” estabelece o seu câmbio e, tem a vantagem de possuir reservas cambiais de efeito riqueza da ordem de US$ 2,65 Tri, construída com a poupança a nível de 45% do PIB, a custo de não transferir os benefícios da riqueza à sua população.

A Europa e o Japão tem suas moedas apreciadas em relação ao dólar e entre si por denotarem estar menos ruins do que os Estados Unidos.

Sobra então o nosso Brasil varonil, com as suas reservas de US$ 280,0 Bi, tendo em contrapartida não riqueza mas sim aumento da Dívida Interna Pública, construídas com o intuito de fazer o país merecedor do “investment grade”, lembram-se?, mas que ficou grande demais e pode ser utilizada como forte escudo do país na crise internacional iniciada em 2008 e que agora, segundo as autoridades, é necessária até maior para enfrentar a “guerra cambial”.

O jornal Valor em sua edição de hoje enaltece que o real apreciado reduz dívidas e melhora balanços das empresas. É verdade, mais é preciso considerar que a apreciação custa variação cambial negativa ao Tesouro Nacional, não quantificado pois não se conhece o preço médio dos dólares das nossas reservas na origem, que se somam aos extraordinários R$ 45,0 Bi, anual de custo de carregamento equivalente a 1,5% do PIB e que supera o total de investimentos públicos previstos para 2010.

Voltamos à roda viva, os lucros são privatizados e os prejuízos socializados.

Como “parecemos” ser um emergente rico, as economias desenvolvidas desejam que assumamos parte do ônus, mas na realidade somente “aparentamos” ser ricos (lembram-se da história do amigo da City londrina falando da Mercedes Benz?).

Então urge que fechemos as portas e janelas que são enormes no Brasil, que oferta para o mundo a emblemática e incomparável taxa de juro de 10,75% aa., que nesta semana deverá ser mantida na reunião do COPOM e anunciada pós-mercado na quarta-feira.

O BC continua na sua linha pró-apreciação do real, retirando do mercado à vista mais dólares do que o fluxo permite e com isto estimulando a manutenção e crescimento das posições “vendidas” dos bancos. Isto vai na contramão do discurso e aparente empenho do Ministro Mantega. Pela unidade de propósitos seria de toda conveniência que o BC interrompesse suas intervenções até que os bancos cobrissem com divisas suas posições vendidas atuais, estimadas em US$ 13,0 Bi e não voltasse a operar além do excedente.

O Ministro Mantega parece, agora, na direção certa de realizar um aperto normativo e regulatório dificultando a especulação no mercado futuro e de derivativos da BM&F. Um aperto no percentual de exposição dos bancos nas transações com variação cambial também seria benéfico.

Se desejar ser mais efetivo, complementarmente pode elevar o IOF e impor IR aos investidores estrangeiros, nos parece menos negativo do que impor quarentenas, etc. que sempre sinalizam possível iliquidez imediata aos investidores, que não é o caso brasileiro.

O grande ponto de dúvida é se o governo, em término de mandato, teria o destemor de impor medidas duras e profundas ao mercado de derivativos, em especial e renda fixa, ou se virá somente com outras medidas “cosméticas” de baixo impacto e que não serão capazes de mudar “a direção dos ventos”. Isto provocou um “stop” na apreciação do real neste momento.

Abordamos também anteriormente que os países deveriam intensificar a blindagem de suas moedas, e isto, já está presente com inúmeras iniciativas neste sentido.

O Boletim FOCUS ao divulgar a projeção do preço do dólar para o final do ano para R$ 1,70 pelo mercado, reduzindo-a de R$ 1,75, deixa evidente que as instituições financeiras ouvidas não estão considerando medidas fortes por parte do governo a ponto de alterar o “status quo” e a sua perspectiva de piora.

 

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