O fluxo cambial até o dia 8, divulgado ontem pelo BCB, revela um saldo positivo de US$ 2,181 Bi no período, resultado de um déficit no fluxo comercial de US$ 1,084 Bi e um superávit de US$ 3,265 no fluxo financeiro. No período o BCB retirou do…
O fluxo cambial até o dia 8, divulgado ontem pelo BCB, revela um saldo positivo de US$ 2,181 Bi no período, resultado de um déficit no fluxo comercial de US$ 1,084 Bi e um superávit de US$ 3,265 no fluxo financeiro.
No período o BCB retirou do mercado à vista através seus leilões de compra diários o montante de US$ 2,764 Bi, mantendo portanto a sua dinâmica de comprar mais do que o excedente do fluxo, elevando desta forma o montante das posições “vendidas” dos bancos de US$ 12,4 Bi na virada do mês de setembro para US$ 13,01 Bi.
Os números evidenciam que perdura o contraditório entre as preocupações públicas do Ministério da Fazenda em relação à apreciação excessiva do real e as atitudes intervencionistas do BCB no mercado à vista que são indutoras a maior apreciação.
O efeito do novo IOF, contrariando colocações feitas pela mídia hoje, não encontram nos números a confirmação de que tenha despencado o ingresso de recursos financeiros para o país.
No período até 8 houve ingressos de US$ 11,037 Bi e saídas de US$ 7,772 Bi com um saldo positivo de US$ 3,265 Bi. Na semana de 4 a 8 os ingressos atingiram US$ 8,432 Bi ante saídas de US$ 6,483 Bi ficando um saldo positivo de US$ 1,949 Bi e no período pós IOF de 4%, de 5 a 8, os ingressos representaram US$ 6,531 Bi e as saídas US$ 5,358 Bi com um saldo de US$ 1,174 Bi, ou seja US$ 293,0 MM/dia. Evidentemente, devemos considerar, ainda, que ocorreu antecipação de ingressos já que a elevação da alíquota do IOF era dada como “favas contadas”.
Contudo, como já ressaltamos anteriormente, espera-se repercussão no fluxo especulativo de curto prazo, já que torna nulo o rendimento da renda fixa até 137 dias e a reduz bruscamente neutralizando o atrativo da montagem do “carry trade”. Mas de toda forma, não esperamos repercussões maiores na formação do preço da moeda americana, até porque, a rigor, não é o fluxo que aprecia o real no Brasil, já que o BCB retira a totalidade do excedente, e ao ir além do excedente, como habitual, se constitui um dos indutores da apreciação do real.
As medidas adotadas até o momento pelo governo brasileiro, em especial pelo Ministério da Fazenda, não tem alcance que possa afetar a apreciação do real. Aliás, o IOF, como salientamos, é inócuo no seu propósito enquanto foca a apreciação do real, mas as outras duas, compras do mercado à vista pelo FSB e pelo TN são fortemente indutoras a mais apreciação do real.
O câmbio, a formação do seu preço, num ambiente que se propõe flutuante mas é deformado por inúmeras intervenções do governo e que tem um mercado futuro que absorve grande parte das transações que deveriam estar no mercado de câmbio de balcão e não estão por disposição legal, é altamente complexo dada a imensidade de vertentes que influenciam e se sobrepõe aos conceitos simplistas de oferta e procura. Esta é a parte que a grande maioria não vê, quando resume tudo ao fluxo de recursos para o país, fazendo vistas grossas que neste país o real se aprecia mesmo quando o fluxo de recursos é negativo.
O mercado de câmbio está à mercê de inúmeras vertentes puramente especulativas e que são fomentadas pelas fragilidades do país, como juro elevado, gastos governamentais excessivos que resulta em falta de poupança fiscal, etc. Que só poderão ser corrigidas com políticas de elevada responsabilidade fiscal de médio e longo prazo.
Mas as vertentes puramente especulativas comandam o rito da formação do preço da moeda americana no país, dada também a excessiva liberdade concedida ao mercado de derivativos.
O Ministro Mantega retornou de Washington apontando para medidas no mercado de derivativos, a direção parece certa agora, mas é necessário saber se há ambiente político que permita que seja duro como precisaria ser na intervenção, pois se for “cosmético” será somente mais uma ação inócua.
No mercado futuro, os bancos estão comprados tanto no cupom cambial-DDI quanto no futuro de dólar, US$ 3,96 Bi e US$ 10,89 Bi respectivamente, totalizando US$ 14,85 Bi, o que os deixa “hedge” pois estão vendidos no mercado à vista, data base 8, US$ 13,01 Bi. Por outro lado, os “hedge funds” estão vendidos tanto no cupom cambial-DDI quanto no futuro de dólar, US$ 5,16 Bi e US$ 9,89 Bi respectivamente, totalizando US$ 15,05 Bi.
Bancos estão protegidos e tudo indica mantendo expectativa sobre o que o governo poderá determinar em relação ao câmbio, enquanto os “hedge funds” estão apostando na continuidade da apreciação do real, por isso clamam para que o BCB utilize os “swaps cambiais reversos”, teoricamente “compra” do BCB mas na prática detonador da intensificação da apreciação do real, e parecem não acreditar que o governo em fim de mandato possa vir a tomar medidas duras e intervencionistas no mercado de câmbio à vista e no futuro que possa lhes prejudicar.
Ontem, colocamos como tendência a adoção pelos países de políticas defensivas individuais para conter os efeitos do sistema de câmbio flutuante prevalecente nas economias desenvolvidas, inclusive no Brasil que não é uma economia desenvolvida mas que age como se fosse, e que provoca desequilíbrios paritários das moedas com efeito sobre os preços relativos e assim potencializa uns e fragiliza outros no comércio exterior.
Hoje já se observa novos atores no cenário que envolvia Estados Unidos e China, agregando-se o Japão, a Coréia do Sul, Cingapura, e assim tende a evoluir o foco dos demais países no sentido de blindarem suas economias e manterem-se competitivos.
Certamente, todos blindados e com a desordem cambial será inevitável que concordem em sentar-se à mesa, mas já há indícios que querem deixar a conta deste desarranjo para os emergentes bem sucedidos. E quando olhamos, parece que o Brasil ficou sozinho, pois a China não deverá reverter a sua blindagem tanto quanto desejável e outros emergentes não proporcionam as oportunidades de rentabilidade e especulação que é proporcionada pelo Brasil.
A ONU manifestou-se apontando que este estado de coisas ameaça a recuperação do investimento, e, já temos mencionado inúmeras vezes que o real excessivamente apreciado inibe o investimento produtivo, aquele de qualidade e desejável pelo país.
Há caminhos que precisam ser seguidos pelo Brasil neste momento para não ser a vítima de todo este cenário de disputa. E o tempo também é nosso inimigo, por isso urge que adote medidas realmente eficazes e não “cosméticas”
Pode renunciar ao sistema cambial flutuante e criar um hibrido com características defensivas, resolvendo o problema com um “tiro só” ou adotar medidas de extremo rigor no mercado de derivativos a ponto de inviabilizar a especulação, com destemor e o BCB deixar de fomentar posições vendidas pelos bancos, comprando somente o excedente do fluxo ou pouco menos.