Análise do Mercado – 14/09/2011

Poderíamos ousar e afirmar que o Banco Central do Brasil, com “profissionais da casa”, acertou ao contrariar os “princípios consagrados” pelo Banco Central do Brasil, como destacado pelos analistas críticos da última decisão…

Poderíamos ousar e afirmar que o Banco Central do Brasil, com “profissionais da casa”, acertou ao contrariar os “princípios consagrados” pelo Banco Central do Brasil, como destacado pelos analistas críticos da última decisão do COPOM, ao tempo em que era integrado por “profissionais do mercado”.

É possível que o Banco Central do Brasil tenha uma visão mais rigorosa sobre os efeitos da crise sobre a dinâmica da nossa atividade econômica, embora não a declare por razões óbvias. Não é difícil perceber que esta nova fase da crise é grave e pode tornar-se pior do que em 2008. Na essência é a continuação da crise iniciada em 2008, e agora está concentrada nas dívidas soberanas dos países que encontram dificuldades em administrá-las e refinanciá-las e que foram causadas pela ajuda emprestada pelos governos ao sistema bancário em estado pré-falimentar ao início de 2008 e a tentativa de estimular a atividade econômica. Mudou o ponto da fragilidade maior, mas o pior é que o receituário praticado não proporcionou o soerguimento das economias afetadas pela fase primeira da crise, e as opções de ações estão muito restritas.

Na segunda-feira, já houve organismo internacional (OCDE) que mencionou o Brasil como a economia em maior intensidade de desaceleração.

Há alternativas mais escassas no cenário atual, e, os países ditos emergentes já não estão tão vigorosos quanto em 2008, pois o “sucesso” da ultrapassagem brilhante do primeiro período crítico da crise deixou uma necessidade absoluta de desaceleração para “colocação da casa em ordem”, pois a expansão fortemente estimulada deixou como herança pressão inflacionária intensa.

A sinalização de que os BRIC´s podem ajudar a Europa nos parece tão somente uma oportuna postura política. A China tem elevadas reservas e pode expor-se mais a riscos visando conquistar mais mercados para seus produtos como troca. Os demais, nem tanto. Em tempo de “salve-se quem puder” não cabem benesses que devem ficar por conta dos organismos apropriados.

O Brasil tem, tecnicamente, fontes alternativas para geração de crédito internamente, como já ocorreu ao início da crise, no caso de retração externa, mas, seguramente, a propensão ao consumo atual é bem inferior ao daquela oportunidade, o que pode não levar o consumo interno a repetir a mesma performance pela queda da demanda reprimida no cenário atual e pelo retorno da inflação, puxada pelos alimentos, fato rapidamente perceptível aos consumidores.

O Brasil não deve contar com fluxos de capitais para IED´s aquecidos e aplicações em renda fixa e/ou variável. Os IED´s projetados tenderão a ser revistos em suas projeções para menor, assim como deverá ter saída efetiva de investidores em renda fixa e/ou variável, e, na mesma linha, deverá ocorrer a intensificação das remessas de dividendos, juros s/capital, lucros, etc. Deveremos ter repercussões no déficit em transações correntes.

Investidores de forma generalizada tendem a optar por liquidez e aplicações que consideram mais seguras, relegando a plano secundário a rentabilidade.

Num ambiente de economias “decadentes” no exterior, nossas possibilidades de reativar a indústria exportadora não agrícola são pequenas, mesmo que com incentivos temporários concedidos pelo governo que normalmente já seriam inócuos, pois exportação precisa de planejamento de longo prazo.

O PIB poderá ter que ser revisto para algo em torno de 3% e não se deve descartar uma SELIC a 10,5%, afinal reduzir o custeio da dívida compensa queda de arrecadação com a perda de atividade econômica.

O emprego tenderá a perder dinamismo, podendo surgir sinais iniciais de desemprego localizado. Em perspectiva pode ser que a preparação estrutural do país para a copa do mundo e olimpíadas amenize os impactos.

Não se pode desconsiderar que as “commodities” sucumbirão à resistência e terão os preços deprimidos, como consequência natural.

O Banco Central do Brasil pode não ter enunciado nada disto, mas ao comportar-se se colocando “à frente da curva”, certamente não deve estar atenuando as repercussões possíveis da crise no país.

A Europa convive com um forte desordenamento progressivo das economias dos países que a integram, prospera a desconfiança, e, os países integrantes da zona do euro sentem que sua moeda está em risco de continuidade, assim como a própria união dos mesmos. Provavelmente só a Alemanha tenha capacidade de resistir, mas mesmo assim sua economia praticamente parou de crescer no 2º trimestre. França tem os bancos comprometidos (Credit Agricóle e Societé Generale foram rebaixados hoje) pela alavancagem com títulos da Grécia, candidatíssima a um “default”, e todos demais, em escala maior ou menor tem problemas relevantes.

Os Estados Unidos não conseguem encontrar saída para o seu quadro que coloca em perspectiva uma possível recessão. Bancos entesourados por recursos do FED não os transformaram em crédito e reaplicaram no próprio FED e empresas com recursos não investem para aumento da oferta face à retração do consumo. Este quadro inibe a recuperação do emprego e da renda.

Dados oficiais indicam desemprego em 9% nos Estados Unidos, mas se for considerado o predominante subemprego, este número pode chegar a 20%. A pobreza aumentou a níveis não vistos desde 1993, agora são 46,2 M de americanos equivalentes a 15,1% da população.

O plano do Presidente Obama de manter a redução de impostos já demonstrou que não induz ao consumo, com a sociedade americana aumentando a poupança ou pagando dívidas. Por outro, o objetivo de aumentar os investimentos em infraestrutura para gerar empregos, pode beneficiar substantivamente os imigrantes que trabalham no “pesado”, com os americanos natos continuando a optar pelo “seguro desemprego”.

O Japão “patina” desde muito e tem conseguido andar para trás.

Não é lógico imaginar que a China, cujo consumo interno representa tão somente 35% do seu PIB, seja a “salvadora” da crise global, pois sendo uma grande processadora de insumos que transforma em produtos acabados, naturalmente, repercutirá a retração da demanda mundial.

Aos países que necessitam de recursos está difícil encontrar financiadores não desconfiados e aos investidores está difícil opção de identificação onde está o menor risco.

Conclusão, os mercados ficam sem rumo, já que sobram incertezas e praticamente não há certezas, salvo de que o quadro global é grave. Volatilidade constante e falta de fundamentos críveis para os movimentos dos mercados devem continuar predominando.

Mas, continuarmos com a percepção de que o real não tem motivos para ser especulado nem para o bem e nem para o mal, não é bom como reserva de valor por isso não deve ter demanda especulativa e da mesma forma não é conveniente apostar contra, pois temos reservas suficientes para defendê-lo.

O movimento atual de alta, no nosso entender, é pontual, se bem que pode ser um pouco duradouro, pois afora o movimento de saída de recursos, temos em perspectiva a necessidade dos “hedge funds” desarmarem suas posições vendidas líquidas em “cupom cambial-DDI” da ordem de US$ 14,0 Bi, o que deve provocar pressão de alta no preço do dólar.

Superado este momento e o ajuste de posições dos “hedge funds”, acreditamos que a moeda americana tenda a ficar no entorno de R$ 1,60, ou discretamente um pouco acima, repercutindo diretamente os fluxos dentro do conceito flutuante, porém sem a presença dos movimentos especulativos.

A crise vai afetar o Brasil, mas o marcador da intensidade não será no preço da moeda americana. Os tempos são outros!

 

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